terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Preconceito

Renovando Atitudes - Capítulo 18


“... Tendo-o visto, lhe disse: Zaqueu, apressai-vos em descer, porque é preciso que eu me aloje hoje em vossa casa. Zaqueu desceu logo e o recebeu com alegria. Vendo isso, todos murmuraram dizendo: Ele foi alojar-se na casa de um homem de má vida...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 16 - Item 4

Diz-se que um indivíduo atingiu um bom nível ético quando pensa por si mesmo em termos gerais e críticos; quando dirige sua conduta conforme julgar correto, demonstrando assim independência interior; quando é autônomo para definir o bem e o mal, sem seguir fórmulas sociais; e, por fim, quando não é escravo das suas crenças inconscientes, porque faz constante exercício de autoconhecimento.

Por nosso quadro de valores ter sido adquirido de forma não vivencial é que nosso mundo íntimo está repleto de preconceitos e nosso nível ético encontra-se distante da realidade.

Ter preconceitos é, pois, assimilar as coisas com julgamento preestabelecido, fundamentado na opinião dos outros. Os preconceitos são as raízes de nossa infelicidade e sofrimento neurótico, pois deterioram nossa visão da vida como uma lasca que inflama a área de nosso corpo em que se aloja.

Aceitamos esses valores dos adultos com quem convivemos, de uma maneira e forma tão sutis que nem percebemos. Basta a criança observar um comentário sobre a sexualidade de alguém, ou a religião professada pelos vizinhos, para assimilar ideias e normas vivenciadas pelo adulto que promove a crítica. De maneira distorcida, baseia-se no julgamento de outrem, quando é válido somente o autojulgamento, apoiado sempre na análise dos fatos como realmente eles são.

Qual seria então tua visão atual a respeito do sexo, religião, raça, velhice, nação, política e outras tantas? Seriam formadas unicamente sem a influência dos outros? Será que tua forma de ver a tudo e a todos não estaria repleta de obstáculos formados pelos teus conceitos preestabelecidos?

Por não estares atento ao processo da vida em ti, é que precisas do juízo dos outros, tornando-te assim dependente e incapacitado diante de tuas condutas.

Jesus de Nazaré demonstrou ser plenamente imune a qualquer influência alheia quanto a seus sentimentos e sentidos de vida, revelando isso em várias ocorrências de seu messiado terreno.

Ao visitar a casa de Zaqueu, não deu a mínima importância aos murmúrios maldizentes das criaturas de estrutura psicológica infantil, pois sabia caminhar discernindo por si mesmo.

Toda alma superior tem um sistema de valores não baseado em regras rígidas; avalia os indivíduos, atos e atitudes com seu senso interior, sentimentos, emoções e percepções intuitivas, tendo assim apreciações e comportamentos peculiares. Para ela, cada situação é sempre nova e cada pessoa é sempre um mundo à parte.

Em verdade, Cristo veio para os doentes que têm a coragem de reconhecer-se como tais, não porém para os sãos, ou para aqueles que se mascaram. Zaqueu, vencendo os próprios conceitos inadequados de chefe dos publicanos, derrubou as barreiras do personalismo elitista e rendeu-se à mensagem da Boa Nova.

Despojou-se do velho mundo que detinha na estrutura de sua personalidade e renovou-se com conceitos de vida imortal, aceitando-se como necessitado dos bens espirituais. Disse Jesus: “O sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (1). Ao dizer isso, o Mestre se referia ao antigo mandamento de Moisés, que impedia toda e qualquer atividade aos sábados, e que Ele, por sabedoria e por ser desprovido de qualquer preconceito, entendia a serventia dessa lei para determinada época, porém queria agora mostrar aos homens que “as experiências passadas são válidas, mas precisam ser adequadas às nossas necessidades da realidade presente”.

Nossos preconceitos são entraves ao nosso progresso espiritual.

1. Marcos 2:27.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Simplesmente um Sentido

Renovando Atitudes - Capítulo 17


“... Admira-se, por vezes, que a mediunidade seja concedida a pessoas indignas e capazes de fazer mau uso dela...”
“... a mediunidade se prende a uma disposição orgânica da qual todo homem pode estar dotado, como a de ver, de ouvir, de falar...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 24 - Item 12


Mediunidade é uma percepção mental por meio da qual a alma sutiliza, estimula e aguça seus sentidos, a fim de penetrar na essência das coisas e das pessoas. É uma das formas que possuímos para sentir a vida, é o “poder de sensibilização” para ver e ouvir melhor a excelência da criação divina.

Faculdade comum a todos, é nosso sexto sentido, ou seja, o sentido que capta, interpreta, organiza, percebe e sintetiza os outros cinco sentidos conhecidos.

Nossa humanidade, à medida que aprende a desenvolver suas impressões sensoriais básicas, automaticamente desenvolve também a mediunidade, como consequência. Também conhecida como intuição ou inspiração, é ela que define nossa interação com o mundo físico-espiritual.

As reflexões direcionadas para as áreas morais e intelectuais são muito importantes, pois abrem contatos com o “perceber” ou com o “captar”, o que nos permite ouvir amplamente as “sonoridades espirituais” que existem nas faixas etéreas, das diversas dimensões invisíveis do Universo.

Por outro lado, a mediunidade nunca deverá ser vista como “láurea” ou “corretivo”, mas unicamente como “receptor sensório” - produto do processo de desenvolvimento da natureza humana.

Foram imensos os tempos da ignorância, em que a ela atribuíam o epíteto de “dádiva dos deuses” ou “barganha demoníaca”; na atualidade, porém, está cada vez mais sendo vista com maior naturalidade, como um fenômeno espontâneo ligado a predisposições orgânicas dos indivíduos.

Ver, todos nós vemos, a não ser que tenhamos obstrução dos órgãos visuais; já as formas de ver são peculiares a cada sensitivo. Escutar é fenômeno comum; no entanto, a capacidade de ouvir além das aparências das coisas e das palavras articuladas é fator de lucidez para quem já desenvolveu o “auscultar” das profundezas do espírito.

Além do mais, a facilidade de comunicação com outras dimensões espirituais não é dada somente aos chamados “agraciados” ou “dignos”, conforme nossa estreita maneira de ver. Como a Natureza Divina tem uma visão igualitária, concedendo a seus filhos, sem distinção, as mesmas oportunidades de progresso, é autêntica a sábia assertiva: “Deus não quer a morte do ímpio” (1), mas que ele cresça e amadureça dispondo da multiplicidade das faculdades comuns a todos, herança divina do Criador para suas criaturas.

Por isso, a encontramos nos mais diferentes patamares evolutivos, das classes sociais e intelectivas mais diferenciadas até as mais variadas nacionalidades e credos religiosos. Embora com denominações diferentes, a mediunidade sempre esteve presente entre as criaturas humanas desde o mais remoto primitivismo.

A propósito, não precisamos ter a preocupação de “desenvolver mediunidade”, porque ela, por si só, se desenvolverá. É imprescindível, entretanto, aperfeiçoá-la e esmerá-la quando ela se manifestar espontaneamente. Nunca forçá-la a “acontecer”, porque, ao invés de deixarmos transcorrer o processo natural, nós iremos simplesmente “fazer força”, ou melhor, “agir improdutivamente”.

Em vista disso, treinamentos desgastantes para despertar em nós “dons naturais” são incoerentes. Saber esperar o amadurecimento dos órgãos infantis é o que nos possibilitou ver, falar, andar, ouvir, sentir, saborear ou preferir. Por que então a mediunidade, considerada uma aptidão ontogenética do organismo humano, necessitaria de tantas implicações e imposições para atingir a plenitude?

Aprofundando nossas apreciações neste estudo, encontramos, no “dia de Pentecostes” (2), uma das maiores afirmações de que são espontâneas as manifestações mediúnicas e de que é natural seu despertar junto aos homens, quando foram desenvolvidas repentinamente as possibilidades psicofônicas dos apóstolos ao pousar “línguas de fogo”, isto é, “mentes iluminadas” sobre suas cabeças, sem que eles esperassem ou invocassem o fenômeno.

A sensibilização progressiva da humanidade é uma realidade. Ela se processa, nos tempos atuais, de maneira indiscutível, pois, em verdade, “o Espírito é derramado sobre toda a carne” (3), tornando os efeitos espirituais cada vez mais eloquentes, incontestáveis e generalizados.


1. Ezequiel 33:11.
2. Atos 2:1 ao 8.
3. Atos 2:17.