segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Liberdade - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 8

Para estar em plena liberdade, precisamos nos soltar, fluir pelos ritmos da vida. Muitas vezes, é no "ato de perder" que encontramos a razão da própria existência.

A liberdade é, na ciência, a experimentação e o raciocínio; na filosofia, o bom senso e a sensatez; na religião, o discernimento e a naturalidade; na arte, a originalidade e a inspiração; na sociedade, a igualdade e a solidariedade.

O estado de liberdade da criatura é proporcional ao seu grau de amadurecimento espiritual.

O indivíduo liberto, mais que ideias ou ideais, escolhe os autênticos valores da alma, porque reconhece que estes orientam sua vida com lucidez, discernimento e ânimo. Possui uma excelente sociabilidade, produto de sua maturidade interior, manifestada na família, no trabalho, nos grupos de amizade e de atividade religiosa; enfim, em todos os setores de sua vida comunitária.

Considera e valoriza as orientações ou sugestões dos outros (cônjuges, pais, filhos, amigos, educadores, companheiros, etc.), porque acredita que eles podem iluminar suas opções existenciais, mas nem por isso perde a autonomia de agir e pensar livremente. Sempre pondera e nunca julga de modo precipitado as experiências alheias; antes as observa e as confronta com as suas e, por fim, as assimila ou as rechaça total ou parcialmente.

Quem é livre desfruta uma atmosfera fluídica que facilita um progressivo desenvolvimento espiritual.

Não se considera indefeso, mas sim companheiro de viagem de outros seres humanos, pois sabe que a qualquer momento poderá refazer as cláusulas do "contrato" de sua existência.

Allan Kardec indagou em O Livro dos Espíritos: "O homem tem o livre-arbítrio dos seus atos?" (1); e "O homem goza do livre-arbítrio desde o seu nascimento?" (2)E os informantes da Vida Maior deram respectivamente os seguintes esclarecimentos: " Visto que ele tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem livre-arbítrio o homem seria uma máquina"; e "Há liberdade de agir desde que haja liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com as faculdades".

Ao longo da História, a liberdade de expressão sempre foi e será a condição essencial encontrada na estrutura psicológica de todos os homens sábios e livres. Esses indivíduos aliaram o livre-arbítrio à reflexão, a fim de escolherem decisões, palavras ou atos que não ultrapassassem os seus direitos ou os dos outros.

Uma das maiores batalhas que temos que enfrentar é a de abrir mão da compulsão de estar constantemente desconfiando de tudo e de todos. 

Para estar em plena liberdade, precisamos nos soltar, fluir pelos ritmos da vida. Muitas vezes, é no "ato de perder" que encontramos a razão da própria existência.

No exercício do livre-arbítrio, será sempre bem-vinda a legitimidade da inquirição ou indagação, pois a "dúvida saudável" mantém nossa casa mental na prática constante da atividade intelectual ativa e criativa, enquanto a "certeza absoluta" pode nos levar a atitudes atrevidas e insolentes.

A circunspecção - atitude de quem olha cuidadosamente todos os aspectos por que se apresenta uma questão ou fato - deve vir sempre acompanhada de prudência e ponderação. Existe uma enorme diferença entre "circunspecção" e "receio incoerente"; entre "incredulidade patológica" e "suspeita lógica".

O verbo "suspeitar" provém do latim suspectare, que tem como variável suspicere, que significa "olhar o lado de baixo" ou "olhar por baixo". O que vive em suspeita, ao contrário do livre, não está olhando a realidade das coisas, mas supondo o que possa existir por detrás dos fatos, acontecimentos e atitudes das pessoas. O desconfiado compulsivo está sempre preocupado em não ser enganado ou roubado, enquanto o liberto sabe que nada nem ninguém podem extinguir ou se apropriar de suas conquistas pessoais.

Os indivíduos que alcançaram o estado de liberdade vivem no equilíbrio, porquanto não acreditam em tudo, nem desconfiam de tudo. Fazem parte do rol das criaturas centradas: diferenciam o que existe de real e verdadeiro, e não ficam imaginando males ilusórios ou sem fundamento.

1. Questão 843 - O homem tem o livre-arbítrio dos seus atos? "Visto que ele tem a liberdade de pensar, tem a de agir. Sem livre-arbítrio o homem seria uma máquina."

2. Questão 844 - O homem goza do livre-arbítrio desde o seu nascimento? "Há liberdade de agir desde que haja liberdade de fazer. Nos primeiros tempos da vida a liberdade é quase nula; ela se desenvolve e muda de objeto com as faculdades. A criança, tendo pensamentos relacionados com as necessidades de sua idade, aplica seu livre-arbítrio às coisas que lhe são necessárias."

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Liberdade - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 8

A liberdade, como todas as demais conquistas da alma, só será alcançada verdadeiramente se for compartilhada com os outros.

François Marie Arouet, dito Voltaire, poeta e escritor francês do século XVIII, escreveu: "O prazer pela liberdade aumenta à medida que dela se desfruta". O Criador, que nos concedeu a vida, deu-nos ao mesmo tempo a liberdade. O que levou Paulo de Tarso a proclamar: "É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão." (1)

A rigidez mental é uma das formas mais corriqueiras de atrair o sofrimento. Mudança é um mecanismo espiritual através do qual Deus assegura a evolução. Quem não evolui fica paralisado, desenvolvendo um verdadeiro entorpecimento interior.

Para transformarmos a vida para melhor, temos que começar a nos mudar por dentro. E, para tanto, precisamos inicialmente desfazer os diversos conceitos equivocados que nos foram transmitidos de forma não-intencional pelos nossos pais, avós, amigos, professores, ou até mesmo pela literatura de diversas correntes de pensamento - científico, filosófico e religioso. Talvez estejamos tão rijos intimamente que sentiremos dificuldade em dar os primeiros passos rumo à liberdade, mas, com determinação e com o passar do tempo, tomaremos consciência cada vez mais de como é agradável e realizadora a mudança interior; aí tudo se tornará mais fácil.

Quando nos desfazemos das crenças inadequadas, morre em nós tudo aquilo que é velho, e passamos a reformular ou remodelar novos caminhos, dinamizando a casa mental e ampliando o universo pessoal.

Quer aceitemos ou não, o mundo está progredindo. A Natureza está em constante evolução, por isso temos necessidade de fazer uma constante auto-observação dos nossos valores, ideias e crenças.

Existem muitas pessoas que dizem: "Meus pais sempre pensaram e agiram dessa forma, portanto eu também penso e ajo igualmente". Outros afirmam: "Minha família sempre abraçou esses conceitos; ora, por que eu haveria de trocá-los?"

É óbvio que nós não estamos aqui querendo induzir as criaturas a desprezar as memórias, os ensinos ou as experiências familiares, mas é preciso que entendamos que o mundo progride e, em decorrência disso, muitas coisas se modificam em nossa existência. Queiramos ou não, a mudança gera sempre um desafio existencial.

Mesmo que optemos por ficar estagnados à margem da estrada, isso de nada nos adianta, porque a vida está em constante movimentação, nos impulsionando de maneira natural e invariável. Ainda que não vejamos o avanço e o  desenvolvimento fluírem no momento presente, ainda assim estaremos todos marchando sob o influxo da divina lei do progresso.

Kardec, o sistematizador dos ensinos espíritas, questiona as Entidades Benevolentes: "Não há homens que entravam o progresso de boa-fé, crendo favorecê-lo porque o veem do seu ponto de vista e, frequentemente, onde ele não está?" E os Benfeitores, sob a direção do Espírito de Verdade, respondem: "Pequena pedra colocada sob a roda de uma grande viatura e que não a impede de avançar." (2)

O professor Rivail comenta na questão 781 de O Livro dos Espíritos que: "O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não sufocar".

Lutar contra o curso da evolução é como querer segurar com as mãos as ondas do mar. A paralisação existencial dificulta a liberdade e gera tristeza. A rotina produz angústia e depressão, por isso todos somos convidados a nos reformular emocionalmente e a procurar novos conhecimentos filosóficos, religiosos e científicos, para que possamos manter nosso equilíbrio existencial.

Será que o que nós temos como verdade é a verdade mesmo? Estamos nos sentindo bem? Estamos realmente animados e felizes? De repente podemos estar presos a determinados contextos e ainda não nos apercebemos de que precisamos modificar nosso modo de ver a vida. Necessitamos livrar-nos de hábitos antigos e indesejáveis, que são a causa principal do desconforto em que vivemos.

A lei do progresso é universal, mas age de forma individual em cada um de nós. Se alguns progridem mais rapidamente do que outros é porque estão desfrutando uma nova visão, estão desenvolvendo uma imagem positiva de si mesmos e das demais pessoas. Com isso, conseguem desatar as algemas que os deixam chumbados ao "solo da mesmice".

A vida é um processo maravilhosamente ilimitado; entretanto, ainda há — e não são poucos - os que enxergam a existência de forma afunilada, como se estivessem vivendo na época de Moisés ou na Idade Média. É preciso que nos ajustemos às descobertas da ciência, pois ela está inteiramente interligada com a religião. Tudo vem de Deus, inclusive o mundo científico.

Liberdade é um direito natural, faz parte de nossa herança divina, e, para crescermos, devemos usá-la sempre que necessário. Eis algumas perguntas que podemos fazer a nós mesmos para identificarmos nossas crenças e valores, positivos ou não, e como eles afetam a nossa vida diária:

• Qual o grau de influência da opinião alheia sobre meus atos e atitudes?

• Quais crenças cooperam para meu bem-estar interior?

• O que me dificulta ter suficiente autonomia para tomar minhas próprias decisões? 

• O que me impede de desfrutar uma vida plena?

• Por que costumo fingir para agradar aos outros?

• Qual a razão de manter minha reputação alicerçada em um modelo exemplar?

• Meus conceitos facilitam autoconfiança?

Na realidade, o livre-arbítrio - liberdade de agir e de pensar - nos concede o poder de mudar nossas ideias, nossos modelos, concepções ou pensamentos, e de optar por crenças mais apropriadas ou favoráveis ao desenvolvimento de uma nova concepção do universo interior e exterior.

A liberdade, como todas as demais conquistas da alma, só será alcançada verdadeiramente se for compartilhada com os outros.

1. Gálatas, 5:1

2. Questão 782 - Não há homens que entravam o progresso de boa-fé, crendo favorecê-lo porque o veem do seu ponto de vista e, frequentemente, onde ele não está?

"Pequena pedra colocada sob a roda de uma grande viatura e que não a impede de avançar."

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Respeito - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 7

Num futuro breve, quando a mulher se legitimar pelo que é e por onde quer chegar, adquirirá o respeito - dos outros e de si mesma.

A medida que a criança cresce e se desenvolve no convívio familiar, ela reproduz ou copia tudo o que vê, ouve e observa. Os adultos servem de padrões, quer dizer, são modelos e exemplos. Por meio da identificação com os pais, tios, avós ou irmãos mais velhos, ou mesmo da imitação de seus atos e atitudes, a criança, de forma consciente ou inconsciente, modela-se firmemente no ambiente doméstico.

Socialização é o processo de adaptação do indivíduo ao grupo social; é o desenvolvimento das relações na vida grupal, caracterizado pelo espírito de coletividade e pelo sentimento de cooperação e solidariedade.

Particularmente na criança, a socialização se inicia a partir do momento em que o recém-nascido é conduzido para casa pelos pais. No entanto, não devemos esquecer que, desde a sua concepção, a alma, já ligada ao diminuto embrião humano, sofre forte influência do ambiente em que vive.

De acordo com Jean Piaget, cada criança, na fase da "socialização doméstica", assimila e modela tudo o que a sensibiliza de acordo com sua individualidade — utilizando sua personalidade única e peculiar, o que irá distingui-la de todas as outras pessoas. Acontecimentos caseiros, atos e opiniões dos adultos, considerações sobre ética, religião, costumes, moral e filosofia, proibições e preconceitos, permissões e intolerâncias, tudo vai-se modelando na "argila plástica", que é a mentalidade infantil, e delineando a criança dentro de preceitos, regras de conduta e de princípios que variam culturalmente, de família para família, e interiormente, de criança para criança. Mesmo nos gêmeos idênticos, o desenvolvimento psicossocial ocorrerá de forma diferenciada devido à bagagem espiritual que cada alma traz consigo - produto de suas vidas sucessivas.

Consulta Kardec a Espiritualidade Maior, na terceira parte, capítulo IX, de O Livro dos Espíritos: "De onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países?" E os Obreiros do Bem respondem: "Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito." (1)

A formação machista que as crianças recebem na infância as influencia durante toda a vida. Homens são treinados para ser fortes, corajosos, agressivos, seguros, bem-sucedidos e autossuficientes. Para os estudiosos do comportamento humano, o "estereótipo do macho" iniciou-se nas eras pré-históricas, quando os nossos antepassados do sexo masculino tiveram que abandonar o medo e disputar a comida com os animais.

Machismo é um conjunto de normas, costumes, leis e atitudes baseado em regras socioculturais do homem, que tem por finalidade explícita e/ou implícita criar e manter a submissão da mulher em todos os níveis: afetivo, sexual, procriativo, profissional.

Quando a mulher, nos seus mais diversos relacionamentos, romper com essa visão de que deve ser submissa, reclusa, frágil e dependente do homem, ela recuperará toda a estrutura de poder e o senso de iniciativa.

A "guerra dos sexos", na maioria das vezes, tenta impor, com ou sem armas, a supremacia do homem sobre a mulher por meio da violência, clara ou dissimulada, salvaguardando interesses falocratas de mentalidades medievais.

O machista atua como tal, sem poder explicar seus atos ou perceber suas atitudes externas, porque não se dá conta das estruturas preconceituosas que internalizou nesta ou em outras existências. Ele se limita apenas a reproduzir ou pôr em prática tudo aquilo que viveu culturalmente no lar, na escola, no templo religioso, na cidade, no país, enfim em qualquer lugar ou situação que o tenha influenciado.

Muitas mulheres, de forma inconsciente, compartilham do machismo na medida em que não notam as estruturas psicológicas de "hegemonia masculina" que regulam suas relações afetivas e sociais. E podem reproduzi-las, sem perceber, na educação dos filhos, sejam eles homens ou mulheres, contribuindo dessa forma para que a ideia machista se perpetue automaticamente.

São muitos os provérbios humilhantes e os insultos irônicos endereçados às mulheres, estes acompanhados de risos sarcásticos e depreciativos. O "sexismo" - atitude de discriminação fundamentada no sexo - leva mulheres ingênuas, inseguras e dependentes a aceitar essas críticas mordazes como naturais, porquanto o modelo de educação em que organizaram seu mundo íntimo baseou-se nesses valores e crenças distorcidos.

A mulher precisa descobrir que não depende de ninguém para viver a própria existência, pois tem dentro de si uma extraordinária capacidade de fazer mudanças positivas. Ela, como o homem, tem um mundo diante de si, e todos podem crescer até onde permite sua capacidade, seu dom, seu talento nato. Todos nós estamos em constante mutação e nos transformamos todo o tempo nos aspectos físico, mental, emocional e espiritual. Nada na Natureza permanece estático; tudo flui através dos processos da vida, dentro e em torno de nós.

Em muitas ocasiões, a mulher, em vez de reverter a situação desgostosa em que vive, tenta mudar de forma superficial, apenas substituindo o cônjuge por outro, mas sem renovar seu modo de sentir, pensar e agir. Como não se preocupa em erradicar os velhos padrões ou crenças inadequados de seu mundo interior, corre o risco de atrair outro parceiro igual ou muito parecido com o que acaba de deixar. A lei de atração perpetua tanto alegria como tristeza para nossas vidas.

Não devemos jamais deixar que uma empresa, associação ou ligação afetiva, profissional ou de amizade, venha eclipsar nossa vida a ponto de desrespeitarmos quem somos.

Neste novo milênio, cabe à mulher recuperar sua dignidade e o respeito por si mesma. Descobrir, verdadeiramente, que o respeito anda de mãos dadas com a autoestima e o bem-estar. Deve iniciar o processo - que muitas já o fizeram - de valorizar suas forças individuais e únicas, usando a energia interior para descobrir capacidades inatas e novos talentos adormecidos.

Constituições modernas já estabeleceram, há muito tempo, leis e direitos que firmam a igualdade entre os sexos. No entanto, essas leis e direitos só terão valor e significado quando forem totalmente assimilados e colocados em prática por todos aqueles que os validaram.

É possível que determinadas pessoas discordem e não aceitem nossas ponderações, mas nem por isso tudo está perdido. A diversidade de opinião e a forma de olhar o mundo dependem da singularidade evolutiva de cada criatura.

O equilíbrio vai sendo pouco a pouco atingido. A visão machista gradativamente se desfaz, nascendo em seu lugar a amizade, o respeito e a cooperação entre seres humanos. Na estrutura social do porvir, pouco importará o sexo do indivíduo, pois todos serão igualmente valorizados e jamais oprimidos.

Num futuro breve, quando a mulher se legitimar pelo que é e por onde quer chegar, adquirirá o respeito - dos outros e de si mesma. Acreditar que alguém exista só para nos servir é uma visão egocêntrica e degradante da atual humanidade. Enquadrar pessoas em papéis sexuais nitidamente definidos - subserviência, inferioridade, subordinação -, usando-as como objetos que podem ser controlados e descartados, é imensamente cruel e impiedoso. O amor cristão não considera os papéis sexuais, e sim encoraja todos os seres a exprimir a liberdade, o respeito e o amor uns pelos outros.

1. Questão 818 - De onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países?

"Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito."

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Respeito - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 7

Somente optando pelo autorrespeito é que conseguiremos o respeito alheio. Encontraremos nos outros a mesma dignidade que damos a nós mesmos.

De que maneira as pessoas nos tratam? Sentimo-nos constantemente usados ou desrespeitados? Às vezes, permitimos que os outros nos tracem metas ou objetivos sem antes nos consultar? Sabemos distinguir quando estamos doando realmente ou quando estamos sendo explorados? Respeitamos nossos valores e direitos inatos? Costumamos representar papéis de vítimas ou de perfeitos?

A pior situação que podemos viver é passar toda uma existência sem nos dar o devido amor e respeito, fazendo coisas completamente diferentes do que sentimos. 

Nossos sentimentos são parte importante de nossa vida. Se permitirmos que eles fluam em nós, então saberemos o que fazer e como nos conduzir diante das mais variadas situações do cotidiano.

Em virtude disso, não devemos nos esquecer de que, quando nos respeitamos plenamente, mostramos aos outros como eles devem nos tratar.

Se nós não nos aceitarmos, quem nos aceitará? Se nós não nos amarmos, quem nos amará?

Marcos relata em seu Evangelho a seguinte orientação: "Pois ao que tem será dado, e ao que não tem, mesmo o que tem lhe será tirado." (1)

Realmente, "será dado" (respeito) ao que se respeita e não "ao que não tem ou pensa ter". Assim funciona tudo em nossa vida íntima - "temos o que damos". Devemos esperar dos outros a mesma dignidade que damos a nós mesmos.

Examinemos nossos sentimentos e atitudes e nos perguntemos: Por que permito que me tratem com desconsideração? O que estimula os outros a se comportarem com desprezo em relação à minha pessoa?

Se nós não nos autorresponsabilizamos pela forma como somos tratados, continuaremos impotentes para mudar o contexto penoso em que estamos vivendo. É muito cômodo culpar os outros por qualquer desilusão ou sofrimento que estejamos passando. Não é fácil aceitar a responsabilidade pelas nossas próprias ilusões e desenganos.

Quando renunciamos ao controle de nós mesmos, com toda a certeza outros indivíduos tomarão as rédeas de nossa vida.

Somos iguais perante os olhos da Divindade. "(...) todos tendem ao mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis frequentemente: o sol brilha para todos. Com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais." (2)

Realmente "o sol brilha para todos", pois "(...) Deus não deu, a nenhum homem, superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte (...)."

Não somos nem melhores nem piores que ninguém. Ao recusarmos o respeito a nós mesmos, estamos abdicando do direito de exigi-lo. Sem senso de valor individual, nos sentiremos diminuídos diante do mundo e destituídos da habilidade de dar e de receber amor.

O mais valioso tesouro que possuímos é a dignidade pessoal. Não é lícito sacrificá-la por nada ou por ninguém. Quando autorizamos os outros a determinar o quanto valemos, uma sensação de vazio nos toma conta da alma.

O autodesrespeito é um grande desserviço a nós mesmos. Quando ele se instala em nossa casa mental, passamos a não mais prestar atenção aos avisos e intuições que brotam espontaneamente do reino interior. As vozes de inspiração divina são sempre ideias claras, providas de síntese e simplicidade, que a Vida Providencial murmura no imo de nossa alma.

Quando nos respeitamos, somos livres para sentir, agir, ir, dizer, pensar e saber o que autodeterminamos, confiantes em que, se estivermos prontos, no tempo exato o Poder Superior do Universo nos dará todo o suprimento, todo o apoio e toda a orientação para cumprirmos o sublime plano que Ele nos reservou.

Somente optando pelo autorrespeito é que conseguiremos o respeito alheio. Encontraremos nos outros a mesma dignidade que damos a nós mesmos.

1. Marcos, 4:25

2. Questão 803 - Todos os homens são iguais diante de Deus? 

"Sim, todos tendem ao mesmo fim e Deus fez suas leis para todos. Dizeis frequentemente: O sol brilha para todos. Com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais."

Nota - Todos os homens serão submetidos às mesmas leis da Natureza. Todos nascem com a mesma fraqueza, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus não deu, a nenhum homem, superioridade natural, nem pelo nascimento, nem pela morte. Diante dele, todos são iguais.

terça-feira, 20 de julho de 2021

Autoconhecimento - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 6

Só tememos o que desconhecemos. O autoconhecimento requer um constante exercício, no reino do pensamento reflexivo, sobre as sensações externas e internas. Viver uma vida sem reflexão é como escutar uma música sem melodia.

Aqueles que não conhecem a si mesmos dificilmente terão um bom relacionamento com os outros. O ser humano deve afastar de sua vida hábitos e crenças que o tornam inconsciente da própria vida íntima. Só tememos o que desconhecemos. O autoconhecimento requer um constante exercício, no reino do pensamento reflexivo, sobre as sensações externas e internas. Viver uma vida sem reflexão é como escutar uma música sem melodia.

Examinando o Novo Testamento com os olhos da psicologia, chegamos à conclusão de que Jesus Cristo foi uma criatura extraordinária e fascinante, um psicoterapeuta por excelência, além de significativamente moderno. As palavras, os atos e a vida do Mestre possuem, sob muitos aspectos, um significado oculto que é desvendado por todos aqueles que possuem "olhos de ver e ouvidos de ouvir".

Narra-nos o apóstolo Mateus: "(...) ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados e diziam: É um fantasma! E gritaram de medo. Mas Jesus lhes disse logo: Tende confiança, sou eu, não tenhais medo. Pedro, interpelando-o, disse: Senhor, se és tu, manda que eu vá ao teu encontro sobre as águas. E Jesus respondeu: Vem." (1)

A água é a imagem da dinâmica da vida, das energias e dos conteúdos desconhecidos da alma, das motivações secretas e ignoradas. Ela é o simbolismo da "sombra" (2), da vida inconsciente, ou "além-mar" de nossa existência de Espíritos imortais. A água representa tudo aquilo que está contido imperceptivelmente na alma, e que o homem se esforça para trazer à superfície porque pressente que poderá alimentá-lo e sustentá-lo seguramente.

O Mestre pairava sobre as águas, ou seja, dominava o lado escuro da natureza humana. Ele entendia o medo e a insegurança em que viviam os homens - efeitos da sombra pessoal e coletiva - e os motivos da desunião ou segregação da maioria das pessoas e dos grupos sociais.

Renegamos ou não percebemos de forma lúcida essa área oculta e profundamente influente que existe em nossa intimidade. Por essa razão, projetamos nossa sombra "lá fora", nas qualidades ou nas atitudes desagradáveis dos outros. Quando sentimos grande admiração por uma criatura, ou quando reagimos intensamente contra alguém, isso talvez seja a manifestação de nossa sombra.

A negação da sombra faz com que abominemos as deficiências alheias, evitando vê-las em nós. Também atribuímos aos outros nossos potenciais não desenvolvidos, fazendo deles heróis ou gurus - nutrimos enigmáticas alianças ou paixões desmedidas.

A sombra surge sempre em nosso cotidiano; por exemplo, quando lançamos nossas emoções ocultas, nossa fragilidade, nossa insegurança e nossos medos em algo ou alguém.

"Diabo" - do grego diábolos e do latim diabolus - significa literalmente "o que separa", "o que desune". A "separação" é que nos impede de ver a unidade que há em nós e a unidade de todos nós, porquanto dificulta a percepção dos diferentes aspectos evolutivos em nossa intimidade. Ao aceitarmos nossos "opostos" (autoritarismo-subserviência, bajulação-desprezo, futilidade-desleixo, artimanha-credulidade, possessividade-insensibilidade), aprendemos o ponto de equilíbrio das polaridades - é admitindo os lados que chegamos ao meio-termo.

Ao aceitarmos a "unidade" ou o "caminho do meio", começamos a dar fim à nossa rivalidade com nós mesmos e com os outros. Ficamos a favor de nossa realidade, ao invés de hostilizá-la.

Nossa visão de mundo ainda depende dos lados positivo e negativo; da nossa ambivalência de seres humanos em evolução; em outras palavras, da coexistência de atitudes, tendências e sentimentos opostos inerentes à condição humana.

A qualidade mediadora para unir os opostos e que nos leva ao equilíbrio se chama amor. O amor une as pessoas e, ao mesmo tempo, as interliga com as outras criaturas.

Não podemos projetar nossas atitudes rudes, sombrias, insuportáveis e complicadas sobre entidades exteriores, como os "demônios". A característica básica daqueles que acreditam em seres criados especificamente para o mal é buscar constantemente um "bode expiatório" para tudo na vida. As criaturas que assim creem precisam, no fundo, negar seu lado fraco ou impulsos inaceitáveis, culpando o mundo pelo desequilíbrio que elas não veem em si mesmas. São consideradas caçadoras crônicas de bodes expiatórios e quase sempre escapam de suas responsabilidades, atos e consequências com uma projeção do tipo: "O diabo ou os maus espíritos me levaram a fazer ou falar isso."

O Espiritismo ensina que o desequilíbrio reside na intimidade de cada um de nós. Quando temos a coragem de ouvir os "demônios" interiores - que simbolizam alguns aspectos de nossa sombra, isto é, aquelas tendências em nós que mais tememos e das quais fugimos -, atingimos com mais facilidade a auto melhoria. "Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há demônios, eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo (...)" (3).

"(...) ele dirigiu-se a eles, caminhando sobre o mar. Os discípulos, porém, vendo que caminhava sobre o mar, ficaram atemorizados (...)." O Mestre de Nazaré nos convida a andar sobre as águas, a não sentir medo de olhar para dentro de nós mesmos e de sondar as nossas profundezas. A sombra parece ser um "espectro horrível" que nos habita o íntimo; no entanto, ao trazermos nosso lado escuro à luz da consciência, veremos que se trata apenas de nós mesmos, "viajores do Universo", carentes de aprendizagem e conhecimento acerca da Inteligência Divina que se manifesta dentro e fora de nós.

1. Mateus, 14:25 a 29

2. Nota da Editora - Ver a definição de sombra no capítulo "Afetividade".

3. Questão 131 - Há demônios, no sentido que se dá a esta palavra?

"Se houvesse demônios, eles seriam obra de Deus, e Deus seria justo e bom se houvesse criado seres devotados eternamente ao mal e infelizes? Se há demônios, eles habitam em teu mundo inferior e em outros semelhantes. São esses homens hipócritas que fazem de um Deus justo um Deus mau e vingativo, e creem lhe serem agradáveis pelas abominações que cometem em seu nome."

Nota - A palavra demônio não implica a ideia de Espírito mau senão na sua significação moderna, porque a palavra grega daimôn, da qual se origina, significa gênio, inteligência e se emprega para designar os seres incorpóreos, bons ou maus, sem distinção. (...)

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Autoconhecimento - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 6

O autoconhecimento é a capacidade inata que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, amplia a consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em essência.

O autoconhecimento nos dá a habilidade de saber como e onde agem nossos pontos frágeis e até a quem atribuímos nossas emoções e sentimentos, facilitando-nos compreender melhor os que nos rodeiam. Caminhar no processo do autoconhecimento significa desenvolver gradativamente o respeito aos nossos semelhantes, impedindo que façamos projeções triviais e levianas de nossas deficiências nos outros.

Apenas quando tivermos um considerável conhecimento de nós mesmos é que poderemos ajudar efetivamente alguém. Se desconhecemos nosso mundo interior, como poderemos transmitir segurança e determinação ou dar força aos outros? O autoconhecimento requer constante autorreflexão.

Muitos relacionamentos não dão certo porque as pessoas não olham para dentro de si mesmas, não percebendo, assim, seus pontos vulneráveis e suas limitações. Quando atenuamos ou amenizamos as críticas a nosso respeito e a respeito dos outros, estamos assimilando de forma verdadeira as lições que o autoconhecimento nos proporciona.

Não são os grandes conflitos que tornam nossas relações (de negócios, de amizade, de família, conjugais) malsucedidas, e sim um conjunto de "insignificantes diferenças", reunidas através de longo período de tempo. Cobranças, indelicadezas, petulância, insensibilidade, autoritarismo, desinteresse, impaciência, desrespeito - essas pequenas faltas no dia-a-dia podem destruir até mesmo as mais antigas e afetuosas convivências.

Embora não possamos perceber de forma clara e direta, lançamos na vida interpessoal pensamentos e emoções inaceitáveis. Eles formam nosso lado escuro - aquela área do inconsciente que governa e, ao mesmo tempo, dita as normas tanto nos confrontos desagradáveis como nos ímpetos de deboches e gracejos em nossos inúmeros relacionamentos.

Descobrimos o quanto nosso "eu oculto" está em plena atividade quando rimos exageradamente de uma pessoa que escorrega na rua, ou que se equivoca diante de uma palavra, ou mesmo quando ela sofre algum tipo de comparação sarcástica com ponto "censurado" do seu corpo.

Nossa "área sombria" é uma região inexplorada e indomada que atua de forma imperceptível em nossas ações e atitudes. Geralmente, é essa "área" que participa de nossas "supostas brincadeiras" e influencia com precisão o tipo de palavras engraçadas e picantes que deveremos usar nas piadas chulas, nas expressões maliciosas e zombeteiras.

A mensagem subliminar desse nosso "mundo oculto" aparece quando nos horrorizamos com o comportamento sexual das pessoas, recriminando e discriminando cruelmente raças, credos e grupos de "minoria".

Os demônios, na Idade Média, e igualmente as bruxas e hereges simbolizaram brutais projeções de nosso desconhecido "lado escuro". Suplícios e fogueiras, guilhotina e ferro em brasa são marcas que assinalaram a história da humanidade com os ferretes da nossa crueldade inconsciente. É surpreendente como nossas tendências desconhecidas sempre arrumam uma forma de se "dourarem" de princípios filosóficos, redentores ou salvacionistas.

O desconhecimento de nossa vida interior profunda nos conduz ao vale da incompreensão de nossos sentimentos para com nós mesmos e para com os outros. "(...) os Espíritos foram criados simples e ignorantes (...) Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal (...)." (1)

Projetamos nossa sombra quando "pegamos alguém para Judas" (2); quando denegrimos e julgamos a sexualidade alheia sem nos dar conta dos próprios conflitos sexuais. Ela não somente se manifesta em um indivíduo, mas pode exprimir-se em um corpo social inteiro: nas perseguições raciais (nazismo, apartheid, Ku Klux Klan e outras tantas) e nas chamadas "guerras santas" ou "religiosas". Em outras circunstâncias, na repugnância e no ódio visivelmente explícitos e sem controle revelados por meio de palavras e gestos violentos; na aversão ou irritabilidade diante de certas reportagens publicadas pelos veículos de divulgação; nas atitudes de cinismo e nas mais corriqueiras situações e acontecimentos da vida social; e também nas projeções satíricas ou maliciosas em presença de pessoas consideradas "diferentes". Já é tempo de não mais apontarmos o "cisco" no olho alheio.

Lembremo-nos de Jesus Cristo, o Notável Terapeuta de nossas almas, ao analisar os conflitos que atormentavam os seres humanos por não admitirem os diversos aspectos da própria sombra: "Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão." (3)

Nossos piores inimigos ou adversários estão dentro de nós, não fora. É imprescindível nos reconciliarmos com os opositores íntimos, ou seja, enxergarmos com bastante nitidez nosso "lado escuro", para atingirmos paz e tranquilidade de espírito.

Não somos necessariamente aquilo que parecemos ser. O autoconhecimento é a capacidade inata que nos permite perceber, de forma gradativa, tudo que necessitamos transformar. Ao mesmo tempo, amplia a consciência sobre nossos potenciais adormecidos, a fim de que possamos vir a ser aquilo que somos em essência.

1. Questão 634 - Por que o mal está na natureza das coisas? Eu falo do mal moral. Deus não poderia criar a Humanidade em melhores condições?

"Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa ao homem a escolha do caminho; tanto pior para ele, se toma o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não houvesse montanhas, o homem não poderia compreender que se pode subir e descer, e se não houvesse rochedos, ele não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito adquira experiência e, para isso, é preciso que ele conheça o bem e o mal. Por isso, há a união do Espírito e do corpo (119)."

2. Nota da Editora: Expressão alusiva ao apóstolo Judas Iscariotes, aquele que traiu Jesus e que caiu na antipatia do povo. Até hoje, infelizmente, esse episódio é lembrado e o boneco que o representa é malhado e queimado no Sábado de Aleluia, em praça pública.

3. Mateus, 5:25

terça-feira, 22 de junho de 2021

Afetividade - Parte 3

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 5

Tudo o que existe tem sua origem no amor - essência fundamental de todas as coisas que vivem sobre a Terra. A busca do amor é o principal anseio de todo ser humano.

A história da vida de cada criatura é um relato sobre seus antecedentes vivenciais; o conjunto de suas experiências pretéritas somadas às de sua existência atual. Quando um indivíduo conta sua história pessoal e única, estamos apenas ouvindo sua própria interpretação, filtrada por suas crenças, valores, argumentos, pressuposições, cultura, elementos de que ele se utiliza para nos apresentar seu modo de pensar e de ver o mundo.

Podemos contar muitos fatos e ocorrências sobre nós, dando maior importância a alguns aspectos e ignorando outros, ou mesmo selecionando diferentes atos e comportamentos que tivemos nas mais diversas ocasiões. Somos seletivos por natureza, e tudo o que falamos, pensamos ou fazemos tem certa relatividade quando comparado com outros momentos, situações ou fases evolutivas.

Cada um de nós possui uma individualidade original e exclusiva. Utilizando-nos de uma singela metáfora, podemos dizer: "Toda vez que Deus cria um Espírito, Ele quebra o molde."

A alma passa por um grande número de encarnações no curso dos séculos, sendo diversificadas suas experiências na área da afetividade. Como resultado disso, adquire um conjunto peculiar de conhecimentos, pelas inúmeras situações e ocorrências que vivenciou.

Não somos o que pensamos, somos o que sentimos. A busca do amor é o principal anseio de todo ser humano. Ele é legítimo e saudável, e nos incentiva ao despertar da inteligência e dos talentos inatos, a fim de criarmos, renovarmos e crescermos, quer no campo da religião, da filosofia, quer no campo da ciência, da arte e em outros tantos setores do conhecimento.

Tudo o que existe tem sua origem no amor - essência fundamental de todas as coisas que vivem sobre a Terra.

O ponto de partida das ações humanas é a alma - nosso mais profundo centro amoroso -, que transmite energeticamente a afetuosidade para nossos sentidos físicos periféricos, para o nível físico-sensitivo.

A aspiração do amor causa em inúmeros indivíduos uma sensação de inadequação ou medo; por esse motivo, eles a reprimem, de modo inconsciente ou voluntário. No entanto, apesar de tentarem recalcar ou "apagar" a emoção, eles nunca conseguirão silenciar por muito tempo o sentimento amoroso que flui da intimidade da própria alma.

Nosso grande equívoco é acreditar que o desejo de amar é motivo de fraqueza, vergonha, submissão ou domínio. Esse anseio, quando reprimido, acarreta consequências angustiantes e desastrosas, tanto na área física como na psicológica.

Os Espíritos não têm sexos "(...) como o entendeis, pois os sexos dependem do organismo. Entre eles há amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos." (1)

A soma de todos os atos de nossa história de vida poderia ser resumida unicamente no fato de que não somos nem santos nem vilões, apenas criaturas em busca do amor. Por certo, poderíamos dizer que, apesar dos mais diversificados "pontos de vista" e "modelos de mundo" que possuímos, o desejo de amar ou a "identidade de sentimentos", repetimos, é o mais sublime propósito de todo ser humano.

Usamos mecanismos de evasão: por exemplo, a robotização - serviços automáticos sem prazer ou criatividade, - para compensar nossa insatisfação no amor, trabalhando incessante e exaustivamente. Em outras ocasiões, aspiramos à completa aprovação alheia de tudo que fazemos ou acreditamos, para preencher a sensação de falta e incompletude que toma conta de nosso universo afetivo.

Queremos ser compreendidos a qualquer preço, parecer perfeitos, importantes, impressionar as pessoas. A máscara é a vontade de ser aceito plenamente por todos; em última análise, querer forçar as pessoas a nos aceitarem, custe o que custar. A atitude de compreender e de amar só é satisfatória quando sincera e espontânea.

A concepção junguiana de sombra representa o modelo de tudo aquilo que não admitimos ser e que nos esforçamos por ocultar e/ou valores inconscientes e qualidades em potencial esquecidas nas profundezas de nossa intimidade, os quais precisamos despertar dentro de nós .

Nesse sentido, disse Lucas: "Pois nada há de oculto que não se torne manifesto, e nada em segredo que não seja conhecido e venha à luz do dia." (2)

Quando um indivíduo vai gradativamente tomando contato com os aspectos de sua sombra, ele se torna cada vez mais consciente de seus impulsos, emoções, sentimentos e atributos que ignorava ou negava em si mesmo. A partir daí, consegue perceber claramente nos outros os mesmos conteúdos inconscientes que não via ou não admitia em si mesmo. Afinal, pensa consigo mesmo: "Não me importo, todos somos iguais. Possuímos a mesma estrutura humana, só precisamos aprender achar o equilíbrio, pois a virtude está no caminho do meio".

No amor ou afetividade está incluída a habilidade de ver e reconhecer a relatividade da vida em toda a sua validade e perfeito equilíbrio. "Entre eles (os Espíritos) há amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos".

A dignidade da pessoa humana não está fundamentada em "parecer amar", e sim em "amar verdadeiramente". O verniz encobre o mal, mas não o suprime; um sepulcro pintado de branco parecerá menos lúgubre, todavia continuará sendo um sepulcro.

O hipócrita dissimula ser o que não é, buscando no fingimento uma cobertura para continuar sendo aquilo que de fato quer parecer aos olhos do mundo.

No lugar em que o amor reina, não há imposição e repressão; onde a imposição e a repressão prevalecem, o amor está ausente. A autêntica afetividade está associada a uma ampliação de consciência e a um amadurecimento espiritual. Quem a possui aprende a ser caridoso, generoso, benevolente, deixando os outros livres não apenas para errar, para aprender, para discordar, mas também para amar, reconhecendo que as fragilidades que muitas vezes recriminamos nos outros podem ser as nossas amanhã. 

1. Questão 200 - Os Espíritos têm sexos?
"Não como o entendeis, pois os sexos dependem do organismo. Entre eles há amor e simpatia baseados na identidade de sentimentos."

2. Lucas, 8:17