domingo, 21 de maio de 2017

O Amor Que Tenho é o Que Dou

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 26


“... No seu início, o homem não tem senão instintos; mais avançado e corrompido, só tem sensações; mais instruído e purificado, tem sentimentos; e o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas este sol interior...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 11 - Item 8

Somente se dá aquilo que se possui. Como, pois, exigir amor de alguém que ainda não sabe amar?

Como requisitar respeito e consideração de criaturas que não atingiram o ponto delicado do sentimento que é o amor?

Quem dá afeto recolhe a felicidade de ver multiplicado aquilo que deu, mas somente damos de conformidade com aquilo de que podemos dispor no ato da doação.

Há diversidades de evolução no planeta. Homens mal saídos do primitivismo campeiam na sociedade moderna, ensaiando os primeiros passos do instinto natural para a sensibilidade amorosa.

Eis aqui uma breve relação de sintomas comportamentais que aparecem nas criaturas, confundindo o amor que liberta e deseja o bem da outra pessoa com a atração egoísta que toma posse e simplesmente deseja:

— Há indivíduos que, para conquistar os outros e convencê-los de suas habilidades e valores, contam vantagens, persuadindo também a si mesmo, pois acreditam que para amar é preciso apresentar credenciais e louros, satisfazendo assim as expectativas daqueles que podem aceitá-los ou recusá-los.

— Há criaturas que tentam amar comprando pessoas, omitindo e negando suas necessidades e metas existenciais, abandonando tudo que lhes é mais caro e íntimo e depois, por terem aberto mão de todos os seus gostos e desejos, perdem o sentido de suas próprias vidas, terminando desastrosamente seus relacionamentos.

— Alguns delegam o controle de si mesmos aos outros, cometendo assim, em “nome do amor”, o desatino de renunciar ao próprio senso de dignidade, componente vital à felicidade. Não é de surpreender que vivam vazios e torturados, pois tornaram-se “um nada” ao permitirem que isso aconteça.

— Outros tantos usam da mentira, encobrindo realidades e escondendo conflitos. Convictos de que têm de ser perfeitos para ser amados, temem a verdade pelas supostas fraquezas que ela possa lhes expor diante dos outros. Acabam fracassados afetivamente por falta de honestidade e sinceridade.

— Certas criaturas afirmam categoricamente que amam, mas tratam o ser amado como propriedade particular. Por não confiarem em si mesmas, geram crenças cegas de que precisam cuidar e proteger, quando na realidade sufocam e manipulam criando um convívio insuportável e desgastante.

Uma das características mais tristes dos que dizem saber amar é a atitude submissa dos que nunca dizem “não”, convencidos de que, sendo sempre passivos em tudo, receberão carinho e estima. Esse tipo de comportamento leva as pessoas a concordar sempre com qualquer coisa e em qualquer momento, trazendo-lhes desconsideração e uma vida insatisfatória.

Requisitar dos outros o que eles ainda não podem dar é desrespeitar suas limitações emocionais, mentais e espirituais, ou seja, sua idade evolutiva.

Forçar pais, filhos, amigos e cônjuge a preencher o teu vazio interior com amor que não dás a ti mesmo, por esqueceres teus próprios recursos e possibilidades, é insensato de tua parte.

É dando que se recebe; portanto, cabe a ti mesmo administrar tuas carências afetivas e fazer por ti o que gostarias que os outros te fizessem.

Não peças amor e afeto; antes de tudo, dá a ti mesmo e em seguida aos outros, sem mesmo cobrar taxas de gratidão e reconhecimento. Importante é que sigas os passos de Jesus na doação do amor abundante, sem jamais exigi-los de ninguém e sem jamais esquecer que és responsável pelos teus sentimentos.

Quanto aos outros, sejam eles quem forem, responderão por si mesmos conforme o seu livre-arbítrio e amadurecimento espiritual.

terça-feira, 9 de maio de 2017

Galho Verde

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 25


“... A partir do nascimento, suas ideias retomam gradualmente impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos...”
“... Durante o tempo em que seus instintos dormitam, ele é mais flexível e, por isso mesmo, mais acessível às impressões que podem modificar sua natureza e fazê-lo progredir...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 8 - Item 4

Quando crianças, somos como uma “argila frágil” ou mesmo como um “galho verde”, prontos para ser modelados ou direcionados pelos nossos pais, que têm por missão desenvolver nossos potenciais como uma de suas principais tarefas. Grande parte de nossas percepções e reações emocionais foram internalizadas em razão da influência dos adultos à nossa volta. Desde o nascimento, somos todos extremamente sensíveis ao ambiente em que vivemos; por isso, os adultos devem meditar sobre as posturas que irão tomar em relação às crianças, pois terão grave importância em seu desenvolvimento futuro.

Determinados atos no ambiente familiar podem “melhorar” e “desenvolver”, ou “deteriorar” e “inibir” a organização psicoespiritual da personalidade infantil.

Um ponto básico para compreensão e aceitação dos conceitos de educação em profundidade é o fato de que as crianças, no início de seu desenvolvimento, são “forçadas” a aceitar as regras dos pais, que se esquecem de que os filhos não são “livros em branco”, mas almas antigas que carregam consigo enorme bagagem de experiências em seu curriculum espiritual.

Cada criança é um mundo à parte. Embora existam necessidades generalizadas para todas, também a individualidade de cada uma deve ser respeitada, pois os filhos, mesmo de uma só família, são diferentes entre si, inclusive os gêmeos univitelinos.

Impraticável tentar vestir mãos diferentes com a mesma luva ou enquadrar todas as crianças em igual padrão educativo.

Não se podem determinar modelos, receitas e atitudes absolutamente fixas e rígidas. Aceita-se com flexibilidade que cada criança terá sua importância à medida que desenvolve sua personalidade.

Todas as crianças gostam e necessitam de correr, de brincar, de estudar, de comer e de ser educadas convenientemente, mas cada uma terá características peculiares e não poderá correr, brincar, estudar e comer como as outras, nos mesmos moldes ou figurinos.

Um outro ponto importante é que, em muitas circunstâncias, as reações educativas dos pais não atendem basicamente às necessidades dos filhos, porém às deles mesmos. Inconscientemente, tentam educá-los através das projeções de seus conflitos, frustrações e problemas pessoais, nunca atingindo uma dinâmica profunda e direcionada às reais necessidades dos filhos. Certos adultos vivem suas dificuldades interiores na vida da criança, tentando resolver seus problemas nos problemas infantis, sentindo-se destroçados ou vitoriosos conforme as derrotas e os triunfos dos filhos. O resultado disso tudo será uma pessoa atingindo a maioridade completamente desconectada de suas realidades e profundamente desorientada.

Um fato a destacar é o sofrimento dos filhos em razão de constantes atitudes inibitórias provocadas por adultos que se comportam com excessivo controle e zelo. Impedem que as crianças expressem gestos e raciocínios espontâneos, bem como a sua forma de ser. Desencorajam-nas a promover suas ideias inatas, desestimulam-lhes as vocações naturais, alteram-lhes as atividades para as quais teriam toda uma habilidade instintiva e faculdades apropriadas e impedem o desenvolvimento de sua própria índole, prejudicando-as.

Portanto, deveremos ser cuidadosos na análise de nossas influências paternais junto aos filhos, porque em “nome da missão” ou da “educação filial” não nos é licito forçar ou distorcer os “galhos verdes”, impondo-lhes opiniões e decisões e deixando de proporcionar-lhes gradativamente o hábito das próprias escolhas. Superprotegidos contra os erros, defendidos dos problemas e dificuldades, vemo-los crescendo à sombra dos pais, indecisos até sobre a mais simples opção, numa situação de dependência e apego que se prolonga, em muitos casos, durante toda a encarnação e também, por que não, nas futuras.

“A partir do nascimento, suas ideias retomam gradualmente impulso, à medida que se desenvolvem os órgãos” (1), e as crianças vão adquirindo uma maior possibilidade de expressar como realmente são. A partir daí, devem ser educadas de forma coerente com seu caráter instintivo e traços de personalidade - fruto dos conhecimentos que adquiriram nas existências anteriores. Nunca, porém, nos padrões da coerção, da exigência, da comparação, da crítica constante ou da superproteção - fatores de insegurança e de desajustes psicológicos profundos.

Pais generosos, de espírito totalmente isento de crítica destrutiva, aproximam-se das crianças com o objetivo real de lapidá-las num clima constante de muito amor e compreensão, jamais se esquecendo de que elas não são suas, mas “almas eternas” em estágio temporário no recinto de nosso lar. São criaturas de Deus a caminho da luz.

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 8 - Item 4