sexta-feira, 28 de abril de 2017

Aparências

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 24

“A árvore que produz maus frutos não é boa, e a árvore que produz bons frutos não é má; porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto. Não se colhem figos dos espinheiros e não se cortam cachos de uva de sobre as sarças...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 21 - Item 1

Fugimos constantemente de nossos sentimentos interiores por não confiarmos em nosso poder pessoal de transformação e, dessa forma, forjamos um “disfarce” para sermos apresentados perante os outros.

Anulamos qualquer emoção que julgamos ser inconveniente dizendo para nós mesmos: ‘‘Eu nunca sinto raiva”, “Nunca guardo mágoa de ninguém”, vestindo assim uma aparência de falsa humildade e compreensão.

Máscaras fazem parte de nossa existência, porque todos nós não somos totalmente bons ou totalmente maus e não podemos fugir de nossas lutas internas. Temos que confrontá-las, porque somente assim é que desbloquearemos nossos conflitos, que são as causas que nos mantêm prisioneiros diante da vida.

Devemos nos analisar como realmente somos.

Nossos problemas íntimos, se resolvidos com maturidade, responsabilidade e aceitação, são ferramentas facilitadoras para construirmos alicerces mais vigorosos e adquirirmos um maior nível de lucidez e crescimento.

Não devemos nunca mantê-los escondidos de nós próprios, como se fossem coisas hediondas, e sim aceitar essas emoções que emergem do nosso lado escuro, para que possamos nos ver como somos realmente.

Por não admitirmos que evoluir é experimentar choques existenciais e promover um constante estado de transformação interior é que, às vezes, deixamos que os outros decidam quem realmente somos, colocando-nos, então, num estado de enorme impotência perante nossas vidas.

A maneira de como os outros nos percebem tem grande influência sobre nós. Amigos opressores, religiosos fanáticos, pais dominadores e cônjuges inflexíveis podem ter exercido muita influência sobre nossas aptidões e até sobre nossa personalidade.

Portanto, não nos façamos de superiores, aparentando comportamentos de “perfeição apressada”; isso não nos fará bem psiquicamente nem ao menos nos dará a oportunidade de fazer autoburilamento.

Deixemos de falsas aparências e analisemos nossas emoções e sentimentos, aprimorando-os. Canalizadas nossas energias, faremos delas uma catarse dos fluxos negativos, transmutando-as a fim de integrá-las adequadamente.

Aceitar nossa porção amarga é o primeiro passo para a transformação, sem fugirmos para novo local, emprego ou novos afetos, porque isso não nos curará do sabor indesejável, mas somente nos transportará a um novo quadro exterior. Os nossos conflitos não conhecem as divisas da geografia e, se não encarados de frente e resolvidos, eles permanecerão conosco onde quer que estejamos na Terra.

Para que possamos fazer alquimia das correntes energéticas que circulam em nossa alma, procedamos à auto-observação e à auto-análise de nossa vida interior, sem jamais negar a nós mesmos o produto delas.

Lembremo-nos de que, por mais que se esforcem as más árvores para parecer boas, mesmo assim elas não produzirão bons frutos. Também os homens serão reconhecidos, não pelos aparentes “frutos”, não por manifestarem atos e atitudes mascarados de virtudes, mas por serem criaturas resolvidas interiormente e conscientes de como funciona seu mundo emocional.

Somente pessoas com esse comportamento estarão aptas a ser árvores produtoras de frutos realmente bons.

terça-feira, 18 de abril de 2017

Os Opostos

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 23

“... Como continuassem a interrogá-lo, ele se ergueu e lhes disse: Aquele dentre vós que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra. Depois, abaixando-se de novo, continuou a escrever sobre a terra...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 10 - Item 12

“Aquele dentre vós que estiver sem pecado, lhe atire a primeira pedra”, assim enunciou Jesus Cristo diante da mulher surpreendida em adultério.

Ele conhecia a intimidade das criaturas humanas e as via como um livro completamente aberto. Sabia de suas carências e necessidades condizentes com seu grau evolutivo, bem como conhecia todo o mecanismo proveniente de sua “sombra”, quer dizer, a soma de tudo aquilo que elas não desejam ter e ver em si mesmas.

O termo “sombra” foi desenvolvido por Carl Gustav Jung, eminente psiquiatra e psicólogo suíço, para conceituar o somatório dos lados rejeitados da realidade humana, que permanecem inconscientes por não querermos vê-los.

Jesus sabia que todos ali presentes fariam daquela mulher um “bode expiatório” para aliviar suas consciências de culpa, projetando sobre ela seus sentimentos e emoções não aceitos e apedrejando-a sumariamente, conforme as leis da época.

Em consequência, todos ali reunidos sentiriam momentaneamente um alívio ao executá-la, ou mesmo, “livres dos pecados”, pois nela seriam projetados os chamados defeitos repugnantes e desprezíveis, como se dissessem para si mesmos: “não temos nada com isso”.

O Mestre, porém, induziu-os a fazer uma “introspecção”, impulsionando-os para uma viagem interior, indagando: “quem de vós não tem pecados?”

Somos, a todo instante, tentados a encobrir nossas vulnerabilidades ou “pontos fracos” por não aceitarmos ser natural que parte de nós é segura e generosa, enquanto outra duvida e é egoísta. Faz-se necessário admitirmos nossos “pecados” porque somente dessa forma iremos confrontar-nos com nossos “sótãos fechados” e promover nosso amadurecimento espiritual.

Admitindo nossos lados positivo e negativo, em outras palavras, nossa “polaridade”, passaremos a observar nossa ambivalência, rejeitando assim as barreiras que nos impedem de ser autênticos. Urge que reconheçamos nossa condição humana de criaturas em processo de desenvolvimento evolucional.

Ao assumirmos, porém, nossos “opostos” como elementos naturais da estrutura humana (egoísmo-desinteresse, dominação-submissão, adulação-aversão, ciúme-indiferença, malícia-ingenuidade, vaidade-desmazelo, apego-apatia), aprendemos a não nos comportar como o pêndulo - ora num extremo, ora no outro.

A balança volta sempre ao ponto de equilíbrio, e é justamente essa a nossa meta de aprendizagem na Terra. Nem avareza, nem esbanjamento, nem preguiça, nem superentusiasmo, nem tanto lá, nem tanto cá, tudo com “equanimidade”, isto é, dando igual importância aos lados, a fim de acharmos o meio-termo.

As polaridades unidas formam a totalidade, ou a unidade, mesmo porque nossa visão depende de ambas as partes unidas, para que nossas observações e estruturas não sejam claudicantes. Em suma, unir as polaridades em nossa consciência nos torna “unos” ou seres totais.

Com essa determinação, vamos adquirir um bom nível de permeabilidade e conseguir transcender os limites e interligar nossos opostos, atingindo um estado de consciência elevada, o que permitirá que nosso consciente e nosso inconsciente se fundam numa “unidade total”.

As pesquisas da atualidade analisaram as metades do cérebro e chegaram à conclusão de que cada uma tem funções, capacidades e suas respectivas áreas, onde atuam as diferentes responsabilidades da psique humana.

O lado esquerdo cuida da lógica, da linguagem, da leitura, da escrita, dos cálculos, do tempo, do pensamento digital e linear e do lado direito do corpo, entre outras coisas; enquanto que o direito se prende às percepções da forma, da sensação do espaço, da intuição, do simbolismo, da atemporalidade, da música, do olfato e do lado esquerdo do corpo, entre outras funções.

Usar a totalidade cerebral é ter uma visão real da vida que nos cerca; portanto, com apenas metade do cérebro, teremos a bipartição da verdade, ou melhor, a não-conexão dos opostos.

O Mestre afirmou-nos: “Eu e meu Pai somos um” (1), querendo dizer que Ele era pleno, pois enxergava tudo no Universo como um “todo”, através de sua consciência iluminada e integralizada.

Jesus não agia dividido em “pares opostos”. Não pensava e não sentia como homem ou mulher, mas como espírito imortal; não visualizava o interior e exterior, antes observava o Universo e a nós por inteiro, “dentro e fora”, argumentando que o “Reino de Deus” e “as muitas moradas da Casa do Pai” estavam no exterior e, ao mesmo tempo, no interior.

Por isso, não há nada a corrigir ou a consertar em nós, a não ser melhorar a nossa própria forma de ver as coisas, aprendendo a conhecer amplamente as interligações dos opostos, a fim de atingirmos o equilíbrio perfeito.

“Pecados”, em síntese, são as extremidades de nossa polaridade existencial. Daí decorre a afirmação de Jesus de Nazaré aos homens que somente olhavam um dos lados do fato naquele julgamento e que, ao mesmo tempo, escondiam sentimentos e emoções que gostariam que não existissem.

Em suma, a ferramenta vital para interligar os opostos chama se amor, porque amar é buscar a unificação das pessoas e das coisas, pois ele quer fundir e não dividir. O amor tem que ser absolutamente incondicional porque, enquanto for seletivo e preferencial, não será amor real. Quem ama realmente constitui um “nós”, isto é, “une”, sem anular o próprio “eu”.

O sol emite raios para todas as criaturas e não distribui sua luminosidade segundo o merecimento de cada um. Assim também é o amor do Mestre: não diferencia bons e maus, certos e errados, poderosos e simples; não separa, nem divide, simplesmente ama a todos, pelo próprio prazer de amar.

1. João 10:30.