sexta-feira, 31 de março de 2017

Lágrimas

Renovando Atitudes - Capítulo 22


“Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados. Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Bem-aventurados os que sofrem perseguição pela justiça, porque o reino dos céus é para eles.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - Item 1

Lágrimas são emoções materializadas que romperam as barreiras do corpo físico. Em realidade, representam os excessos de energia que necessitamos extravasar.

Nem sempre são as mesmas fontes que determinam as lágrimas, pois variadas são as nascentes geradoras que as expelem através dos olhos.

Lágrimas nascidas do amor materno são vistas quase que corriqueiramente nos olhos das mães apaixonadas pelos filhos.

Lágrimas de alegria marejam nos olhos dos enamorados, pelas emoções com que traçam planos de felicidade no amor.

Lágrimas geradas pela dor de quem vê o ente querido partir nos braços da morte física, entre as esperanças de reencontrá-lo logo mais, na vida eterna.

Lágrimas de amigos que apertam mãos nas realizações e uniões prósperas são sempre nascentes puras de emotividade sadia oriundas do coração. 

Há, porém, lágrimas criadas pelos centros de desequilíbrio, que mais se assemelham a gotas de fel, pois, quando jorram, congestionam os olhos, tornando-os de aspecto agressivo, de cor carmim, entre energias danosas que embrutecem a vida.

Lágrimas de inveja e revolta que brotam nos olhares dos orgulhosos e despeitados, quando identificam criaturas que vencem obstáculos, alcançando metas e exaltando as realizações ditosas que se propuseram edificar.

Lágrimas de angústia e desconforto que umedecem as pálpebras dos inconformados e rebeldes, os quais, por não respeitarem a si mesmos e aos outros, sofrem como consequência todos os tipos de desencontros nos caminhos onde transitam desesperados.

Lágrimas de pavor e devassidão, em uma análise mais profunda, são tóxicos destilados pela fisionomia dos corruptos, que lesam velhos, crianças e famílias inteiras na busca desenfreada de ouro e poder.

Lágrimas dissimuladas que gotejam da face dos hipócritas e sedutores, os quais, por fraudarem emoções, acreditam sair ilesos perante as leis naturais da vida.

Conta-se que lágrimas espessas rolaram dos olhos dos ladrões crucificados entre o Senhor Jesus, no Gólgota.

As gotas de lágrima do mau ladrão fecundaram, no terreno dos sentimentos, as raízes da reflexão e do discernimento, que permitiram entender o porque dos corações rígidos e inflexíveis. A humanidade aprendeu que há hora de plantar e tempo de ceifar e que nem todos estão ainda aptos a compreender a essência espiritual, nascendo, portanto, dessa percepção o “perdão incondicional”.

Mas dos olhos do bom ladrão deslizaram as lágrimas dos que já admitiram seus próprios erros, vitalizando o solo abundantemente e fazendo germinar as sementes poderosas que permitem às consciências em culpa usar sempre amor incondicional para si mesmas e para os outros, como forma de restaurar sua vida para melhor.

Isso fez com que os seres humanos se aproximassem cada vez mais do patamar da reparação e do enorme poder de transformação que existem neles mesmos, reformulando e reorganizando gradativamente suas vidas. Estabeleceu-se assim, na Terra, o “arrependimento” - sentimento verdadeiro de remorso pelas faltas cometidas e que serve para renovação de conceitos e atitudes.

No teu mergulho interior, pondera tuas lágrimas, analisa-as e certifica-te dos sentimentos que lhes deram origem.

Que sejam sadias tuas fontes geradoras de emoções e que esse líquido cristalino que escorre sobre tuas faces te leve ao encontro da paz interior, entre alicerces de uma vida plena.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Amar, Não Sofrer

Renovando Atitudes - Capítulo 21


“Perguntais se é permitido abrandar as vossas próprias provas; essa questão leva a esta: é permitido àquele que se afoga procurar se salvar? Àquele que tem um espinho cravado, de o retirar?...”

“... contentai-vos com as provas que Deus nos envia, e não aumenteis sua carga, às vezes tão pesada...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - Item 26

Sofremos porque ainda não aprendemos a amar; afinal, a lei divina nos incentiva ao amor, como sendo a única forma capaz de promover o nosso crescimento espiritual.

Os métodos reais da evolução só acontecem em nós quando entramos no fluxo educativo do amor. Sofrer por sofrer não tem significado algum, pois a dor tem como função resgatar as almas para as faixas nobres da vida, por onde transitam os que amam em plenitude.

Temos acumulado inúmeras experiências nas névoas dos séculos, em estâncias onde nossas almas estagiaram, e aprendido invariavelmente que só repararíamos nossos desacertos e equívocos perante a vida através do binômio “dor-castigo”.

Nas tradições da mitologia pagã, aprendemos com os deuses toda uma postura marcada pela dor. A princípio, os duelos de Osíris, Set e Hórus, do Antigo Egito. Mais além, assimilamos “formas-pensamentos” das desavenças e vinganças entre Netuno e Júpiter no Olimpo, a morada dos deuses da Grécia.

Por outro lado, não foi somente entre as religiões idólatras que incorporamos essas formas de convicção, mas também nos conceitos do Velho Testamento, onde exercitamos toda uma forma de pensar, na exaltação da dor como um dos processos divinos para punir todos aqueles que se encontravam em falta.

A palavra “talião” significa “tal”, do latim talis, definida como a “Lei de Talião”, ou seja, “Olho por olho, dente por dente” (1). Significa que as criaturas deveriam ter como castigo a dor, “tal qual” fizeram os outros sentir. Constatamos, assim, a ideia de que se tinha do poder divino era caracterizada por atributos profundamente punitivos.

Jó afirmava: “e Deus na sua ira lhes repartirá as dores” (2); o Gênesis, em se referindo aos castigos da mulher: “multiplicarei os teus trabalhos e em meio da dor darás à luz a filhos” (3). São algumas dentre muitas assertivas que nos levaram a formar crenças profundas de que somente o sofrimento era capaz de sublimar as almas, ou reparar negligências, abusos e crimes.

No “Sermão do Monte”, Jesus Cristo se refere à Lei de Talião revogando-a completamente: “Ouvistes que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se alguém te bater na face direita, apresenta-lhe também a outra” (4). Longa foi a estiagem dos métodos corretivos pela dor, contudo o Mestre instalou na Terra o processo da educação pelo amor.

Apesar de Jesus ter invalidado a lei do “tal crime, tal castigo”, ela ainda prevalece para todos os seres humanos que não encontraram no amor uma forma de “viver” e “pensar”.

Realmente, durante muito tempo, a dor terá função dentro dos imperativos da vida, estimulando as pessoas às mudanças e às renovações, por não aceitarem que o amor muda e renova e, portanto, utiliza-se dos “cilícios mentais”, como meios de suplícios e tormentos, para se autopunirem, pondo assim em prática toda sua ideologia de “exaltação à falta/punição”.

Crenças não são simplesmente credos, máximas ou estímulos religiosos, mas também princípios orientadores de fé e de ideias, que nos proporcionam direção na vida. São verdadeiras forças que poderão limitar ou ampliar a criação do bem em nossa existência.

Mudar para o amor como método de crescimento, reformulando ideias e reestruturando os valores antigos é sairmos da posição de vítimas, mártires ou pobres coitados, facilitando a sintonização com as correntes sutis e amoráveis dos espíritos nobres que subiram na escala do Universo, amando.

Podemos, sim, “sutilizar” nossas energias cármicas, amando, ou “desgastá-las” penosamente, se continuarmos a reafirmar nossas crenças punitivas do passado.

Reforçar o “espinho cravado” ou não retirá-lo é opção nossa. Lembremo-nos, porém, de que ideias arraigadas e adotadas seriamente por nós tendem a motivar-lhes a própria concretização.

1. Êxodo 21:24.
2. Jó 21:17.
3. Gênesis 3:16.
4. Mateus 5:38 e 39.

segunda-feira, 13 de março de 2017

Preceptor das Almas

Renovando Atitudes - Capítulo 20


“Mas o papel de Jesus não foi simplesmente o de um legislador moralista, sem outra autoridade que a sua palavra; ele veio cumprir as profecias que haviam anunciado sua vinda; sua autoridade decorria da natureza excepcional de seu Espírito e de sua missão divina...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 1 - Item 4

Ele andou pelos caminhos terrenos desprovido de qualquer apego, consideração ou aplausos.

Ensinou a excelência da mensagem do amor em sua grandeza superlativa e, ao mesmo tempo, percorreu os caminhos, desacompanhado de seus pais ou parentes, solicitando, todavia, a presença espontânea de amigos amorosos que lhes absorveram as lições inesquecíveis.

Não tinha sequer onde reclinar a cabeça, despojado de qualquer bem material; nunca tomava decisões precipitadas em face de atitudes positivas ou negativas que aconteciam em seu redor, mas sempre reflexionava com sua estrutura divina, pois tinha plena consciência de sua missão terrena em favor da educação de uma humanidade ignorante e sofredora.

Ele afirmava que todos deveriam ser vistos como irmãos ou amigos, porque sabia que em potencial poderiam vir a ser pais, filhos, cônjuges ou irmãos, visto que é da lei universal a reencarnação e a caminhada a um só rebanho e a um só Pastor.

Independente de tudo e de todos, conhecia a estrada a ser percorrida, pois estava seguro em Si mesmo; dessa forma, fez sua trajetória livre de convenções e padrões preestabelecidos, não aceitando preconceitos de qualquer matiz, porquanto sabia transitar com grandeza e dignidade pelos caminhos do mundo.

Criatura magnífica, retinha na mente poderes que lhe permitiam manipular desde a intimidade da matéria até as essências mais sutis da alma humana.

Homem generoso, sempre voltado à Natureza, com a qual se integrava em plenitude.

Amava os lírios dos campos, os pássaros dos céus, os montes arborizados, as brisas da manhã, as águas dos lagos, os trigais, e a própria natureza divina que existe em tudo e em todos.

Ele exemplificou as belezas naturais terrenas, comparando-as com o Reino dos Céus, fazendo dessa forma um elo divino, isto é, uma ligação de amor entre os Céus e a Terra.

Ensinou-nos a respeitar inicialmente as coisas da Terra, para que pudéssemos, então, amar as coisas da Vida Maior.

Aparentemente fracassado na cruz, mostrou-nos logo após que venceu o mundo em todos os aspectos.

Jesus podia “ver” com absoluta facilidade por trás das cortinas do teatro da vida humana e tinha a nítida percepção das intenções mais secretas.

Os seres humanos, para Jesus, eram verdadeiros “livros abertos”: seu olhar penetrava o âmago das almas, onde conseguia alcançar seus pontos fracos.

Não sufocava com a força de sua personalidade aqueles que O procuravam; ao contrário, afirmava: ‘Tudo depende de ti”, ou mesmo, “A tua fé te curou”. Em outras ocasiões, aconselhava-os: “Vai e não peques mais”, convidando-os para uma vida autêntica e oferecendo apoio e incentivo para construírem a “Casa sobre a rocha”.

Foi Mestre por excelência, porque se manteve longe dos excessos nos relacionamentos: do excesso de “convites”, que promove desmedido envolvimento pessoal, dificultando a ajuda real, e do excesso de “indiferença”, que provoca falta de compaixão e posicionamento frio.

Preceptor das Almas, levou-nos à reflexão íntima, ou melhor, à interiorização de nós mesmos, quando assegurou: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (1), formalizando assim a necessidade do nosso autoconhecimento como base vital para alcançarmos o Reino do Céus.

Sigamos Jesus, Ele é a Luz do Mundo, o Sol Fulgurante que aquece as almas do frio interior, da desilusão e da desesperança.

Busquemos Jesus agora e sempre, porque só assim estaremos caminhando ao encontro da paz tão almejada.

1. João 14:11.