quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Pesos Inúteis

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 40

“Se perscrutásseis melhor todas as dores que vos atingem, nelas encontraríeis sempre a razão divina, razão regeneradora, e vossos miseráveis interesses seriam uma consideração secundária que relegaríeis ao último plano...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 5 - Item 21

Quanto mais a ciência biológica estuda as estruturas íntimas dos seres vivos, mais claramente constata que os fenômenos nascimento e morte são etapas de um processo natural da vida. Mesmo assim, nos agarramos à ideia de que somos separados da Natureza e encaramos a morte como o fim de tudo, numa visão isolada, desumana e insuportável de conceber.

Não nos auxilia em nada considerar a morte um adversário; porque mesmo assim, ela continuará fazendo parte de nossa existência. E ao tentar negá-la, estaremos nos distanciando ainda mais da realidade integral.

Todavia, ao provar o sentimento de perda, passamos por uma das maiores experiências como seres humanos: somos impulsionados a uma intensa reflexão, conseguindo, a partir daí, observar melhor as verdades transcendentais da Vida.

Nada se perde no Universo do “Todo-Poderoso”, tudo se transforma de modo maravilhoso, e com o passar do tempo aprendemos a entender e a aceitar a morte, numa visão harmônica e translúcida.

Em verdade, a morte física não nos tira a vida, mas simplesmente faz com que passemos a transitar por novos caminhos. E como não temos a posse sobre os outros, ou melhor, as pessoas não nos pertencem, a Vida Maior constantemente nos coloca à disposição situações e lugares novos, nos mais diversos planos existenciais, para que possamos nos enriquecer com as múltiplas experiências.

Somos nômades do Universo, viajantes das vidas sucessivas, na busca do aperfeiçoamento.

Há inconformados que sofrem por longo tempo a perda de pessoas amadas que passaram para outros níveis espirituais. E realmente aflitiva a saudade mesclada na dor, que abala a alma daquele que vê partir seus entes queridos. Ainda que a dor seja intensa, o homem deve ser honesto consigo mesmo, buscando continuadamente uma percepção mais precisa dos processos pessoais de “não-aceitação” em face da morte e uma conscientização do porquê dos “sentimentos de rejeição” que o mantêm preso a um constante círculo de pensamentos inconformistas.

Certos indivíduos sentem profunda culpa se não chorarem e não se lastimarem indefinidamente, porque acreditam que as pessoas poderão julgá-lo como desumano e desprovido da capacidade de amar os familiares que partiram.

Outros, por terem atitudes conservadoras e limitantes a respeito da afetividade, cultuam falecidos entes queridos para sempre, como se não existisse mais ninguém para amar. Exageram uma época de grande felicidade, não acreditam que possam ter ainda reencontros alegres e vivem amarrados no passado propositadamente.

Por medo da solidão, certas criaturas lamentam de forma ininterrupta a privação de seus parentes, num fenômeno quase que inconsciente, para chamar a atenção de outros familiares, a fim de que estes supram suas carências afetivas e suas necessidades básicas de consideração.

Diversas pessoas que já atravessam leves crises de melancolia, ficam sujeitas a períodos angustiantes ainda mais longos e agravados, quando perdem seus afetos. Sem se dar conta de que, se examinassem com mais cuidado as matrizes dos seus estados depressivos, melhorariam sensivelmente; e que, por projetarem a causa de sua aflição apenas sobre a perda, sofrem muito sem a mínima condição de vislumbrar a cura definitiva.

Existem almas que passam vidas inteiras ao redor de outras almas, cuidando delas. Por não ter vida própria, estão sujeitas a um grau de dependência e apego enorme. Cultivam a dor como pretexto para sentir-se mais vivas e mais estimuladas, porque tudo que lhes restou foi agarrar-se às lembranças dolorosas na crença de que não podem mais parar de sofrer pela separação dos seres amados.

Nossos sentimentos resultam dos processos de nossas percepções, emoções e sensações acumuladas ao longo das vidas pretéritas e da vida atual, e é através deles que temos toda uma forma peculiar de sentir e agir.

Não obstante, analisando nossos sentimentos de perda e interpretando os reais fundamentos de nossas dores, poderemos nos conscientizar se estamos agravando ou não “nosso sentir”. As dores da separação de filhos, cônjuges, irmãos e amigos podem ser agravadas, se a elas juntarmos o sentimento de culpa, remorso, dependência, conservadorismo, medo e não-aceitação.

Lembremo-nos, porém, das palavras de Paulo: “E, quando este (corpo) mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (1)

Façamos, dessa forma, uma transubstanciação de nossos padecimentos e pesares, apartando todos os “pesos inúteis”, descartando-os e substituindo-os pelas “doces brisas” dos ensinos da Vida Eterna. Agindo assim, veremos abrandar em pouco tempo nosso coração turvado e pesaroso, que depois se tornará verdadeiramente aliviado e translúcido.

1. I Coríntios 15:54 e 55.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Carma e Parentela

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 39

“A união e a afeição que existem entre os parentes são indício da simpatia anterior que os aproximou; também se diz, falando de uma pessoa cujo caráter, gostos e inclinações não têm nenhuma semelhança com os de seus parentes, que ela não é da família...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 4 - Item 19

Quase sempre afirmamos que a antipatia a certos membros de nossa parentela é decorrente de antigas aversões, oriundas do pretérito distante, quando ocorrências negativas ficaram mal resolvidas em nossa atmosfera cármica.

Dessa forma, justificamos aversões e incompatibilidades de gênio, transformando o ambiente familiar em verdadeiro campo de batalha, onde todos têm razão e, ao mesmo tempo, todos se dizem vítimas impotentes do destino.

Importante lembrar que, se fomos reunidos aqui e agora, é porque este é o melhor tempo para solucionarmos comportamentos inconvenientes, posturas de vida intransigentes e para promovermos nossa transformação interior, fatores imprescindíveis para o crescimento da alma.

Não se auto responsabilizar por feitos e atitudes no presente, inocentando-se e lançando desculpas pelos desatinos do passado, é assumir a condição de injustiçado, ou mesmo, de vítima. É como afirmar que a Divina Providência cometeu para com tua existência uma falta, fazendo-te renascer em ambiente não correspondente ao teu desenvolvimento espiritual, o que logicamente é um enorme absurdo.

Não são situações de vidas passadas que te complicam os relacionamentos afetivos, e sim a continuidade dos velhos modos de pensar, das crenças incoerentes e da permanência em doentios pontos de vista de onipotência.

Adultos dominadores desenvolvem expectativas em relação ao círculo em que vivem, alterando as escolhas pessoais dos familiares. Se estes não são acostumados a pensar por si, permitem facilmente que lhes alterem as trilhas que tinham delineado e definido como metas particulares. Fatalmente, esses mesmos indivíduos um dia se revoltarão contra as atitudes de dominância e rejeitarão ser manipulados de novo, desenvolvendo assim sérios atritos no lar.

Em muitas ocasiões, por atitudes autoritárias, a profissão que é exercida difere de modo frontal daquela que a criatura escolheu. Em vista disso, ela vive constantemente contrariada, por ver frustrado o seu projeto interno, e se revolta não só contra quem desencadeou a intromissão em sua trilha de vida, mas também contra o mundo, a sociedade e contra si mesmo, por não ter lutado por tudo aquilo que desejava.

Parentes inseguros superprotegem os seus escolhidos, tornando-os impotentes em áreas em que já poderiam ser independentes. Por obrigá-los a compartilhar os seus mesmos pontos de vista, evidenciam um enorme desrespeito ao outro, demonstrando com isso que, talvez, nem eles mesmos saibam o que querem realmente da vida.

Assim, com frequência, filhos se defrontam com pais e irmãos, lutando contra gestos de arrogância. Querem ser eles mesmos, desbravar suas próprias metas e caminhos, embora, às vezes, se anulem com certo medo de desagradar-lhes, pelo suporte e manutenção de vida que ainda recebem deles, porque, em verdade, muitos ainda não conseguiram sustentar-se material e afetivamente.

Auto responsabilizar-se é uma dádiva que nos confere o poder de criar mudanças, pois geralmente preferimos nos desculpar, jogando a responsabilidade de nossos atos nos ombros alheios, ou nas vidas passadas, tornando-nos vítimas e eximindo-nos de contribuir com nossa parcela para eliminar melindres, ressentimentos e antipatias no seio do próprio lar.

Em razão disso tudo, para que tenhamos relacionamentos felizes no futuro, tomemos nota do lema: “O ontem já passou. Agora é a melhor ocasião para teu crescimento e renovação”.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Viver com Naturalidade

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 38

“... Vivei com os homens de vossa época, como devem viver os homens...”

“... Fostes chamados a entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos; não choqueis nenhum daqueles com os quais vos encontrardes. Sede alegres, sede felizes, mas da alegria que dá uma boa consciência...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17 - Item 10

Viver “felizes segundo as necessidades da Humanidade” (1) é viver com naturalidade, ou seja, participar efetivamente na sociedade usando nosso jeito natural de ser.

Todos nós fomos abençoados com determinadas vocações, e o mundo em que vivemos precisa de nossa cooperação individual, para que possamos, ao mesmo tempo, desenvolver nossas faculdades inatas na prática social e aumentar nossa parcela de contribuição junto à comunidade em que vivemos, no aperfeiçoamento da humanidade.

Possuímos talentos que precisam ser exercitados para que possam florescer, mas poucos de nós damos o real valor a essa tarefa. Esses mesmos talentos estão esperando nosso empenho de “se dar força”, a fim de colocá-los em plena ação no intercâmbio das relações com as pessoas e com as coisas.

Não podemos então olvidar que viver no mundo é “entrar em contato com espíritos de natureza diferente, de caracteres opostos” (2), reconhecendo que cada um dá o que tem, vive do jeito que pode, percebe da maneira que vê, admitindo que, por se tratar de tendências, talentos e vocações, todos nós temos a peculiar necessidade de “ser como somos” e “estar onde quisermos” na vida social.

Talentos são impulsos naturais da alma adquiridos pela repetição de fatos semelhantes, através das vidas sucessivas. Vocação é a “voz que chama”, palavra oriunda do latim vocatus, que quer dizer chamado ou convocação.

Pelo fato de a Natureza ser uma verdadeira “vitrina” de biodiversidade ou multiplicidade de seres, é que cada indivíduo tem suas próprias ferramentas, úteis para laborar na lida social.

Todas as árvores são árvores, mas o pessegueiro não tem as mesmas peculiaridades do limoeiro, nem o abacateiro as da mangueira. Por isso, cada pessoa também se exprime em níveis diversos segundo as múltiplas formas com que a Sabedoria Divina nos plasmou na criação universal.

Assim, todos somos convocados a “agir no social”, não com “um aspecto severo e lúgubre, repelindo os prazeres que as condições humanas permitem” (3), mas felizes, fazendo uso de nossos potenciais e faculdades prazerosamente.

Jesus de Nazaré vivia, à sua época, uma vida mística e distante da sociedade?

O Cristo de Deus se integrava intensamente no social, “participando das festas de casamento” (4), “do relacionamento fraterno, amando intensamente os amigos” (5). “Sem preconceito algum fazia visitas e tomava refeições em companhia de variadas criaturas” (6), percorrendo cidades, campos e estradas sempre acompanhado dos amigos queridos e das multidões que O cercavam.

Em vista disso, devemos entender que as leis do Criador deram às criaturas inclinações e aptidões íntimas e originais, para que elas pudessem conviver entre si, oferecendo a cada uma participação também original na vida comunitária de maneira “sui generis”.

Devemos, sim, viver no mundo com a consciência de que somos espíritos imortais em crescimento e progresso, e de que o nosso “ânimo de viver” em sociedade depende de colocarmos em prática as nossas verdadeiras capacidades e vocações da alma.

Lembremo-nos, contudo, de que a palavra “ânimo” quer dizer “alma”, do latim animus, e de que devemos, cada um de nós, “viver com alma” no círculo social do mundo.


1, 2 e 3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17 - Item 10.
4. João 2:1 e 2.
5. João 15:13.
6. Mateus 9:10.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Conveniência

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 37

“... Quando derdes um jantar ou uma ceia, não convideis nem vossos amigos, nem vossos irmãos, nem vossos parentes, nem vossos vizinhos que forem ricos, de modo que eles vos convidem em seguida, a seu turno, e que, assim, retribuam o que haviam recebido de vós...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 13 - Item 7

Fazer o bem pelo único prazer de fazê-lo, amar sinceramente dando o melhor de nós mesmos sem pensar em retribuições - eis a base do amor incondicional.

A sinceridade é o melhor antídoto para afastar falsas amizades. Convidar à mesa os pobres, os estropiados, os coxos e os cegos - na recomendação de Jesus - é angariar relacionamentos satisfatórios, leais, estimulantes, sem segundas intenções.

Talvez por querermos levar vantagens e proveito em tudo, tenhamos atraído para o nosso círculo afetivo amizades vazias, distorcidas, que representam verdadeiros parasitas de nossas energias. Por isso nos sentimos, algumas vezes, inadaptados ao meio em que vivemos.

Mas se amarmos por amar, encontraremos criaturas que não se preocuparão com as escalas hierárquicas e nos aceitarão como somos. Não esperarão de nós toda a sabedoria para todas as respostas, apenas compartilharão conosco o carinho de bons amigos.

O refrão da conveniência é: “vou te amar se...

Se me recompensares, serei teu amigo.

Se me convidares, eu te prestigiarei.

Se ficares sempre a meu lado, eu te amarei.

Se concordares comigo, concordarei contigo.

Jesus nos pede desinteresse nas relações, e não imposições de conformidade com as nossas paixões. Ele nos ensina a lição de não manipularmos ocasiões, porque toda cobrança fragiliza relacionamentos, e em verdade é uma questão de tempo para que tudo venha a ruínas.

Os sentimentos verdadeiros não são mercadorias permutáveis, mas alimentos nutrientes das almas, os quais nos dão fortalecimento durante as provas e reerguimento perante as lutas expiatórias.

Quando esperamos que os outros supram nossas carências e nos façam felizes gratuitamente, não estamos de fato amando, mas explorando-os.

Ao identificarmos jogos de manipulação, procuremos relembrar nossa verdadeira missão na Terra, pois sabemos que não viemos a este mundo a fim de agradar os outros ou viver à moda deles, mas para aprender a amar a nós mesmos e aos outros, sem condições.

Em muitas ocasiões, fundimos nossos sentimentos com os de outros seres - cônjuge, pais, filhos, amigos, irmãos - e perdemos nossas fronteiras individuais, por ser momentaneamente conveniente e cômodo. A partir daí, esperamos sempre retribuições deles, nossos amados, e sofreremos se eles não fizerem tudo como desejamos.

Esquecemos de abrir o círculo da afetividade para outros seres e não percebemos o quanto é saudável e imensamente vitalizante essa postura. Continuamos a convidar à mesa somente aqueles com quem fazemos questão de compartilhar mútuos interesses.

Embora, de início, não avaliemos o mal que essa atitude nos causa, é provável que soframos a solidão num amanhã bem próximo, pois os laços afetivos podem ser desfeitos pela morte física ou por separações outras. Por termos restringido esses vínculos afetivos, sentiremos certamente a tristeza de quem se acha só e abandonado como se tivesse perdido o “chão”.

A observação dos jogos sociais dar-nos-á sempre uma real percepção de onde e quando existem encontros unicamente realizados para a busca de vantagens pessoais. E para que possamos promover autênticos encontros, providos de sinceridade e boas intenções, é preciso sejamos primeiramente honestos com nós mesmos, para atrairmos as legítimas aproximações, através de nossos pensamentos e propósitos de franqueza.

A vantagem dos relacionamentos sinceros é uma abertura de nossa afetividade em círculos cada vez maiores, que, por sua vez, edificarão uma atmosfera de carinho e lealdade em torno de nós mesmos, atraindo e induzindo criaturas francas e maduras a partilhar conosco toda uma existência no Amor.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Imposições

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 36

“... Não é o que entra na boca que enlameia o homem, mas o que sai da boca do homem. O que sai da boca parte do coração, e é o que torna o homem impuro...”

“... mas comer sem ter lavado as mãos não é o que torna um homem impuro...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 8 - Item 8

Os costumes de uma época refletem de tal maneira sobre os indivíduos que eles passam a vê-los primeiramente como “normas sociais”, depois como “valores morais”, culminando finalmente como “ordens divinas”.

A liberdade de pensar e agir é um dos direitos mais sagrados do homem e, portanto, asas poderosas para o seu adiantamento espiritual. Liberdade da qual ele nunca deverá abrir mão, em hipótese alguma. Pessoas amarradas por normas opressoras mal podem respirar o ar de suas próprias ideias e mal podem se locomover para o crescimento interior, porque aspirações são anuladas, gestos são vigiados, anseios são negados constantemente.

“Não é o que entra na boca que enlameia o homem, mas o que sai da boca do homem.” - adverte Jesus de Nazaré às criaturas de seu tempo, que se apegaram às práticas e regulamentos preestabelecidos pelos homens e dos quais eles mesmos, por ser pessoas ortodoxas e intolerantes, faziam “casos de consciência".

Os judeus, por confundirem frequentemente leis divinas com leis civis, atribuíam ao costume de lavar as mãos antes das refeições, à circuncisão, às questões do sábado e a outras tantas situações sociais, motivos geradores de polêmicas religiosas, porque se prestavam mais às práticas exteriores do que aos verdadeiros anseios de renovação das almas.

As pessoas de bem, no início do século, declaravam que os senhores dignos e respeitáveis deveriam somente sair à rua de chapéu, paletó e gravata, bem como, as honradas senhoras, de forma alguma, andariam desacompanhadas da família, devendo vestir também toda uma “toilette” impecável com imprescindíveis luvas, chapéus, leques e lenços perfumados, como elementos de “bem se compor” das elites da época.

No tempo de Jesus não poderia ser diferente. Ele, vivendo entre criaturas radicais, fanáticas pelas crenças religiosas do passado, que cultuavam “normas” e “regras” dadas pelos antigos profetas, haveria de não ser compreendido por sua postura de relacionamento livre de preconceitos e por ensinar sempre novos aspectos de ver e sentir a vida.

O Mestre tinha “senso de alma”, ou seja, bom senso, porque usava sua sensibilidade e lógica para orientar a si mesmo e aos outros que lhe escutavam as lições de sabedoria, pois era contrário à superstição e à hipocrisia dos que “honravam com os lábios, mas não com o coração”.

O que é moral ou imoral é relativo, em se tratando de costumes e regras sociais, porque em cada tempo, em cada era e em cada povo mudam-se as leis sociais, mudam-se os valores, muda-se a moral social.

No entanto, a moral à qual se reportava o Cristo de Deus não era aquela estabelecida pelos padrões imperfeitos do conhecimento humano, nem a que faz comparações do que é adequado ou inadequado, nem a que faz estatística e rotula coisas e pessoas. Entende-se que nossa alma tem sua própria história de vida, que somos totalmente individualizados por termos sido expostos a diversos estímulos e experiências diferentes ao longo da nossa jornada, na multiplicidade das vidas, e, portanto, devemos ser vistos de conformidade com a nossa vida interior.

Ele sabia que grande parte do nosso sofrimento ou conflitos internos provinha do fato de nos considerarmos errados, por não estarmos dentro dos moldes convencionados pela sociedade em que vivemos.

Matar será sempre imoral perante as Leis Divinas, apesar de que, dentro dos padrões da “moral social”, matar na guerra é motivo de condecorações com medalhas e honrarias.

Dessa forma, analisemos, raciocinando com discernimento: a que moral nós estamos nos prendendo? A das leis passageiras da elite de uma época, ou a das leis eternas e verdadeiras de todos os tempos?

Pesquisemos atentamente os alicerces de nossa conduta moral. Eles podem ser os frutos de nossa dor, por permanecermos presos ao conflito de “lavarmos ou não as mãos”; ou podem ser as raízes de nossa felicidade, por seguirmos Jesus escutando a voz do nosso coração.

sexta-feira, 4 de maio de 2018

Belo Planeta Terra

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 35

“Ora, da mesma forma que, numa cidade, toda a população não está nos hospitais ou nas prisões, toda a Humanidade não está sobre a Terra; como se sai do hospital quando se está curado, e da prisão quando se cumpre o tempo, o homem deixa a Terra por mundos mais felizes, quando está curado das suas enfermidades morais.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 3 - Item 7

Realmente, a Terra é um minúsculo grão de areia no imenso cosmo universal. Mundos incontáveis, estrelas de maior grandeza que o Sol, circulam pelos complexos interplanetários, e constelações inúmeras se encaixam em galáxias de milhares de anos-luz.

Assegura a ciência que a Via-Láctea possui mais de 200 milhões de estrelas espalhadas harmonicamente entre suas nebulosas, e que sua forma espiralada tem uma extensão aproximada de 100 mil anos-luz para ser percorrida de uma ponta a outra.

Vivemos num turbilhão de galáxias e galáxias, somos viajores do espaço, habitantes do Universo em busca da perfeição, e o nosso destino é a felicidade plena.

Nosso planeta é a residência que nos acolhe atualmente; portanto, amá-lo e protegê-lo é o nosso lema.

A Terra, de uma beleza sem igual, é para nós outros, encarnados e desencarnados, domiciliados temporariamente neste orbe azulado, o nosso ninho de aconchego e progresso espiritual. Nossa concepção de beleza é ajustada às condições de evolução do planeta. O que vemos e sentimos está sintonizado com nosso modelo de “belo interior” e, por conseguinte, vislumbramos fora o que somos por dentro.

“A boca fala do que está cheio o coração” (1), disse Jesus, e nós completamos: os olhos veem conforme nossa atmosfera interior. É por isso que alguns afinam: este planeta é uma prisão; outros dizem porém: não, é um hospital; mais além outros tantos asseguram: é um belo jardim de paz.

Tua casa psíquica determina tua existência, tua observação focaliza pântanos pestilentos ou fontes cristalinas, serpentes ou pássaros e, assim, diriges teu modo característico de ver, conforme teu modelo interior, materializando e evidenciando as coisas ou as pessoas fora de ti mesmo.

O mundo moderno coloca o pensamento ecológico como um dos meios para que os homens possam sobreviver no planeta, inter-relacionando perfeitamente a flora e a fauna existentes em nosso meio ambiente. Tudo está integrado em tudo: as águas necessitam das plantas e vice-versa; os animais, das florestas; e os homens fazem parte desse elo ecológico, não como parte imprescindível, mas como parte integradora.

Allan Kardec, um dos precursores do pensamento ecológico, desde 1868, refere-se à Providência Divina como a atenção de Deus para com tudo e todos, definindo-a como a solicitude que “está por toda parte, tudo vê e a tudo preside, mesmo as menores coisas; é nisso que consiste a ação providencial” (2).

Transcorrido mais de um século, a humanidade continua estudando e observando essa “atenção celestial”, em que cada ser vivo do planeta se interconecta, sendo todos essencialmente necessários para a manutenção de todos, e aprendendo a ver a vida em suas harmoniosas relações de “auto-ajuda”, visto que submetida sempre a uma “Ação Superior e Inteligente”, que a todos provê.

Paralelamente, e em razão disso, se os rios e as florestas morrerem, os homens também perecerão de modo parcial.

Todos nós somos Natureza, somos vida em abundância. Também tu és Natureza, e as várias moradas às quais se referia Jesus são hoje, pelo Espiritismo, levadas a outras tantas interpretações de maior compreensão e discernimento quanto ao modo de examinar e analisar a vida no planeta.

Ama a Terra! Ama a Natureza! Nosso mundo, nossa casa!


1. Lucas 6:45.
2. A Gênese - Allan Kardec, Capítulo II, item 20.