sexta-feira, 30 de junho de 2017

A Arte da Aceitação

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 29


“O homem pode abrandar ou aumentar a amargura das suas provas pela maneira que encara a vida terrestre...”
“... contentar-se com sua posição sem invejar a dos outros, de atenuar a impressão moral dos reveses e das decepções que experimenta; ele haure nisso uma calma e uma resignação...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - Item 13

Aceitar nossa realidade tal qual é representa um ato benéfico em nossa vida. Aceitação traz paz e lucidez mental, o que nos permite visualizar o ponto principal da partida e realizar satisfatoriamente nossa transformação interior.

Só conseguimos modificar aquilo que admitimos e que vemos claramente em nós mesmos, isto é, se nos imaginarmos outra pessoa, vivendo em outro ambiente, não teremos um bom contato com o presente e, consequentemente, não depararemos com a realidade.

A propósito, muitos de nós fantasiamos o que poderíamos ser, não convivendo, porém, com nossa pessoa real. Desgastamos dessa forma uma enorme energia, por carregarmos constantemente uma série de máscaras como se fossem utilitários permanentes.

A atitude de aceitação é quase sempre característica dos adultos serenos, firmes e equilibrados, à qual se soma o estímulo que possuem de senso de justiça, pois enxergam a vida através do prisma da eternidade. Esses indivíduos retêm um considerável “coeficiente evolutivo”, do qual se deduz que já possuem um potencial de aceitação, porquanto aprenderam a respeitar os mecanismos da vida, acumulando pacificamente as experiências necessárias a seu amadurecimento e desenvolvimento espiritual.

Quando não enfrentamos os fatos existenciais com plena aceitação, criamos quase sempre uma estrutura mental de defesa. Somos levados a reagir com “atitudes de negação”, que são em verdade molas que abrandam os golpes contra nossa alma. São consideradas fenômenos psicológicos de “reação natural e instintiva” às dores, conflitos, mudanças, perdas e deserções e que, por algum tempo, nos aliviam dos abalos da vida, até que possamos reunir mais forças, para enfrentá-los e aceitá-los verdadeiramente no futuro.

Não negamos por ser turrões ou teimosos, como pensam alguns; não estamos nem mesmo mentindo a nós próprios. Aliás, “negar não é mentir”, mas não se permitir “tomar consciência” da realidade.

Talvez esse mecanismo de defesa nos sirva durante algum tempo; depois passa a nos impedir o crescimento e a nos danificar profundamente os anseios de elevação e progresso.

Auto-aceitação é aceitar o que somos e como somos. Não a confundamos como uma “rendição conformada”, e que nada mais importa. De fato, acontece que, ao aceitar-nos, inicia-se o fim da nossa rivalidade com nós mesmos. A partir disso, ficamos do lado da nossa realidade em vez de combatê-la.

Diz o texto: “O homem pode abrandar ou aumentar a amargura das suas provas pela maneira que encara a vida terrestre”. Aceitação é bem uma maneira nova de “encarar” as circunstâncias da vida, para que a “força do progresso” encontre espaços e não mais limites na alma até então restrita, pois a “vida terrestre” nada mais é do que o relacionar-se consigo mesmo e com os outros no contexto social em que se vive.

Aceitar-se é ouvir calmamente as sugestões do mundo, prestando atenção nos “donos da verdade” e admitindo o modo de ser dos outros, mas permanecer respeitando a nós mesmos, sendo o que realmente somos e fazendo o que achamos adequado para nós próprios.

Em vista disso, concluímos que aceitação não é adaptar-se a um modo conformista e triste de como tudo vem acontecendo, nem suportar e permitir qualquer tipo de desrespeito ou abuso à nossa pessoa; antes, é ter a habilidade necessária para admitir realidades, avaliar acontecimentos e promover mudanças, solucionando assim os conflitos existenciais. E sempre caminhar com autonomia para poder atingir os objetivos pretendidos.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Crenças e Carma

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 28


“... A quem, pois, culpar de todas as suas aflições senão a si mesmo? O homem é, assim, num grande número de casos, o artífice dos seus próprios infortúnios; mas, em vez de o reconhecer, ele acha mais simples, menos humilhante para a sua vaidade, acusar a sorte, a Providência...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - Item 4

Mentalidade é a capacidade intelectual, ou seja, o conjunto de crenças, costumes, hábitos e disposições psíquicas de um indivíduo. São registros profundos situados no corpo espiritual, raízes de nosso modo de agir e pensar, acumulados na noite dos tempos.

Nossa mentalidade atrai tudo aquilo que irradiamos consciente ou inconscientemente. Portanto, certos conceitos que mantemos atraem prosperidade e nos fazem muito bem; outros tantos nos desconectam do progresso e da realidade espiritual.

Porque ainda não vemos as coisas sem o manto da ilusão é que acreditamos em prêmios e castigos; na realidade, suportamos apenas as consequências de nossos atos.

Dessa forma, tudo o que está acontecendo em tua vida é produto de tuas crenças e pensamentos que se materializam; não se trata, pois, de punições nem recompensas, mas reações desencadeadas pelas tuas ações mentais.

Certas idéias sobre o carma não condizem com a coerência e com a lógica da reencarnação, levando-te a interpretações distorcidas e irreais sobre as Leis Divinas.

Carma, em sânscrito, quer dizer simplesmente”ação”.

Tuas ações, ou seja, teus carmas são positivos ou negativos, de conformidade com o que fizeste e segundo tuas convicções e valores pessoais.

Deus não julga os atos pessoais, mas criou leis perfeitas que dirigem o Universo. Porque tens o livre-arbítrio como patrimônio, é que deves admitir que a vida dá chances iguais para todos: a diferença está na credulidade de cada um.

A seguir, algumas formas negativas de pensar: “Não posso mudar, é meu carma”; “Tenho que sofrer muito, são erros do passado”.

Se golpearmos algo para a frente, este objeto terá a força e a direção que lhe imprimirmos. Se continuarmos, pois, a golpeá-lo, recolheremos sucessivos retornos com relativa frequência e intensidade, conforme nossa ação promotora.

São assim teus carmas: atos e atitudes que detonas continuadas vezes, vida após vida, recebendo, como consequência, as reações decorrentes de tua liberdade de agir.

Por que, então, não mudas teu carma?

Jesus afirmou que as ações benevolentes impedem os efeitos negativos, quando asseverou: “Muito lhe foi perdoado porque muito amou, mas a quem pouco se perdoa, é porque pouco ama” (1). Ou ainda: “O amor cobre a multidão de pecados” (2).

Algumas religiões e sociedades vingativas e condenadoras impuseram a crença da punição como forma de resgatar a consciência intranquila perante as leis morais. Outras, mais radicais ainda, diziam que somente o sofrimento e o castigo até a “quarta geração” (3) eram o tributo necessário para que as criaturas pudessem se harmonizar perante o tribunal sagrado, com isso olvidando que a Providência Divina usa como método real de evolução apenas a educação e o amor.

Aquele que muito amou foi perdoado, não aquele que muito sofreu. O amor é que cobriu, isto é, resgatou a multidão dos pecados, não a punição ou o castigo.

O sofrimento apenas nos serve como “transporte das almas”de retorno ao amor, de onde saímos, fruto da Paternidade Divina. A função da dor é ampliar horizontes para realmente vislumbrarmos os concretos caminhos amorosos do equilíbrio.

Como o golpe ao objeto pode ser modificado, repensa e muda também tuas ações, diminuindo intensidades e frequências e recriando novos roteiros em tua existência.

Transformar ações amando é alterar teu carma para melhor, atraindo pessoas e situações harmoniosas para junto de ti.

1. Lucas 7:47.
2. I Pedro 4:8.
3. Êxodo 34:7.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Palavras e Atitudes

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 27

“... Nem todos os que dizem: Senhor! Senhor! entrarão no reino dos céus; mas somente entrará aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 18 - Item 6

Os bons dicionários definem comunicação como ato ou efeito de transmitir e receber mensagens e que envolve duas ou mais pessoas. É o processo de permutar conceitos, gestos, ideais ou conhecimentos, falando, escrevendo ou através do simbolismo dos sinais e expressões.

Enquanto a conversação entre dois indivíduos tem um caráter mais restrito de comunicação, as atitudes que acompanham os diálogos têm um poder de comunicação mais amplo, eloquente e determinante.

O mecanismo que envolve a comunicação divide-se em três propriedades básicas dos seres humanos e se torna possível porque usamos nossa “percepção” ou “sensibilidade” para captar as informações; depois “avaliamos” para poder interpretar e compreender a mensagem; e, finalmente, “expressamo-nos” com palavras ou atitudes, baseadas nas reações emocionais provocadas pela maneira como integramos aquela mesma mensagem.

As circunstâncias existenciais de nossa vida de relação são o resultado direto de nossas atitudes interiores. Precisamos prestar atenção nos conteúdos de informação que recebemos, não somente pelas mensagens diretas, mas também por aquelas que absorvemos entre conteúdos simbólicos, inconscientes e subentendidos, na chamada comunicação “além da comunicação” convencional.

Jesus Cristo considerou a importância da palavra aliada ao crer, quando disse: “não afeteis orar muito em vossas preces, como fazem os gentios, que pensam ser pela multidão de palavras que serão atendidos”. (1)

O Mestre disse que não seria pela “multidão de palavras” que nossas súplicas seriam atendidas, mas que os sentimentos silenciosos seriam fatores essenciais, ou seja, a sinceridade provida de vontade firme, intensidade e determinação, unidas pela “convicção”, seriam consequentemente a forma ideal para os nossos pedidos e apelos à Divindade.

O simples pedido labial não tem a mesma potência do pedido estruturado em pensamentos concretos e firmes atitudes interiores.

Dizer por dizer “Senhor! Senhor!” não nos dará permissão para ingressar no Reino dos Céus, “mas somente entrarão aqueles que fazem a vontade de meu Pai”, quer dizer, os que usam o desejo e o empenho como alavancas propulsoras em suas palavras e solicitações.

Os estudiosos do comportamento dizem que todos nós, desde a infância, recebemos através da comunicação um maior ou menor desenvolvimento psicoemocional.

Afirmam que as informações recebidas através dos órgãos da linguagem - essencialmente dentro de casa, dos pais e irmãos, ou fora da família, dos tios, primos, avós ou amigos - agem sobre nós proporcionando recursos valiosos e determinantes sobre nosso modo de pensar, e atraem pessoas e coisas ao nosso redor. Certas informações, porém, captadas pelas crianças e adolescentes, explicam esses mesmos estudiosos, são transmitidas através da comunicação não-verbal: expressões corporais, mímicas, trejeitos do rosto, tonalidades, suspiros, lágrimas, gestos de contrariedade ou movimento das mãos. O comportamento, as expressões carinhosas e os monólogos da mãe com o feto na vida intra-uterina são comunicações superinfluenciadoras na estrutura emocional e espiritual das crianças em formação.

Todos nós recebemos e transmitimos mensagens articuladas constantemente, retendo ou não essas mesmas informações. Realizamos somas ou subtrações mentais com palavras e atitudes vivenciadas hoje e com outras recebidas ontem, para chegarmos a novos conceitos e conclusões da realidade.

Reconstituímos ocorrências passadas, antevemos fatos futuros, iniciamos e alteramos processos fisiológicos na intimidade de nosso organismo com nossas afirmações verbais negativas e positivas. Assim, compreendemos que a palavra tem uma importância inegável: ela cria vínculos de natureza mental, emocional e psicológica, altera o intercâmbio psíquico/espiritual e atua na formação de nossa personalidade, por meio da interação palavras/atitudes.

Em síntese, o poder da palavra em nossa vida é fundamental, e, se observarmos a reação de nossas afirmações e atos, descobriremos que eles não retornarão jamais vazios, mas repletos do material emitido.

Segundo o apóstolo Mateus, “por nossas palavras seremos justificados, e por nossas palavras seremos condenados” (2), pois diálogos são pensamentos que se sonorizam e criam campos de energia condensada dentro e fora de nós.

Reformulemos, se for o caso, as comunicações ou atitudes que recebemos na infância. Se porventura foram de severidade e rispidez, se nos menosprezaram com mensagens negativas constantes, repetitivas e depreciativas, poderão ser elas a razão de nossos sentimentos de inferioridade, rejeição e agressividade compulsórias.

Não diga “que dia horrível!” porque simplesmente está chovendo. A dramaticidade é um dos fatores traumáticos de nossa existência, pois muitas dessas expressões despretensiosas, repetidas muitas vezes, podem-nos conduzir a verdadeiros turbilhões vivenciais.

Nossas palavras são filamentos sonoros revestidos de nossos sentimentos, e nossas atitudes são o resultado de expressões assimiladas e determinadas pelo nosso comportamento mental.

1. Mateus 6:7.
2. Mateus 12:37.