segunda-feira, 27 de abril de 2020

Medo - Parte 1

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 6

O resultado do medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade.

Ao lançamos mão de uma lanterna em uma noite escura e focalizamos determinado lugar, vamos torná-lo evidente. Quando destacamos algo, convergimos todas as nossas percepções mais íntimas para o motivo de nossa atenção e, ao examiná-lo, estaremos estabelecendo profundas ligações mentais através de nosso olhar ligado a esse lugar específico.

Focalizar com a lanterna de nossas atenções os lugares, as pessoas, os fatos, os eventos e as coisas em geral significa que estaremos enfatizando, para nós mesmos, o que queremos que a vida nos mostre e nos forneça.

“O Espírito unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em particular, com referência aos Espíritos elevados (...)” (1)

A percepção é um atributo do espírito. Quanto maior o estado de consciência do indivíduo, maior será sua capacidade de perceber a vida, que não se limita apenas aos fragmentos da realidade, mas sim à realidade plena.

Colocar nossa atenção nas coisas da vida é fator importante para o nosso desenvolvimento mental, emocional e espiritual, todavia, é necessário saber direcionar convenientemente nossa percepção e atenção no momento exato e para o lugar certo.

Quanto mais pensarmos e voltarmos nossa atenção para as calamidades e desastres, mais teremos a impressão de que o mundo está limitado à nossa pessoal maneira catastrófica de vê-lo e senti-lo.

Nas oportunidades de crescimento que nos oferecem nossas experiências, temos a possibilidade de validar e potencializar determinadas crenças e conceitos que poderão nos desestruturar psiquicamente, levando-nos a uma verdadeira hipnose mental. A partir disso, esquecemo-nos de visualizar o restante do mundo que nos cerca. Passamos a viver simplesmente voltados para a opinião que adotamos como “única verdade”, assustados e amedrontados entre constantes atmosferas de receio e apreensão.

Em muitas ocasiões, ficamos parados à margem do caminho, focalizando nossos conflitos, dificuldades e problemas, deixando a vida girar em torno deles. Colocamos nossos dilemas como peças centrais e, quando essas forças conflitantes começam a nos ameaçar, sentimo-nos apavorados.

O resultado do medo em nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade, pois quem decidirá como e quando devemos atuar será a atmosfera do temor que nos envolve.

Ancorados pelo receio e pela desconfiança, criamos resistências, obstáculos e tropeços que nos impedem de avançar. Passamos, então, a não viver novas experiências, não receber novos pensamentos e não fazer novas amizades, estacionando e dificultando nossa caminhada e progresso íntimo.

As sensações do medo sobrecarregam as energias dos “chakras” do plexo solar e do cardíaco, provocando, quase sempre, uma impressão de vácuo no estômago e um descontrole nas batidas do coração. Contudo, não seríamos afetados por nenhum acontecimento de maneira tão desgastante, se estivéssemos centrados em nós mesmos.

Nosso centro não é nossa mente, nem nossos sentimentos ou emoções, mas é, em verdade, nossa alma — a essência divina por meio da qual testemunhamos tudo o que ocorre dentro e fora de nós.

Cada um vê o universo das coisas pelo que é. Vemos o mundo e as criaturas segundo o nível de desenvolvimento da consciência em que vivemos. Quanto maior esse nível, mais estaremos centrados e vivendo estáveis e tranquilos. Quanto menor, mais teremos um juízo primário de tudo e uma estreita visão dos fatos e das pessoas.

Aprendendo a focalizar e a desfocalizar nossas crises, traumas, medos, perdas e dificuldades, bem como os acontecimentos desastrosos do cotidiano — dando-lhes a devida importância e regulando o tempo necessário, a fim de analisá-los proveitosamente —, teremos metas sempre adequadas e seguras que favorecerão nosso progresso espiritual. Não devemos jamais subestimá-los ou ignorá-los.

Lembremo-nos de que “a beleza não está somente nas flores do jardim, mas, antes de tudo, nos olhos de quem as admira”.


1. Questão 250 – Constituindo elas atributos próprios do Espírito, ser-lhe-á possível subtrair-se às percepções?

“O Espírito unicamente vê e ouve o que quer. Dizemos isto de um ponto de vista geral e, em particular, com referência aos Espíritos elevados, porquanto os imperfeitos muitas vezes ouvem e vêem, a seu mau grado, o que lhes possa ser útil ao aperfeiçoamento.”

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Ilusão - Parte 2

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 5

É mais produtivo para a evolução das almas acreditar naquilo que se sente do que nas palavras que se ouvem.

As ilusões que criamos servem-nos, de certa forma, de defesas contra nossas realidades amargas. Embora possam, por um lado, nos poupar das dores momentaneamente, por outro, nos tornam prisioneiros da irrealidade. Para possuir uma mente sã é preciso que tenhamos a capacidade de aceitação da realidade, jamais fugindo dela.

Muitos de nós conservam a ilusão de que a posse material proporciona a felicidade; de que o poder e a fama garantem o amor; de que a força bruta protege de uma possível agressão; e de que a prática sexual dá uma integral gratificação na vida. Quase sempre, desenvolvemos essas ilusões na infância com nossos pais, professores, outros parentes, como sendo reais ensinamentos, quando, em verdade, não passam de crenças distorcidas de indivíduos que tinham o dinheiro e o sexo como divindades supremas.

Mesmo quando crescidos e maduros, sentimos medo de abandoná-las. Não será fácil renunciarmos a essas ilusões, se não nos conscientizarmos de que a alegria e o sofrimento não estão nos fatos e nas coisas da vida, mas sim na forma como a mente os percebe. Enquanto usarmos nossa mente, sem que ela esteja ligada a nossos sentidos mais profundos, ficaremos agarrados a esses valores ilusórios.

Às vezes, na denominada educação ou norma social, assimilamos as ilusões dos outros como sendo realidades. Aprendemos, desde a mais tenra idade, que certas emoções são ruins, enquanto outras são boas. Importa considerar, no entanto, que as emoções são amorais e que senti-las é muito diferente do agir com base nelas, eis quando passam a ser uma questão moral/social.

“Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a enveredar por um caminho de preferência a outro (...) O que se chama respeito humano não constitui óbice ao exercício do livre arbítrio (...) São os homens e não Deus quem faz os costumes sociais. Se eles a estes se submetem, é porque lhes convêm. Tal submissão, portanto, representa um ato de livre-arbítrio (...)” (1)

Colocar restrições às emoções é como querer segurar as ondas do mar, enquanto colocar restrições ao comportamento humano é perfeitamente possível e válido. São os comportamentos adequados que promovem o bem-estar dos grupos sociais e, inquestionavelmente, são necessários à harmonia da comunidade.

As emoções são simplesmente emoções. É importantíssimo aprendermos a perdoar e sermos compreensivos, desde que façamos isso agindo por livre escolha, não por medo ou por autonegação emocional. Na maioria dos casos, damos a outra face, não por uma capacidade de livre expressão e consciência, mas usando falsas atitudes de compreensão e espontaneidade.

Para que nossos atos e comportamentos sejam verdadeiros, as emoções devem ser percebidas como são e totalmente reconhecidas pela nossa personalidade, a fim de que nossa expressão seja natural, fácil e apropriada às situações.

Identificar uma emoção é diferente de suportá-la. Na identificação, nós a reconhecemos e, a partir daí, agimos ou não; suportar a emoção significa ignorá-la ou simplesmente tentar eliminá-la.

Censurar as emoções é ilusão; seria o mesmo que censurar a própria Natureza. Habitualmente, os pais costumam repreender o filho dizendo que não deveria ter raiva ou medo. Por certo, condenam as crianças por essas emoções e as obrigam a escondê-las, porém eles não conseguem extirpá-las. Ao punirem seus filhos, por estes expressarem suas emoções naturais, talvez não estejam usando o melhor método educativo. Não seria melhor ensinar-lhes os códigos do bom comportamento social, deixando que seu modo de ser flua com naturalidade e equilíbrio, sem anular a personalidade ou torná-los submissos?

Todos os seres humanos nascem com reações emocionais. Encontramos nos bebês emoções de raiva, quando estão impedidos de andar, pegar, brincar, ou seja, movimentar-se livremente. Verificamos também emoções de medo, quando ficam sem apoio, quando se sentem abandonados ou diante de barulhos fortes.

Na infância, se as emoções forem impedidas de se manifestar, irão ocasionar sérios danos no desenvolvimento psicoemocional do adulto, constituindo-se-lhe um obstáculo para atingir a auto-segurança.

A raiva ou o medo são emoções que proporcionam um certo “estado de alerta”, que nos mantêm despertos. Sem eles, ficamos impotentes e não conseguimos proteger nossa integridade física nem a psicológica das ameaças que enfrentamos na vida. São eles que nos orientam para a defesa ou para a fuga em situações de risco.

Obviamente, não estamos fazendo alusão às emoções patológicas e irracionais, mas àquelas que, naturais, são essenciais ao crescimento e desenvolvimento dos seres humanos.

Nossos sentidos são tudo o que temos para perceber os recados da vida; contê-los seria o mesmo que destruir o elo com nossa intimidade.

Não sentir é viver em constante ilusão, distanciado do verdadeiro significado da vida. A repressão das emoções inibe o ritmo e a pulsação interna, limita a vitalidade e reduz a percepção. Quando reprimimos uma emoção, por certo estaremos reprimindo muitas outras. Ao reprimirmos nossas emoções básicas (medo e raiva), certamente estaremos reprimindo também as emoções da afetividade. Infelizmente, não conseguiremos lidar com as dificuldades e encontrar soluções, se perdermos o contato com as leis da Natureza, aliás criadas por Deus e que nos regem a todos. É mais produtivo para a evolução das almas acreditar naquilo que se sente do que nas palavras que se ouvem.


1. Questão 863 – Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a enveredar por um caminho de preferência a outro e não se acha ele submetido à direção da opinião geral, quanto à escolha de suas ocupações? O que se chama respeito humano não constitui óbice ao exercício do livre-arbítrio?

“São os homens e não Deus quem faz os costumes sociais. Se eles a estes se submetem, é porque lhes convêm. Tal submissão, portanto, representa um ato de livre-arbítrio, pois que, se o quisessem, poderiam libertar-se de semelhante jugo. Por que, então, se queixam? Falece-lhes razão para acusarem os costumes sociais. A culpa de tudo devem lançá-la ao tolo amor-próprio de que vivem cheios e que os faz preferirem morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes leva em conta esse sacrifício feito à opinião pública, ao passo que Deus lhes levará em conta o sacrifício que fizerem de suas vaidades. Não quer isto dizer que o homem deva afrontar sem necessidade aquela opinião, como fazem alguns em quem há mais originalidade do que verdadeira filosofia. Tanto desatino há em procurar alguém ser apontado a dedo, ou considerado animal curioso, quanto acerto em descer voluntariamente e sem murmurar, desde que não possa manter-se no alto da escala.”

segunda-feira, 13 de abril de 2020

Ilusão - Parte 1

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 5

Somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas deem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir.

A criatura humana que modela suas reações emocionais através dos critérios dos outros, estabelece para si própria metas ilusórias na vida. Esquece-se, entretanto, de que suas experiências são únicas, como também únicas são suas reações, e de que o constante estado de desencontro e aflição é subproduto das tentativas de concretizar essas suas irrealidades.

Constantemente, criamos fantasias em nossa mente, bloqueamos nossa consciência e recusamos aceitar a verdade. Usamos os mais diversos mecanismos de defesa, seja de forma consciente, seja de forma inconsciente, para evitar ou reduzir os eventos, as coisas ou os fatos de nossa vida que nos são inadmissíveis. A “negação” é um desses mecanismos psicológicos; ela aparece como primeira reação diante de uma perda ou de uma derrota. Portanto, negamos, invariavelmente, a fim de amortecer nossa alma das sobrecargas emocionais.

Quanto mais sonhos ilógicos, mais cresce a luta para materializá-los, levando certamente os indivíduos a se tornarem prisioneiros de um círculo vicioso e, como resultado, a sofrerem constantes frustrações e uma decepção crônica.

Um exemplo clássico de ilusão é a tendência exagerada de certas pessoas em querer fazer tudo com perfeição, aliás, querer ser o “modelo perfeito”. Essa abstração ilusória as coloca em situação desesperadora. Trata-se de um processo neurótico que faz com que elas assimilem cada manifestação de contrariedade dos outros como um sinal do seu fracasso e a interpretem como uma rejeição pessoal.

O ser humano supercrítico tem uma necessidade compulsória de ser considerado irrepreensível. Sua incapacidade de aceitar os outros como são é reflexo de sua incapacidade de aceitar a si próprio. Sua busca doentia da perfeição é uma projeção de suas próprias  exigências internas. O perfeccionismo é, por certo, a mais comum das ilusões e, inquestionavelmente, uma das mais catastróficas, quando interfere nos relacionamentos humanos. Uma pessoa perfeita exigirá apenas companheiros perfeitos.

A sensação de que podemos controlar a vida de parentes e amigos também é uma das mais frequentes ilusões e, nem sempre, é fácil diferenciar a ilusão de controlar e a realidade de amar e compreender.

A ação de controlar os outros se transforma, com o passar do tempo, em um nó que estrangula, lentamente, as mais queridas afeições. Se continuarmos a manter essa atitude manipuladora, veremos em breve se extinguir o amor dos que convivem conosco. Eles poderão permanecer ao nosso lado por fidelidade, jamais por carinho e prazer.

Em outras circunstâncias, agimos com segundas intenções, envolvendo criaturas que nos parecem trazer vantagens imediatas. Em nossos devaneios e quimeras, achamos que conseguiremos lograr êxito, mas, como sempre, todo plano oportunista, mais cedo ou mais tarde, será descoberto. Quando isso acontece, indignamo-nos, incoerentemente, contra a pessoa e não contra a nossa auto-ilusão.

Escolhemos amizades inadequadas, não analisamos suas limitações e possibilidades de doação, afeto e sinceridade e, quando recebemos a pedra da ingratidão e da traição por parte deles, culpamo-los. Certamente, esquecemo-nos de que somos nós mesmos que nos iludimos, por querer que as criaturas deem o que não podem e que ajam como imaginamos que devam agir.

Gostamos de alguém imensamente e alimentamos a ideia de que esse mesmo alguém pudesse corresponder ao nosso amor e, assim, criamos sonhos românticos entre fantasias e irrealidades.

As histórias infantis sobre príncipes encantados socorrendo lindas donzelas em perigo são úteis e benéficas, desde que não se transformem em ilusórias bases da existência. Elas podem incitar os delírios de uma espera inatingível em que somente um “príncipe de verdade” tem o privilégio de merecer uma” princesa disfarçada”, ou vice-versa.

A consciência humana está quase sempre envolvida por ilusões, que impossibilitam, por um lado, a capacidade de autopercepção; por outro, dificultam o contato com a realidade das coisas e pessoas.

Não culpemos ninguém pelos nossos desacertos, pois somos os únicos responsáveis — cada um de nós — pela qualidade de vida que experimentamos aqui e agora.

“O sentimento de justiça está em a Natureza (...) o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem...” (1)

Procuremos auscultar nossas percepções interiores, usando nossos sentidos mais profundos e observando o que nos mostram as leis naturais estabelecidas em nossa consciência. Confiar no sentimento de justiça que sai do coração, conforme asseveram os Guias da Humanidade, é promover a independência de nossos pensamentos e viver com senso de realidade. Aliás, são essas as características mais importantes das pessoas espiritualmente maduras.

Estamos na Terra para estabelecer uma linha divisória entre a sanidade e a debilidade; portanto, é imprescindível discernir o que queremos forçar que seja realidade daquilo que verdadeiramente é realidade. Muitas vezes, podemos estar nos iludindo a ponto de negar fatos preciosos que nos ajudariam a perceber a grandiosidade da Vida Providencial trabalhando em favor de nosso desenvolvimento integral.


1. Questão 873 – O sentimento de justiça está em a Natureza, ou é resultado de ideias adquiridas?
“Está de tal modo em a Natureza, que vos revoltais à simples ideia de uma injustiça. É fora de dúvida que o progresso moral desenvolve esse sentimento, mas não o dá. Deus o pôs no coração do homem. Daí vem que, frequentemente, em homens simples e incultos se vos deparam noções mais exatas de justiça do que nos que possuem grande cabedal de saber.”

quarta-feira, 8 de abril de 2020

Crítica - Parte 2

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 4

O crítico, por vigiar e espreitar sem interrupção os problemas alheios, permanece inconsciente e imobilizado em relação à própria aprendizagem evolucional.

Os dicionários definem crítica como sendo um exame detalhado que visa a salientar as qualidades ou os defeitos do objeto a ser julgado. É comum encontramos alguém criticando o trabalho de outro sem tê-lo vivenciado pessoalmente, isto é, desaprovando o que nem sequer tentou fazer. Tudo isso faz parte da incoerência humana.

A crítica nociva é característica de indivíduos que não realizam nada de importante, não enfrentam desafios nem se arriscam a mudanças. Ficam sentados, observando o que as pessoas dizem, fazem e pensam para, depois, filosofar improdutivamente sobre as realizações alheias, usando suas elucubrações dissociadas do equilíbrio. As discordâncias são perfeitamente saudáveis e normais, desde que estejam fundamentadas em fatos concretos e não nos vapores das suposições ou das projeções da consciência.

Há quem diga que a crítica é profissionalizada, por ser um meio fácil e rentável para destacar os incapazes e inabilidosos, tornando-os pessoas importantes e formidáveis. Porém, não por muito tempo.

Os verdadeiros realizadores deste mundo não têm tempo para censuras e condenações, pois estão sempre muito ocupados na concretização de suas tarefas. Ajudam os fracos e inexperientes, ensinando os que não são talentosos, em vez de maldizê-los.

A crítica pode ser construtiva e útil. Cada um de nós pode, livremente, optar entre o papel de ironizar e o de realizar.

A crítica pode ser empregada como forma de inocentar-nos da responsabilidade de nossa própria ineficiência e de atribuir nossas frustrações e fracassos aos que, realmente, são criativos e originais.

Em verdade, para se viver com equilíbrio mental, emocional e social, é necessário, acima de tudo, respeitar os direitos dos outros, assim como queremos que os nossos sejam respeitados.

De acordo com o pensamento da Espiritualidade Maior: “Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe obrigações especiais (...) a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes (...) Em o vosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da confusão em que vivem as sociedades humanas.” (1)

As “represálias” evidenciadas nesta questão podem ser consideradas como as desforras ou as vinganças que, comumente, os indivíduos fazem através de críticas, injúrias, sátiras e depreciações. Nesse tema, é oportuno ressalvar que, em muitas ocasiões, em decorrência das emoções patológicas, é perfeitamente possível pessoas sentirem-se humilhadas, vendo atitudes de arrogância e insulto onde não existem.

No mundo interior dos críticos implacáveis, pode existir uma intimidação, originalmente adquirida na infância, em virtude da autoridade e ameaça dos pais. Vozes do passado ecoam em suas mentes, solicitando, insistentemente, que sejam “pontuais e infalíveis”, “exatos e bem informados”, “super-responsáveis e controlados”.

As exigências do pretérito criaram-lhes um padrão de comportamento mental, caracterizado por constante cobrança e acusação, fazendo com que projetem tudo isso sobre os outros. O medo de cometerem erros e o fato de desconfiarem de si mesmos, conferem-lhes uma existência ambivalente. Vivem, ao mesmo tempo, entre a sensação de perseguição e a de superioridade. Além do mais, quem critica imagina-se sensacional e em vantagem.

Desesperadamente, observam e desconfiam de si mesmos. Exteriorizam e transferem toda essa sensação de auto-acusação, condenando os outros. Essa operação emocional funciona como uma válvula de escape, a fim de compensar a autoperseguição e aplacar as cobranças convulsivas do seu mundo interior.

Os críticos são especialistas em detectar e resolver os problemas que não lhes dizem respeito, mas, contrariamente, possuem uma grave dificuldade em aceitar a sua própria problemática existencial.

A Lei Divina nos dá o livre-arbítrio para escolhermos e concretizarmos nosso programa de aprendizagem, ou seja, livre opção para elegermos o caminho a ser percorrido, para expandirmos nossa consciência. O plano de instrução nos oferecerá duas possibilidades básicas, a saber: a aprendizagem consciente e a inconsciente.

A aprendizagem consciente é aquela em que estamos prontos para agir e resolver as coisas, mediante uma assimilação atuante ou uma participação voluntária.

A aprendizagem inconsciente é a que entrará em vigor, automaticamente, quando desprezamos, conscientemente, a resolução e compreensão do nosso roteiro de instrução. Em resumo: o sofrimento sempre entra em ação, quando não aprendemos espontaneamente.

O crítico, por vigiar e espreitar sem interrupção os problemas alheios, permanece inconsciente e imobilizado em relação à própria aprendizagem evolucional; portanto, sua possibilidade de integralizar novos conceitos e experiências é quase nula. Quanto mais ele projeta a culpa e a acusação ao mundo exterior, recusando cumprir sua aprendizagem conscientemente, mais sofrerá com os reflexos de suas atitudes.

Jesus Cristo, conhecendo os traços de caráter da humanidade terrena em evolução, advertiu-os: “Ouvi-me, vós todos, e compreendei. Nada há, fora do homem, que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai dele, isso é que contamina o homem.” (2)

A tendência em julgar e criticar os outros, com intenção maldosa, recebe a denominação de malícia; em outras palavras, o indivíduo nessas condições vê os outros com os olhos da “própria maldade”.


1. Questão 877 – Da necessidade que o homem tem de viver em sociedade, nascem-lhe obrigações especiais?
“Certo e a primeira de todas é a de respeitar os direitos de seus semelhantes. Aquele que respeitar esses direitos procederá sempre com justiça. Em o vosso mundo, porque a maioria dos homens não pratica a lei de justiça, cada um usa de represálias. Essa a causa da perturbação e da confusão em que vivem as sociedades humanas. A vida social outorga direitos e impõe deveres recíprocos.”
2. Marcos 7:14 e 15