quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Velhas Recordações, Velhas Doenças

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed
Capítulo 49

“Quantas vezes perdoarei a meu irmão? Perdoar-lhe-eis não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes...”
“... Escutai, pois, essa resposta de Jesus e, como Pedro, aplicai-a a vós mesmos; perdoai, usai de indulgência, sede caridosos, generosos, pródigos mesmo de vosso amor...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 10 - Item 14

Trazemos múltiplos clichês mentais arquivados no inconsciente profundo, resultado de velhas recordações danosas herdadas das mais variadas épocas, seja na atualidade, seja em outras existências no passado distante.

Essas fontes emitem, através de mecanismos psíquicos, energias que não nos deixam sair com facilidade do fluxo desses eventos desagradáveis, registrados pelas retinas da alma, mantendo-nos retidos em antigas mágoas e feridas morais entre os fardos da culpa e da vergonha.

Por não recordarmos que o perdão a nós mesmos e aos outros é um poderoso instrumento de cura para todos os males, é que impedimos o passado de fluir, não dando ensejo à renovação, e sim a enfermidades e desalentos.

Tentamos viver alienados dos nossos ressentimentos e velhas amarguras, distraindo-nos com jogos e diversões, ou mesmo buscando alívio no trabalho ininterrupto, mas apenas estamos adiando a solução futura da dor, porque essas medidas são temporárias.

É mais fácil dizer que se tem uma úlcera gástrica do que admitir um descontentamento conjugal; é mais fácil também consentir-se portador de uma frequente cólica intestinal do que aceitar-se como indivíduo colérico e inflexível.

Muitas moléstias antes consideradas como orgânicas estão sendo reconhecidas agora como “psicossomáticas”, porque se encontraram fatores psicológicos expressivos em sua origem.

As insanidades físicas são quase sempre traduzidas como somatizações das recordações doentias de ódio e vingança, que, mantidas a longo prazo, resultam em doenças crônicas.

Dessa forma, compreenderás que a gravidade e a duração dos teus sintomas de prostração e abatimento orgânico são diretamente proporcionais à persistência em manteres abertas tuas velhas chagas do passado.

As predisposições físicas das pessoas às enfermidades nada mais são do que as tendências morais da alma, que podem modificar as qualidades do sangue, dando-lhe maior ou menor atividade, provocar secreções ácidas ou hormonais mais ou menos abundantes, ou mesmo perturbar as multiplicações celulares, comprometendo a saúde como um todo.

Portanto, as causas das doenças somos nós sobre nós mesmos, e, para que tenhamos equilíbrio fisiológico, é preciso cuidar de nossas atitudes íntimas, conservando a harmonia na alma.

Indulgência se define como sendo a facilidade que se tem para perdoar. Muitos de nós ficamos constantemente tentando provar que sempre estivemos certos e que tínhamos toda a razão; outros ficam repisando os erros e as faltas alheias. Mas, se quisermos saúde e paz, libertemo-nos desses fardos pesados, que nos impedem de voar mais alto, para as possibilidades do perdão incondicional.

Perdoar não significa esquecer as marcas profundas que nos deixaram, ou mesmo fechar os olhos para a maldade alheia. Perdoar é desenvolver um sentimento profundo de compreensão, por saber que nós e os outros ainda estamos distantes de agir corretamente. Por não estarmos, momentaneamente, em completo contato com a intimidade de nossa criação divina, é que todos nós temos, em várias ocasiões, gestos de irreflexão e ações inadequadas.

Das velhas doenças nos libertaremos quando as velhas recordações do “não-perdão” deixarem de comandar o leme de nossas vidas.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Os Olhos do Amor

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed
Capítulo 48

“Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens, e mesmo a língua dos anjos, se não tivesse caridade não seria senão como um bronze sonante...”
“... A caridade é paciente; é doce e benfazeja; a caridade não é invejosa; não é temerária e precipitada; não se enche de orgulho; não é desdenhosa; não procura seus próprios interesses; não se melindra e não se irrita com nada...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 15 - Item 6

Quando Paulo de Tarso definiu a verdadeira caridade, deixando implícito ser a “reunião de todas as qualidades do coração”, isto é, o “amor”, diferenciou-a completamente da prestação de serviços aos outros, da distribuição de esmolas, da assistência social, da ajuda patológica aos dependentes afetivos, de compensações de baixa estima, ou de tudo que se referia a atitudes exteriores, sem qualquer envolvimento do amor verdadeiro.

Reforçou seu conceito acrescentando que: “E quando tivesse distribuído meus bens para alimentar os pobres, e tivesse entregue meu corpo para ser queimado, se não tivesse caridade, tudo isso não me serviria de nada”.

Muitas vezes, “doamos coisas” ou “favorecemos pessoas”, a fim de proporcionar a nós mesmos, temporariamente, uma sensação de bem-estar, de poder íntimo ou de vaidade pessoal, com o que compensamos nossos desajustes emocionais e complexos de inferioridade.

São sentimentos transitórios e artificiais que persistem entre as criaturas, que, por não se encontrarem satisfeitas consigo mesmas, trazem profunda desconsideração e desgosto, e supervalorizam-se fazendo “algo para o próximo”, para provar aos outros que são boas, importantes e merecedoras de atenção.

Na realidade, caridade é amor, e amor é a divina presença de Deus em nós. Raio com que Ele modela tudo, o amor é considerado a real estrutura da vida e a base de toda a Lei Universal.

É imprescindível esclarecermos que há inúmeras formas de focalizar a caridade, e nós nos reportaremos a ela como o “amor-essência” - energias que emergem de nossa natureza mais profunda: a Onipresença Divina que habita em tudo.

Minerais, vegetais, animais e seres humanos, ao mesmo tempo que vibram também recebem essa “vitalidade amorosa”, num fenômeno de trocas incessantes. Um mineral de rocha permanecerá como tal, enquanto a “atração” e a “tendência” de seus átomos e moléculas se mantiverem atraídos e integrados uns aos outros. Tais “atrações” constituem os primeiros estágios dessa energia do amor nos seres primitivos. Semelhante “poder atrativo” prospera e se movimenta em cada fase da vida, de conformidade com o grau evolutivo em que se encontram os elementos e as criaturas em ascensão.

Observemos a Natureza: propensões, gostos e identificações com as quais se particularizam cada ser do Universo, inclusive a própria criatura humana, são movimentações dessa “força de predileção”, nomeada comumente por “aspiração amorosa”.

Segundo o apóstolo João, “Deus é Amor: aquele que permanece no amor permanece em Deus e Deus permanece nele” (1). Consequentemente, nós, herdeiros e filhos Dele, somos Amor, criados por esse plasma divino; portanto, somos oriundos do “Amor Incomensurável”, que sustenta e dirige suas criaturas e criações universais.

Todos estamos nos descobrindo no processo dinâmico da evolução, que se assemelha a um gradativo despetalar de camadas e mais camadas; inicia-se pelas mais densas até atingir “o cerne” - nosso âmago amoroso.

“Deus fez os homens à sua imagem e semelhança” (2) e, dessa forma, somente conheceremos o verdadeiro sentido da caridade como amor criativo, integrador e generoso, quando tivermos uma clara consciência de nós mesmos.

No momento em que passamos a identificar nos outros a mesma essência de amor da qual eles e nós somos feitos, seremos capazes de discernir o que é o sentimento de caridade. Seja jovens, velhos, crianças, sadios ou doentes, seja homens ou mulheres, se passarmos a amá-los incondicionalmente, como nos exemplificou Jesus, Nosso Mestre e Senhor, aí estaremos completamente integrados na caridade.

Caridade não consiste em assumir e comandar sentimentos, decisões, bem-estar, problemas, evolução e destino das pessoas, aquilo, enfim, que elas podem e devem fazer por si mesmas, porque quando tentamos reduzir as dificuldades delas, responsabilizando-nos por seus atos, estamos também impedindo seu real crescimento e amadurecimento, somente alcançados através das experiências que precisam enfrentar. Assim, distorcemos a genuína mensagem da caridade, do amor ou da doação verdadeira.

Encontramos ainda na 1ª Epístola de João: “Não escrevo um novo mandamento, mas sim aquele que tivemos desde o princípio: que amemos uns aos outros” (3).

Quanto mais limitada e particularizada for a maneira de viver o amor, menor será nossa consciência de que todos os seres humanos têm uma capacidade ilimitada de amar ao mesmo tempo muitas pessoas. Quanto mais o amor for compartilhado com os outros, mais nos desenvolveremos e nos plenificaremos na vida.

Olhar os outros com os olhos do amor é a grande proposta da caridade. O verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus, era: “Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas” (4).

Caridade é amor, e não há amor onde não houver “profundo respeito” aos seres humanos. Se substituirmos na conceituação de Jesus as palavras “benevolência”, “indulgência e perdão “amor/respeito”, compreenderemos realmente esse sentimento incondicional do Mestre por todas as criaturas.

“Amor/respeito para com todos”, “Amor/respeito para com as imperfeições alheias”, “Amor/respeito aos ofensores”: aqui estão as regras básicas da conduta do Cristo.

Não olvidemos, porém, que respeitar os outros não quer dizer “ser conivente” ou “manter cumplicidade”.

Concluímos ajustando o texto de Paulo ao nosso melhor entendimento: “Ainda que eu falasse a língua dos homens e também a dos anjos; ainda que eu tivesse o dom da profecia e penetrasse todos os mistérios; ainda que eu dominasse a ciência e tivesse uma fé tão grande que removesse montanhas, tudo isso não me serviria de nada se não tivesse amor/respeito aos seres humanos”.

1. I João 4:16.
2. Gênesis 1:26.
3. I João 3:11.
4. Questão 886, O Livro dos Espíritos.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Estado Mental

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed
Capítulo 47


“... O egoísmo é, pois, o objetivo para o qual todos os verdadeiros crentes devem dirigir suas armas, suas forças e sua coragem; digo coragem porque é preciso mais coragem para vencer a si mesmo do que para vencer os outros...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 11 - Item 11


Para que atinja a espiritualidade, já afirmavam as antigas religiões do Oriente, seria preciso que o homem se apartasse do “maya”, que são as ilusões da existência, do nascimento e da morte.

Para que pudesse conquistar o “nirvana”, diziam que seria imperativo extinguir todo o desejo de ser, aniquilando assim o “ego”, que é a individualidade exaltada e distraída pelas fantasias do mundo.

Ao mesmo tempo, encontramos Jesus Cristo instruindo-nos que, para alcançarmos o “Reino de Deus”, é preciso nos despojarmos do “egoísmo”, o terrível adversário do progresso espiritual.

As Bem-Aventuranças do Mestre nada mais são do que vias para se alcançar a iluminação, ou seja, elevar-se através da mansuetude, humildade e simplicidade, abandonando todo sentimento de personalismo.

A moderna psicologia tem toda a atenção voltada para que as pessoas entrem em contato com a realidade e terminem com suas ilusões, que são as causas da distorção de sua visão e percepção de si mesmas em relação às outras.

O “maya” das religiões orientais era tudo que impedia as almas de atingir o estado de “bem-aventurados”, também conceituado como “nirvana” ou “reino dos céus”, conforme as diferentes denominações e crenças religiosas.

É realmente a ilusão de satisfazermos os próprios interesses em detrimento dos interesses dos outros que caracteriza o estado de egoísmo - um conjunto enorme de ilusões, que nos tira do senso de realidade e de uma compreensão mais acurada de tudo e de todos.

“Não devo ser contrariado”, “Preciso controlar os outros”, “Sou dono da verdade”, “Nunca poderia ter acontecido comigo” são atitudes ilusórias herdadas por nós de crenças despóticas e prepotentes, filhas da egolatria, ou seja, do “culto ao eu”.


As ilusões de “tudo para mim” ou de “tudo girar em torno de mim” vêm do interesse individualista, resquício da animalidade por onde transitamos, em priscas eras, em contato com os reinos menores da natureza.

A caça no mundo animal nada mais é do que o uso dos instintos de preservação e conservação. Felinos de grande ou pequeno porte como, por exemplo, o leão e o gato, matam seres indefesos e cordiais, como o antílope e o beija-flor, para alimentar unicamente a si próprios e suas crias. Não devem, porém, ser considerados como egoístas e cruéis, pois somente colocam em prática os mecanismos atávicos de sua criação, frutos da própria Natureza.

“O egoísmo e o orgulho têm a sua fonte num sentimento natural: o instinto de conservação. Todos os instintos têm sua razão de ser e sua utilidade, porque Deus nada pode fazer de inútil” (1).

Com a simples presença no lar de um segundo filho do casal, é perceptível em quase todas as crianças a necessidade exclusivista de atenção dos pais em torno delas, como centro de tudo. É natural e compreensível o aparecimento do impulso egóico.

O medo de perder suas satisfações, cuidados e compensações psicoemocionais faz com que a criança nessas condições use o “instinto de preservação”, a fim de “conservar” o carinho, o afago e o amor, antes somente voltados para ela, e agora divididos com o novo irmão.

O denominado ciúme ou egocentrismo infantil não poderá ser considerado anormal, desde que não tome proporções alarmantes. E uma reação natural diante de situações verdadeiras ou imaginadas, de perda de afeto, podendo existir sutilmente disfarçada ou claramente demonstrada.

Nas criaturas que desenvolvem seus primeiros passos no aperfeiçoamento ético-moral, a tendência egoística é um estado instintivo, próprio do seu grau evolutivo, e não um defeito de caráter incompreensível, nem uma imperfeição inexplicável da índole humana.

“Esse sentimento, encerrado em seus justos limites, é bom em si; é o exagero que o torna mau e pernicioso...” (2) Como o feto necessita, por determinado tempo, do cordão umbilical ou mesmo da placenta para sua manutenção, assim também a humanidade transformará gradativamente esse impulso inato e ancestral, adquirido através dos séculos e séculos, na luta pela sobrevivência nos estágios primitivos da vida.

Essa mesma humanidade absorverá no futuro atitudes mais equilibradas e coerentes com seu patamar evolutivo, aprendendo a usar cada vez melhor seus sentimentos, antes somente instintos.

Dessa forma, entendemos que o egoísmo, esse agrupamento de ilusões de supremacia, existirá por determinado período de tempo nas criaturas, até que elas consigam se conscientizar de que a atitude de “lavar as mãos”, de Pôncio Pilatos, isto é, consideração excessiva aos seus interesses pessoais, agindo arbitrariamente, trará sempre desilusões e obstrução na percepção do mundo em que vivemos. Já o exemplo do Cristo nos transfere a uma ampla realidade de que o amor é a única força capaz de nos trazer lucidez e equilíbrio no relacionamento conosco e com os outros.

Eis o antídoto contra o egoísmo: “Não fazer aos outros o que não gostaríamos que os outros nos fizessem”.

1. e 2. Obras Póstumas – Allan Kardec, Capítulo "O egoísmo e o Orgulho".

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Incógnitas

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed
Capítulo 46

“... Todos tendes más tendências a vencer, defeitos a corrigir, hábitos a modificar; todos tendes um fardo mais ou menos pesado a depor para escalar o cume da montanha do progresso. Por que, pois, serdes tão clarividentes para com o próximo e cegos em relação a vós mesmos?...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 10 - Item 18

Analisas a obra assistencial e a criticas, afirmando que a tarefa poderia ser muito melhor, que o atendimento requer técnicas mais apropriadas e que, se outras prioridades fossem atingidas, então as metas sociais seriam mais abrangentes.

Mas não te dispões a doar tuas mãos na realização de uma vida melhor aos necessitados.

Analisas o expositor e o criticas, argumentando que a narrativa poderia ser mais convincente e menos enfadonha. Que se ele lançasse mão de recursos de oratória e tivesse um vocabulário mais rico, prenderia mais a atenção e elucidaria melhor os ouvintes.

Mas não te dispões a ler e a estudar, e muito menos a falar em público no serviço de reeducação das pessoas, retirando-as das crenças negativas que bloqueiam vidas.

Analisas o administrador do serviço e o criticas, asseverando que ele mantém posição intransigente e orgulhosa, e julgas que ele deveria ser mais humilde e compreensivo no trato com os dirigidos.

Mas não te dispões a usar a mesma compreensão e humildade exigidas dele, não percebendo que vês o cisco no olho dos outros, e não vês a trave no teu.

Analisas a conduta alheia e a criticas, observando rigorosamente procedimentos e atitudes que julgas inadmissíveis, e te colocas distante e impermeável a condutas levianas.

Mas não te dispões a ajudar sinceramente a ninguém, e te esqueces de que poderás vir a errar, pois todos os que vivem sobre a Terra são passíveis de enganos e desacertos.

Analisas o governo do país e o criticas, julgando pela tua ótica que todos os parlamentares ou ocupantes de cargos governamentais não são confiáveis nem bons servidores, e que a nação está envolvida no caos.

Mas não te dispões a cooperar e nada fazes pela comunidade em que vives, relegando somente aos governantes obrigações e deveres, esquecendo que todos nós vivemos interligados e que depende também de ti o bem-estar e a prosperidade da população.

Analisas dores e sofrimentos e criticas a vida, dizendo-te sozinho e desamparado perante a Providência Divina e que Deus te abandonou.

Mas não te dispões a renovar-te, não te dando conta que, se não fizeres auto-observação em teus atos e atitudes negativas, continuarás atraindo energias desconexas que te descontrolarão o cosmo orgânico.

Incoerente é a posição de toda criatura que reclama, critica, ofende, esbraveja e que nunca se faz apta a fazer algum bem, em favor de si mesma ou dos outros.

Perplexos ficamos todos nós diante das rogativas das pessoas que solicitam ajuda com os lábios, e nunca com ações; que muito pedem e nunca doam; que somente visualizam as necessidades próprias, e nunca vêem a vida como um ritmo cósmico interconectado com todas as coisas, de maneira que o “todo” é mantido pelo apoio das “partes”.

Examinemos, pois, com profundidade nossas críticas, porque elas dificultam a transformação e o progresso de nossa existência, se não forem estruturadas na reflexão e na reparação de nossos erros.

Para que não sejas uma incógnita na vida que Deus te proporcionou, não faças crítica pela crítica, mas sim trabalha como e quanto puderes, sempre em tua órbita de possibilidades, para que a prosperidade seja uma constante em teus caminhos.


terça-feira, 6 de agosto de 2019

Grau de Sensibilidade

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed
Capítulo 45

“... Homens de uma capacidade notória que não a compreendem, enquanto que inteligências vulgares, de jovens mesmo, apenas saídos da adolescência, a apreendem com admirável exatidão em suas mais delicadas nuanças...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17 - Item 4

Na realidade, são homens sensíveis todos aqueles que aprenderam a focalizar intensamente a essência das coisas. Sabem sintetizar e observar sem julgamentos prévios as ocorrências e assuntos, examinando-os como eles se apresentam realmente, com uma lucidez e discernimento cada vez maiores.

Sensibilidade é patrimônio do espírito que já atingiu um certo grau de percepção e detecção proveniente do âmago dos fatos. Faculdade esta alicerçada no “senso de realidade”, que tem a capacidade de penetrar nas ideias novas, captá-las e analisá-las sutilmente, com admirável eficiência e exatidão.

Há criaturas, porém, que se apegam somente aos fenômenos e manifestações espetaculares do mundo espiritual. Imaturas e insensíveis, não compreendem as consequências éticas existentes por detrás dessas mesmas manifestações. Não percebem os horizontes ilimitados que se descortinam em razão da crença na imortalidade das almas, pois não foram “tocadas no coração” pelo sentimento de que o Universo é o lar que abriga a todos nós, eternos viajantes na embarcação da Vida.

Por não possuírem a “parte essencial”, não tomam consciência do fato de que existir é participar de uma constante renovação, que impulsiona as criaturas ao auto-aperfeiçoamento. Há tempo de começar, crescer, transformar e recomeçar, num eterno reciclar de experiências.

Todavia, aqueles cujo “nível de maturidade” foi desenvolvido, se diferenciam dos outros porque focalizam com seus sentidos acurados as profundezas das coisas e, em muitas ocasiões, conseguem até perceber que certas ciências são muito mais espiritualistas do que determinadas crenças ou cultos religiosos.

Ciências há que transcendem à vida física pelo somatório de bases universalistas: observam, no interagir das relações entre seres vivos e o meio ambiente, uma associação harmônica de “Ordem Divina” e de cunho fraternal. Por outro lado, certas religiões deixam muito a desejar quanto ao sentimento de fraternidade: prometem recompensas imediatistas e ficam presas a dogmas materialistas de infalibilidade e autoritarismo.

Os seres humanos sensíveis estão despertos tanto em seus sentidos externos quanto internos, estão vivos em plenitude, pois experimentam a atmosfera de cada momento.

Estão sempre refletindo e discernindo suas emoções e sentimentos, porque já se permitem experimentar toda uma sucessão de sensações, que decorrem das experiências nas relações humanas.

Portanto, podemos confiar em que cada um de nós, a seu tempo, sensibilizar-se-á pelas coisas espirituais, visto que o desenvolvimento de nosso grau evolutivo transcorre natural e incessantemente em decorrência dos impulsos de progresso que recebemos das leis divinas existentes em nós mesmos.

Aqueles que se prendem unicamente aos fenômenos mediúnicos e em nada se transformam  espiritualmente encontrarão mesmo assim, nesse comportamento, “um primeiro passo que lhes tornará o segundo mais fácil numa outra existência” (1). Trata-se de um processo que não ocorre da noite para o dia, mas que se vai projetando ao longo do tempo e sempre acontece quando estamos prontos para crescer. Aliás, “quando o aluno está pronto, o professor sempre aparece”.

1. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 17 - Item 4.

quinta-feira, 18 de julho de 2019

Desapego Familiar

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 44

“... Mas ele lhes respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? E olhando aqueles que estavam sentados ao seu redor: Eis, disse, minha mãe e meus irmãos; porque todo aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 14 - Item 5

Em correta acepção, desapego quer dizer o sentimento de alguém que desenvolveu sua capacidade de avaliar e selecionar o que “pode” e o que “deve fazer”, estruturado em seu próprio senso de autonomia.

Agarrar-se a familiares de modo exagerado gera desajustes e doenças psicológicas das mais diversas características: desde a mais leve das inseguranças - se deve ou não sair de casa para um passeio a sós, ou que roupa deve usar - até o pânico incontrolável de tudo e de todos, que leva o indivíduo ao desequilíbrio em seu desenvolvimento e maturidade emocional.

A reencarnação faz o ser humano exercitar a independência, quando propõe que ele é um viajante temporário entre pessoas, sexo, profissão, países, continentes ou mundos.

Não obstante, ela não destrói os laços do amor verdadeiro, antes cria diversos vínculos afetivos entre as almas. Pais, cônjuges, filhos e amigos voltam a conviver em épocas e em posições completamente diferentes, estabelecendo na consciência uma maneira universalista de ver os relacionamentos da afeição e da simpatia, sem aprisionamentos ou dependências.

É importante compreendermos que, mesmo em família, não viemos à Terra só para fazer o que queremos, para satisfazer fazer nossos caprichos ou nos agradar, pois não devemos nos ver como devedores ou cobradores uns dos outros, mas como criaturas companheiras que vieram cumprir uma trajetória evolutiva, ora juntas no mesmo séquito consanguíneo. Desse modo, devemos levar em conta a individualidade de cada membro familiar e respeitá-lo, sem imposições ou submissões, pelo modo peculiar que encontrou de ser feliz e dirigir sua própria existência.

Cada pessoa que vive neste planeta deve aprender suas próprias lições, e é inconcebível tentarmos fazer os deveres por elas, porque cada uma aprende com suas próprias experiências e no momento propício.

Podemos, sim, oferecer aos familiares uma atmosfera de compreensão e apoio, para que tenham por si sós a decisão de mudar quando e como desejarem, atitudes essas que permitem relacionamentos seguros e duradouros.

É imperativo que se entenda que as ações possessivas criam indivíduos servis e profundamente inseguros, que futuramente precisarão ter sempre os familiares em sua volta, como uma “corte”, a fim de se sentir amparados.

O exemplo clássico de criaturas apegadas é o daquelas que foram criadas por “superpais”, e que durante muito tempo se mantiveram subjugadas e presas pelos fios invisíveis dessa “suposta proteção”, que, na realidade, era apenas uma “forma inconsciente” de suprir fatores emocionais desses mesmos adultos em desarranjo.

Crianças que foram educadas sob a orientação de adultos incapazes de estabelecer limites às vontades e desejos delas, contentando-as de forma irrestrita, sem nenhuma barreira, desenvolveram dependências patológicas que geraram progressivamente uma acentuada incapacidade de resolver problemas peculiares a sua idade, enquanto outras, nessa mesma idade, mostraram-se perfeitamente habilitadas para encará-los e solucioná-los.

Crianças que se jogam ao chão, entre crises de falta de fôlego e de choro fácil, sem nenhuma razão de ser, são consideradas mimadas. Tais comportamentos resultam do fato de terem sido tratadas como incapazes e com atitudes infantilizadas.

Pessoas inseguras e insuficientemente maduras educam os filhos da mesma maneira que foram criadas, repetindo para sua atual família os mesmos comportamentos “superprotetores” que vivenciaram na fase infantil; ou mesmo, por terem tido uma enorme experiência de rejeição no lar, também adotam a “superproteção” como forma de compensar tudo o que passaram e sofreram na infância.

Encontramos uma das maiores lições sobre a liberdade e o desapego nas palavras de Jesus de Nazaré, quando se aproveitou da circunstância em que estavam reunidas várias pessoas, e lançou o ensinamento do “amor sem fronteiras”.

Apesar de respeitar e amar profundamente sua família, exaltou o “desapego familiar” como a meta que todos deveríamos atingir, a fim de alcançarmos os superiores princípios da fraternidade universal e o verdadeiro sentido da liberdade integral.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Um Impulso Natural

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 43

“... Esse sentimento resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos fluidos...”
“... daí a diferença de sensações que se experimenta à aproximação de um amigo ou de um inimigo...”
“... Amar os inimigos... é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 12 - Item 3

“Amar os inimigos não é, pois, ter para com eles uma afeição que não está na Natureza, porque o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo” (1).

Na investigação profunda da raiva, do rancor ou da ira, devemos considerar os poderosos e irracionais impulsos de agressividade, espontâneos e inatos na psique humana. São emoções ou formações psíquicas que o espírito partilha com o mundo animal, do qual faz parte e de onde evoluiu.

A moderna teoria evolutiva deve mais a Charles Darwin do que a qualquer outro evolucionista, pois foi toda ela construída nas bases de sua obra intitulada “A Origem das espécies”. Hoje está provado cientificamente que as criaturas humanas sofreram um processo de evolução extraordinário. Somente do hominídeo pré-histórico denominado de “Java” ou Pithecanthropus erectus até o homem moderno, transcorreram milhares e milhares de anos de desenvolvimento e aprimoramento do organismo do ser vivo.

Dessa forma, não podemos separar a Natureza de nós mesmos, pois também somos Natureza, já que pertencemos aos mesmos departamentos da vida, desde o mineral, vegetal, animal até ao homem. Na Natureza tudo foi criado com um objetivo e função, porque nada do que está em nós está errado. O que acontece é que, muitas vezes, usamos mal - ou seja, não aprendemos a usar convenientemente e dentro de um senso de equilíbrio - as possibilidades mais íntimas de nossa alma imortal.

Em nossos parentes distantes, os animais irracionais, existe o impulso do ataque/defesa. Manifesta-se também em nós esse mesmo impulso, denominado “instinto de destruição”. É ele uma das primeiras manifestações da lei de preservação, da sobrevivência dos animais em geral, e imprescindível para defendê-los dos perigos da vida.

Nos dias atuais, o termo “raiva” talvez tenha sido interpretado como sendo somente crueldade, violência, vingança, quando, na realidade, significa primordialmente “estado de alerta”, visto que essa energia emocional nos aguça todos os demais sentidos, para uma eventual necessidade de proteção e apoio a qualquer fato ou situação que nos coloque em ameaça.

Esse impulso natural possibilita à nossa mente uma maior oportunidade de elaboração, percepção e raciocínio, deixando-nos alerta para enfrentar e sustentar as mais diversas dificuldades. Ativa nossos desejos de realização, impulsiona ações determinantes para rompermos a timidez e constrangimentos, encoraja-nos a nos colocar no meio social e estimula-nos a defesa/fuga diante de situações de risco.

Em vista disso, entendemos que exaltação, irritação, melindre, raiva, ódio, violência ou crueldade fazem parte da mesma família desse impulso, bem como coragem, persistência, determinação, audácia, valentia. Podemos sentir essas mesmas emoções, em níveis diversos de intensidade, de conformidade com nosso grau de evolução, conceituando esse ímpeto com nomenclaturas diversificadas.

A etimologia da palavra “emoção” significa “movimento para fora’’ e pode ser conceituada como sendo ‘‘movimento que sobe ou emerge em face de um possível estado de prazer ou dor”.

Emoções de “construção”, assim denominadas a simpatia e o afeto, aparecem com a “antecipação do prazer” já as emoções de “destruição”, também conhecidas como raiva ou irritação, surgem com a “antecipação da dor”.

Destruição e construção, isto é, raiva e prazer, são os grandes impulsos de onde derivam todos os demais. Os instintos de construção e destruição são as fontes primitivas às quais todo o processo da vida está ligado e, por certo, o seu controle e direcionamento darão um melhor ou pior curso em nossa existência e em nosso crescimento pessoal.

Portanto, quando ao ser humano é negado o direito de expressar sua raiva ou prazer, castrado nos seus primeiros anos de vida, torna-se uma criança indefesa, com tendência a ter uma personalidade tímida, medrosa e passiva. Já as “tolerâncias ilimitadas” dos pais nessas áreas induzirão o menor a se confundir com o uso de seus impulsos de agressividade e afeto, podendo atingir igualmente, em seu estado adulto, comportamentos apáticos e demonstrar uma enorme falta de iniciativa, infantilização ou superlativa dependência do lar.

Grande parte dos professores, tios, pais e avós mantêm uma forma de visão preconceituosa e obstinada sobre a “raiva”, soterrando os instintos inatos da criança, castigando-a e vendo-a como criatura má e imperfeita, a qual atribuem atitudes reprováveis.

Por acreditarem que tais energias emocionais sejam completamente condenáveis e inadmissíveis, é que forçam os pequenos a ser, a qualquer preço, “adaptados” e “bem-comportados”, à maneira deles. Isso irá gerar mais adiante posturas de isolamento e distanciamento dos adultos, por lhes ter sido negado o exercício de aprender a comandar suas mais importantes e primitivas emoções.

Na contenção da raiva no adulto, notamos o escoamento do instinto para outros órgãos do corpo físico, surgindo assim a somatização com o aparecimento neles dos primeiros sinais de doença, pois para lá que a energia reprimida se transferiu e se localizou.

Em outras situações, as manifestações do descontrole dessas energias geram crises de fúria, predisposições ao suicídio, apatias, acerbações sexuais, paralisias histéricas, sentimentos de culpa, fobias e outros tantos transtornos espirituais e mentais.

Todas as vezes que somos incomodados ou defrontados com agressores, o impulso de raiva vai surgir. Ele é automático, é nosso “estado de alerta”, que nos vigia e que nos defende de tudo aquilo que pode nos comprometer ou destruir.

Nas criaturas mais amadurecidas, contudo, os impulsos instintivos moldaram-se à sua mentalidade superior, e elas passaram a controlá-los, canalizando-os de forma mais adequada e coerente. Esses dois impulsos fundamentais, o prazer e a raiva, nesses mesmos indivíduos foram depurados em seus estados primitivos - atividades eróticas e violentas - e transformados nas atividades das áreas afetiva e de iniciativa com determinação.

Essencialmente, porém, é preciso dizer que o ato de transformação do impulso de destruição não requer a “anulação” ou “extinção” dele em nossa intimidade , e sim o aprendizado de transmutá-lo, observando o que diz literalmente a palavra “transformação”, oriunda do latim: trans quer dizer “através de”; forma, o modo pelo qual uma coisa existe ou se manifesta; e actio, “ação”. Entendemos por fim que, “através de novas ações, mudaremos as formas pelas quais a raiva se manifesta”, sem, todavia, aniquilá-las ou exterminá-las.

Com essa visão, a proposta salutar de canalizar e sublimar a agressividade é promover-nos profissionalmente, criando atividades educativas, usando práticas do esporte e outras tantas realizações. Todos aqueles que se dedicam às atividades nas áreas da criatividade, como poetas, pintores, oradores, escultores, artesãos, escritores, compositores e outros, fazem parte das criaturas que direcionam seus impulsos de agressividade para as artes em geral, sublimando-os.

Por sua vez, os que se exercitam fisicamente constituem exemplos clássicos daqueles que escoam naturalmente para o esporte sua energia de raiva. Outros tantos a transformam, redirecionando-a para as atividades junto aos carentes, nas obras e instituições de promoção e assistência social.

Quando as crianças insistirem em cortar, destruir, quebrar, arrancar, esmagar, torcer, bater ou amassar, estão apenas manuseando suas emoções emergentes de raiva ou seus impulsos agressivos, para que saibam usá-los no futuro com controle e conveniência. Em vez de censurá-los e criticá-los, devemos oferecer-lhes um “material adequado”, para que essas manifestações possam ocorrer plenamente, sem dissabores ou demais prejuízos.

Desse modo, “amar os inimigos não é, pois, ter para com eles uma afeição que não está na Natureza” (2). Nossas emoções são energias que obedecem às leis naturais da vida, são previstas nos estatutos da “Lei de destruição” e da “Lei de conservação”, e agem mecanicamente, pois são disparadas ao detectarmos nossos adversários.

Não obstante, “o contato de um inimigo faz bater o coração de maneira bem diferente do de um amigo” (3), quer dizer, a emoção energética da raiva ativa a glândula supra-renal, que libera a adrenalina no sangue. O coração acelera, a pressão arterial sobe, a respiração se intensifica, os músculos se contraem; daí sentirmos essa sensação estranha e incômoda.

Em síntese, “amar” os inimigos ou adversários, na interpretação do ensino de Jesus Cristo, não é nutrir por eles ódio ou qualquer propósito de vingança, nem mesmo desejar-lhes mal algum. Acima de tudo, o Mestre queria dizer que nossas emoções inatas de raiva, em nosso atual contexto evolutivo, não querem, em verdade, destruir nada do que está “fora de nós”, como se fazia nos primórdios da evolução. Ao contrário, elas querem nos defender, destruindo conceitos, atitudes e pensamentos “dentro de nós”, os quais nos tornam suscetíveis e vulneráveis ao mundo e, consequentemente, nos fazem ser atacados, machucados e ofendidos.

1, 2 e 3. O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 12 - Item 3

quarta-feira, 27 de março de 2019

Todos são Caminhos

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 42

“... Por que essa porta tão estreita, que é dada ao menor número transpor, se a sorte da alma está fixada para sempre depois da morte? É assim que, com a unicidade da existência, se está incessantemente em contradição consigo mesmo e com a justiça de Deus. Com a anterioridade da alma e a pluralidade dos mundos, o horizonte se amplia...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 18 - Item 5

Também os caminhos inadequados que tomamos ao longo da vida são parte essencial de nossa educação. A cada tropeço é preciso aprender, levantar novamente e retornar à marcha.

Tudo o que sabemos hoje aprendemos com os acertos e erros do passado, e cada vez que desistimos de alguma coisa por medo de errar estamos nos privando da possibilidade de evoluir e viver.

A estrada por onde transitamos hoje é nossa via de crescimento espiritual e nos levará a entender melhor a vida, no contato com as múltiplas situações que contribuirão com o nosso potencial de progresso.

Devemos, no entanto, indagar de nós mesmos: “Será este realmente meu melhor caminho?” “Porventura é correta a senda por onde transito?”

É justa a observação e têm propósito nossas dúvidas; por isso, raciocinemos juntos:

- Se Deus, perfeição suprema, nos criou com a probabilidade do engano, modelando-nos de tal forma que pudéssemos encontrar um dia a perfeição, é porque contava com nossos encontros e desencontros na jornada existencial.

- Se nos gerou falíveis, não poderá exigir-nos comportamentos sempre irrepreensíveis, pois conhece nossas potencialidades e limites.

- Se criaturas como nós aceitamos as falhas dos outros, por que o Criador em sua infinita compreensão não nos aceitaria como somos?

- Pessoas não condenam seus bebês por eles não saberem comer, falar e andar corretamente; por que espíritos ainda imaturos pagariam por atos e pensamentos que ainda não aprenderam a usar convenientemente, pela sua própria falta de madureza espiritual?

- O que pensar da Bondade Divina, que permite que as almas escolham seu roteiro, de acordo com o livre-arbítrio, e depois cobrasse aquilo que elas ainda não adquiriram?

A Divindade é “Puro Amor” e sabe muito bem de nossos mananciais espirituais, mentais, psicológicos e físicos, ou seja, de nossa idade evolutiva, pois habita em nosso interior e sempre suaviza nossos caminhos.

Na justa sucessão de espaço e tempo, condizente com o nosso grau de visão espiritual, recebemos, por meio do fluxo divino, a onipresença, a onisciência e a onipotência do Criador em forma de “senso de rumo certo”, para trilharmos as rotas necessárias à ampliação de nossos sentimentos e conhecimentos. Diz a máxima: “Não se colhem figos dos espinheiros” (1); ora, como impor metas sem levar em conta a capacidade de escolha e de discernimento dos indivíduos?

Efetivamente, nosso caminho é o melhor que podíamos escolher, porque em verdade optamos por ele, na época, segundo nosso nível de compreensão e de adiantamento. Se, porém, achamos hoje que ele não é o mais adequado, não nos culpemos; simplesmente mudemos de direção, selecionando novas veredas.

A trilha que denominamos “errada” é aquela que nos possibilitou a aprendizagem e o sentido do nosso “melhor”, pois sem o erro provavelmente não aprenderíamos com segurança a lição.

Nós mesmos é que nos provamos; a cada passo experimentamos situações e pessoas, e delas retiramos vantagens e ampliamos nosso modo de ver e sentir, a fim de crescermos naturalmente, desenvolvendo nossa consciência.

Ninguém nos condena, nós é que cremos no castigo e por isso nos autopunimos, provocando padecimento com nossos gestos mentais.

Aceitemos sem condenação todas as sendas que percorremos. Todas são válidas se lhes aproveitarmos os elementos educativos, porque, assim somadas, nos darão sabedoria para outras caminhadas mais felizes.

Mesmo aquelas trilhas que anotamos como caminhos do mal, não são excursões negativas de perdição perante a vida, mas somente equivocadas opções do nosso livre-arbítrio, que não deixam de ser reeducativas e compensatórias a longo prazo.

Cada um percorre a estrada certa no momento exato, de conformidade com seu estado de evolução. Tudo está certo, porque todos estamos nas mãos de Deus.

1. Lucas 6:44.

domingo, 13 de janeiro de 2019

O Espiritismo

Livro: Renovando Atitudes
Capítulo 41

“O Espiritismo é a nova ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual, e suas relações com o mundo corporal; ele no-lo mostra, não mais como uma coisa sobrenatural, mas, ao contrário, como uma das forças vivas e incessantemente ativas da Natureza...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 1 - Item 5

Uma visão sobre a Vida Maior renasce no século XIX na França: verdadeiro ato heroico fez o notável professor Allan Kardec, ao trazer toda uma ideia sobre espiritualidade para o Velho Mundo, até então adormecido pelas doutrinas materialistas e lucrativas vigentes na época.

O Estado e as classes sociais dominadoras transformavam os interesses de alguns em necessidades de todos. Para assegurar privilégios e poder, usavam dos instrumentos possíveis, desde as religiões, meios de comunicação e até a escola, como difusão de crenças e valores que lhes garantissem a ordem social e seus ideais como verdades de todos.

A religião como instituição sagrada se convertia em instrumento e, ao mesmo tempo, vítima do processo.

Os sacerdotes eram os donos das almas há séculos, e os destinos das criaturas estavam circunscritos às decisões eclesiásticas, que detinham o cetro “divino” da absolvição ou da condenação.

Acreditava-se que as consciências não tinham estrutura de fato para fazer avaliações sobre o certo e o errado; por isso eram manipuladas por crenças autoritárias e arbitrárias, ditadas por homens intransigentes e fanáticos.

A missão imposta às escolas e às universidades era a de contribuir para a difusão e consolidação de ideologias criadas por esses grupos detentores da decisão, formando consciências submissas e servis, tementes a Deus, ao Rei e ao Estado e impondo-se com argumentos incompatíveis com a ordem divina, para atender a necessidades camufladas pelos herdeiros privilegiados e arrogantes de uma sociedade absolutista.

O eminente educador Rivail, homem de uma religiosidade missionária, traz à França, em meio ao positivismo de Augusto Comte, a ideia imortalista do Espiritismo.

Apesar de a crença na reencarnação ter sido banida do movimento religioso pelos concílios  ecumênicos da Antiguidade, Kardec a apresenta ao mundo sob a supervisão dos Espíritos Superiores, estabelecendo assim novos rumos à sociedade, presa a conceitos de superioridade de nascimento e graças especiais entre os escolhidos.

Os preconceitos de classe social, cor e sexo caem por terra, já que pela roda das encarnações sucessivas poderemos habitar os mais diferentes corpos e pertencer às mais diversas castas da sociedade; a família patriarcal e possessiva já não tem razão de ser e a servidão da mulher toma conotação de crença despótica e machista.

Faz-se então uma verdadeira revolução nos costumes medievais que ainda vigoravam na época, a qual encontra consideração por parte de alguns, pela lógica e discernimento da vida como um todo, e oposição sistemática por parte de outros, pelo grau de imaturidade psicológica deles e por mexer em valores íntimos de convencionalismo e superstição arraigados em suas consciências através dos tempos.

O Espiritismo fez renascer nas almas a compreensão da verdadeira natureza do homem e a percepção de que seu destino é fruto de suas escolhas.

Imortalidade da alma e vidas sucessivas são algumas das bases sólidas que abalaram os alicerces de toda uma coletividade estruturada numa visão distorcida da verdade universal. A nova ideologia estabelece por crença indispensável a fraternidade, como concepção de vida real a ser incorporada pelos indivíduos e grupos à medida que suas necessidades espirituais forem tomando aspectos de ascensão e conhecimento.

A Doutrina Espírita é um método extraordinário de educação. A sobrevivência após a morte, a preexistência e a evolução das almas ainda são quase que totalmente desconhecidas pelos povos com ares de hegemonia. Porém, ao tempo certo, delas tomarão consciência, conforme afirma o apóstolo Paulo, quando escreve às igrejas da Galácia: “... porque a seu tempo tudo ceifaremos...” (1)

1. Gálatas 6:9.