segunda-feira, 27 de julho de 2020

Mágoa - Parte 2

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 11

É profundamente irracional nutrir a crença de que nunca seremos traídos e de que sempre seremos amados e entendidos plenamente por todos.

Ao afirmamos: “Nunca ninguém conseguirá me magoar”, não queremos dizer que não damos o devido valor aos nossos sentimentos, que não nos importamos com o mundo e que não valorizamos as criaturas com quem convivemos. Querer não “sentir dor” pode dessensibilizar as comportas de nossos mais significativos sentimentos, inclusive atingindo de forma generalizada nossa capacidade de amar. Muitas vezes, queremos representar que possuímos uma segurança absoluta, quando, na realidade, todos nós somos vulneráveis de alguma forma.

Nosso estilo de vida, em muitas ocasiões, é ilógico e neurótico. O “querer viver” uma existência inteira desprovida de decepções e de ingratidão, com aceitação e consideração incondicionais, é desastrosamente irreal.

É profundamente irracional nutrir a crença de que nunca seremos traídos e de que sempre seremos amados e entendidos plenamente por todos.

Portanto, não podemos passar uma vida inteira ocultando de nós mesmos que nunca ficaremos magoados. Devemos, sim, admitir a mágoa, quando realmente ela existir, para que possamos resolver nossos conflitos e desarranjos comportamentais.

A maneira decisiva de atingirmos o equilíbrio interior é aceitarmos nossas emoções e sentimentos como realmente eles se apresentam, pois, deixando de ignorá-los, passaremos a nos adaptar firmemente à realidade dos fatos e dos acontecimentos que estamos vivenciando.

“... Conhecem os Espíritos o princípio das coisas (...) conforme a elevação e a pureza que hajam atingido.” (1)

Os Espíritos Superiores possuem um amplo estado de consciência e uma capacidade plena para traduzir o “princípio das coisas”. Conhecem as matrizes de seus sentimentos e a razão de suas atitudes, porque já atingiram um grau de lucidez que vai além dos limites da percepção consciente.

A grande maioria dos Espíritos encarnados e desencarnados domiciliados no orbe terrestre usualmente analisam fatos e tomam atitudes de forma inconsciente, irrefletida, impulsiva ou automática. O automatismo permite que muitos de nós tenhamos uma sequência enorme de comportamentos, sem ao menos notarmos onde nasceram. Quer dizer, não compreendemos claramente os motivos e os significados ou mesmo a qualidade dos impulsos iniciais.

A arte de perceber de forma clara e real nossas mais íntimas intenções é uma das tarefas do processo evolutivo pelo qual todos estamos passando.

O que não pode ser visto não pode ser mudado. Os mecanismos inconscientes dos quais nos utilizamos para nos enganar são em grande parte imperceptíveis, principalmente àqueles que não iniciaram ainda a autodescoberta do mundo interior, através do auto-aprimoramento espiritual.

Mágoa não elaborada se volta contra o interior da criatura, alojando-se em determinado órgão, desvitalizando-o. Mágoa se transforma com o tempo em rancor, exterminando gradativamente nosso interesse pela vida e desajustando-nos quanto a seu significado maior.

A “desatenção” pode, muitas vezes, parecer um simples esquecimento natural, mas também poderá ser vista como atividade psicológica para afastar de nosso dia-a-dia detalhes desagradáveis que não queremos admitir. Para não tomarmos consciência de que fomos magoados, simplesmente não notamos uma série quase infinita de fatos e feitos que demonstrariam, de forma segura, o ofensor e a intenção da ofensa. A “desatenção” é uma defesa que apaga somente uma parte do ocorrido, deixando consciente apenas aquilo que nos interessa no momento.

O fato de criarmos o hábito de desviar a atenção como forma de dispersar a dor da agressão e de isso funcionar muito bem em determinados momentos expressivos de nossa vida, mantendo a mágoa dissimulada, poderá se tomar um estilo comportamental inadequado, pois distorce a realidade de nossos relacionamentos.

Sentimentos não morrem; poderemos enterrá-los, mas mesmo assim continuarão conosco. Se não forem admitidos, não serão compreendidos e, consequentemente, estarão desvirtuando a nossa visão do óbvio e do mundo objetivo.


1. Questão 239 – Conhecem os Espíritos o princípio das coisas?
“Conforme a elevação e a pureza que hajam atingido. Os de ordem inferior não sabem mais do que os homens.”

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Mágoa - Parte 1

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 11

O produto amargo de nossa infelicidade amorosa são nossas mágoas, resultado direto de nossas expectativas, que não se realizaram, sobre nós mesmos e sobre as outras pessoas.

Os indivíduos que acreditam que tudo sabem a respeito do amor não têm meios de descobrir que não sabem, pois para nos tomar aptos ao aprendizado é necessário estarmos abertos às experiências e às observações. Aprendemos sobre o amor quando reconhecemos nossa própria ignorância, que não deveria ser encarada como desapontamento e fracasso, e sim como estímulo e desafio a um conhecimento mais amplo.

A maior parte das criaturas se comporta como se o amor não fosse um sentimento a ser cada vez mais aprendido e compreendido. Agem como se ele estivesse inerte na intimidade humana e passam a viver na expectativa de que um dia alguém ou alguma coisa possa despertá-lo em toda a sua potência, numa espécie de fenômeno encantado.

Na questão do amor, vale considerar que, quanto mais soubermos, mais teremos para dar; quanto maior o discernimento, maior será a nossa habilidade para amar; quanto mais compartilharmos o amor com os outros, mais estaremos alargando a nossa fonte de compreensão a respeito dele.

Quase todos os habitantes da Terra são considerados um “livro em branco” no entendimento do amor. Por não admitirmos nossa incapacidade de amar verdadeiramente, é que permanecemos desestimulados e conformados a viver uma existência com fronteiras bem limitadas na área da afetividade.

Negamos frequentemente o fracasso amoroso, durante anos e anos, para não admitir diante dos outros nossas escolhas precipitadas e equivocadas. Não percebemos, muitas vezes, oportunidades imensas de caminhar pelas veredas do amor, porque não renunciamos à necessidade neurótica de ser perfeitos; ficamos sempre presos a uma pressão torturante de infalibilidade.

Perdemos excelentes momentos de crescimento pessoal, queixando-nos cotidianamente de que estamos sendo ignorados e usados, porém nunca tomamos atitude alguma. Deixamo-nos magoar pelos outros e acabamos (por que não dizer?) magoando também a nós mesmos. Reagimos às ofensas e ao desdém, experimentando sentimentos de frustração, negação, autopiedade, raiva e imensa mágoa. Culpamos as pessoas pelos nossos sofrimentos, verbalizando as mais diversas condenações e, em seguida, esforçamo-nos exaustivamente para não ver que a origem de nossas dores morais é fruto de nossa negligência e comodismo.

O produto amargo de nossa infelicidade amorosa são nossas mágoas, resultado direto de nossas expectativas, que não se realizaram, sobre nós mesmos e sobre as outras pessoas.

Nós nos “barateamos” quando colocamos nossa autovalorização em baixa na espera de seduzir e modificar seres humanos que nos interessam.

Vivemos comumente desencontros na área da afetividade, por desconhecermos os processos psicológicos que nos envolvem, o que nos faz viver supostos amores. Justificamos nossa infelicidade conjugal como sendo “débitos do passado” e passamos uma vida inteira buscando “álibis reencarnatórios” para compensar o desprezo com que somos tratados e a opção que fizemos de viver com criaturas que nos desconsideram e nos agridem a alma constantemente.

“(...) é uma das infelicidades de que sois, as mais das vezes, a causa principal.” “(...) Julgas, porventura, que Deus te constranja a permanecer junto dos que te desagradam? Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as consequências dos vossos preconceitos.” (1)

Casamentos considerados comerciais foram realizados entre promessas socialmente dissimuladas, mas, certamente, eram transações de compra e venda. Negociações da posição social compraram beleza físico-sexual; a comercialização de diplomas promissores e rentáveis aliou-se à aquisição de estruturas financeiramente sólidas. A isso é que denominamos uniões matrimoniais?

A paixão, que muitos chamam de amor, raramente atravessa seu estágio embrionário. Aos poucos, perde a força motivadora por não possuir raízes profundas nos verdadeiros sentimentos da alma.

Quando a desilusão desfaz a paixão é porque desgastou-se o estado de irrealidade. Paixões acontecem quando usamos nossas emoções sem ligá-las aos nossos sentidos mais profundos.

Quase sempre acreditamos que o fracasso conjugal é um antônimo do sucesso matrimonial, esquecendo-nos, contudo, de que o êxito, em muitas circunstâncias, está do outro lado do que denominamos ruína afetiva. Aprendemos quem somos e como agimos convivendo com os defeitos e qualidades dos outros. É justamente nos conflitos de relacionamento que retiramos as grandes lições para identificar as origens de nossas aflições.

Perguntemo-nos a nós mesmos: Por que estou me deixando magoar tanto? Onde e como nasceram minhas crenças de autopunição? Como esta minha postura de vida pode me fazer feliz?

Sempre temos infinitas possibilidades de escolha, por isso liguemo-nos a Deus e creiamos na Bondade Divina; com certeza, Ele nos mostrará o caminho para conquistar a felicidade que tanto almejamos.


1. Questão 940 – Não constitui igualmente fonte de dissabores, tanto mais amargos quanto envenenam toda a existência, a falta de simpatia entre seres destinados a viver juntos?

“Amaríssimos, com efeito. Essa, porém, é uma das infelicidades de que sois, as mais das vezes, a causa principal. Em primeiro lugar o erro é das vossas leis. Julgas, porventura, que Deus te constranja a permanecer junto dos que te desagradam? Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as consequências dos vossos preconceitos.”

Questão 940 a - Mas, nesse caso, não há quase sempre uma vítima inocente?

"Há e para ela é uma dura expiação. Mas, a responsabilidade da sua desgraça recairá sobre os que lhe tiverem sido os causadores. Se a luz da verdade já lhe houver penetrado a alma, em sua fé no futuro haurirá consolação. Todavia, à medida que os preconceitos se enfraquecem, as causas dessas desgraças íntimas também desaparecerão."

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Culpa - Parte 3

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 10

Viver em paz com nossa experiência sexual atual, valorizando nosso aprendizado e, em tempo algum, culpar-nos ou atribuir culpa a alguém.

A sexualidade é a área em que a culpa mais floresce na sociedade. Como pouco sabemos sobre ela, ficamos praticamente confinados às ideias e opiniões alheias. Nossa limitação na compreensão dos outros seres humanos se deve ao pouco ou a quase nada que sabemos sobre nós mesmos, ou seja, ao desconhecimento de nossa sexualidade. Por isso é que temos dificuldade de admitir a diversidade de sentimentos e emoções afetivas e sexuais.

Confundimos constantemente a nossa habilidade para o sexo com a nossa capacidade sexual. Por acreditarmos saber distinguir a diferença biológica entre o macho e a fêmea, julgamos conhecer tudo sobre o conjunto dos fenômenos sexuais que se podem observar nos seres vivos.

Na atualidade, as crianças são introduzidas prematuramente na esfera dos adultos por inúmeras revistas, filmes, cartazes, fotografias e pela publicidade da televisão e do rádio, o que lhes provoca a malícia numa idade desprovida da lógica e do bom senso contra essa espécie de afronta sexual.

Desde cedo, os ensinamentos de valores éticos e morais deverão ser ministrados aos menores, para que eles possam absorver, inconscientemente, através dos gestos, atos, ideias e palavras dos pais, tudo o de que necessitam para formar um padrão normal psicossexual e emocional.

Orientar, a nosso ver, não é a mesma coisa que educar. A educação sexual é assimilada, basicamente, na experiência de vida no lar; traz a marca ou o caráter distintivo e particular dos pais. Já a orientação sexual engloba métodos de ensino, informação e notícias transmitidas e/ou aplicadas à criança pelos parentes, religiosos, professores, psicólogos, médicos e outros profissionais especializados.

Ainda que os pais não tenham fornecido, intencionalmente, educação sexual aos filhos, mesmo assim as crianças formaram hábitos, conceitos e ideias sobre o sexo, absorvidos no dia-a-dia da vida familiar nos mais diversos exemplos que recolheram dos atos e crenças dos adultos.

Noções, crendices, preconceitos e concepções já existem nas crianças, pois são frutos de suas existências pretéritas. Além disso, somam-se à sua “bagagem espiritual” as ocorrências e aprendizagem da vida atual. É importante, no entanto, para desenvolver adultos maduros e ajustados psicossexualmente, fundamentar o ensino da orientação sexual sobre métodos pedagógicos e psicológicos de cunho reencarnacionista, pelos quais os menores são observados como almas milenares e educados sob uma atmosfera de vida eterna.

Em certas circunstâncias evolutivas, encarnamos como homem; em outras, como mulher. E, ainda, em determinadas oportunidades de aprendizagem e de renovação, o espírito pode vir ocupar uma vestimenta corporal oposta à tendência íntima que vivencia. O fenômeno é análogo ao que se refere à área masculina tanto quanto à feminina. Independentemente da forma de sexualidade que estamos vivenciando no presente, procuremos aceitá-la em plenitude, visto que há sempre, em qualquer condição, a oportunidade de adquirirmos experiências e, por consequência, progredirmos espiritualmente, vencendo desafios e promovendo realizações.

“... o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.” (1)

Não podemos nos esquecer de que o “grau de responsabilidade” deve ser sempre coerente com a estrada evolucional por onde transitam as almas. Portanto, os indivíduos responderão adequadamente por seus atos e atitudes e serão responsáveis somente por aquilo que conhecem, não pelo que ignoram.

Devemos, assim, viver em paz com nossa experiência sexual atual, valorizando nosso aprendizado e, em tempo algum, culpar-nos ou atribuir culpa a alguém.

Todos os seres humanos são regidos pela “Lei das Vidas Sucessivas”. Cada um de nós está vivendo um aprendizado particular e único em todos os aspectos e, obviamente, também na área sexual. Efetivamente, existem tantos níveis de entendimento e amadurecimento sexuais quanto indivíduos que os possuem.

Não podemos determinar exatamente a extensão das dificuldades e das carências de conhecimento e discernimento de uma criatura em seu desenvolvimento afetivo. Mesmo porque estamos na Terra a fim de aprender e é através de nossos acertos e desacertos que ficaremos sabendo como agir corretamente nas experiências subsequentes.

Podemos julgar a promiscuidade sexual, moralmente errada, mas não podemos julgar o indivíduo promíscuo, por desconhecermos sua necessidade evolutiva e seu “coeficiente de maturidade”.

Na fisiologia, o denominado “ponto cego” é um local no campo da visão em que não há células sensíveis à luz. É nesse ponto que as fibras nervosas da retina convergem para formar o nervo óptico, que transmite os sinais nervosos ao cérebro para a decifração em imagens visuais. Transportando o significado deste termo  fisiológico “ponto cego” para a área psicológica, poderemos fazer uma analogia entre esta lacuna em nosso campo visual com nossa falta de visão íntima para ver as coisas como realmente são. Nossos “pontos cegos” interiores se prendem à nossa inexperiência e à nossa incapacidade evolutiva.

Querer ser iguais aos outros e nos comparar sexualmente indicam ausência de peças importantes em nossa consciência profunda, o que nos torna incapacitados para perceber a extensão das Leis Divinas que regem a todos nós.


1. Questão 636 – São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal?

“A Lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.”

terça-feira, 7 de julho de 2020

Culpa - Parte 2

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 10

Aprenderam a vestir a túnica de “super-heróis”, tentando satisfazer e suprir as necessidades da família, e se culpavam quando não conseguiam resolver esses problemas.

Sábios são aqueles que acumularam conhecimentos não somente através do estudo das ciências, mas também pela prática e pela observação.

Sabedoria, portanto, é a soma de nossos conhecimentos coerentes obtidos em contato com os diversos acontecimentos da vida; não apenas o que foi adquirido pela instrução acadêmica, mas, acima de tudo, pelas experimentações, vivências, atividades e realizações nas mais variadas áreas, seja na atual existência, seja nas múltiplas encarnações que tivemos pelas noites dos tempos. Sensatez, prudência, desempenho e erudição são patrimônios intransferíveis da alma humana, alicerçados na intimidade do próprio ser.

Dessa maneira, podemos entender que, quanto mais impedirmos as pessoas com as quais convivemos de agir e de pensar por si mesmas, mais estaremos dificultando suas oportunidades de amadurecimento e de crescimento espiritual. Os empreendimentos que os outros elegeram como os melhores para si deverão ser respeitados, pois os direitos naturais do homem lhes garantem a possibilidade de tomar decisões, errar, aprender, crescer, mudar e julgar a si mesmos.

Problemas são estímulos que a Vida nos apresenta para nos autoconhecer. Portanto, os fatos de nossa existência possuem valores imprescindíveis para nosso desenvolvimento interior e são de importância fundamental para o nosso interagir em face desses mesmos acontecimentos.

Alguns de nós aprendemos que deveríamos ser responsáveis pela felicidade dos outros, usando uma postura de “tomar conta”, ou seja, de supervisionar, comandar, insistir, seduzir, chorar, acusar, subornar, espionar, produzindo culpa em nós e nos outros e pedindo intervenções milagrosas, a fim de redimirmos e salvarmos as almas de nossos entes mais queridos.

Muitos indivíduos trazem um comportamento psicológico inadequado, adquirido desde a mais tenra idade, pela longa convivência com familiares difíceis e criaturas problemáticas que se diziam incapazes de se cuidar e se defender. Em decorrência disso, essas crianças assumiram responsabilidades que não lhes pertenciam e, para que pudessem sobreviver emocionalmente no lar em desajuste, aprenderam a vestir a túnica de “super-heróis”, tentando satisfazer e suprir as necessidades da família, e se culpavam quando não conseguiam resolver esses problemas.

Passaram a viver para controlar e proteger pais, irmãos, outros parentes, amigos e conhecidos à sua volta, preocupando-se, neurótica e compulsoriamente, em solucionar as dificuldades ou equacionar a vida dessas pessoas.

Desenvolveram ao longo do tempo relacionamentos doentios, nunca se preocupando com o que eles próprios sentem ou desejam, mas somente se interessando por aquilo que os outros estão sentindo e pensando. Trazem como lema “sua dificuldade é meu problema” ou “sua vontade é minha vontade”, assumindo obrigações pelo bem-estar, comportamento, decisões, emoções, pensamentos ou mesmo pelo destino de outras pessoas.

Não estamos nos referindo a atos de verdadeira caridade, compaixão e bondade, em que realmente a assistência é requisitada e desejada, mas sim ao ato neurótico de “tomar conta”. Por acreditarmos que as pessoas são “vítimas do mundo” e incapazes de cuidar de si mesmas, assumimos essa atitude salvacionista. Podemos traduzi-la como uma maneira de agir subestimando a capacidade dos indivíduos de crescer e evoluir. Capacidade essa que herdamos por direito divino.

A Providência Divina nos convoca a ser participantes na vida dos outros, jamais controladores.

“Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal. (...) Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.” (1) Através da inteligência e do livre-arbítrio, ele consegue discernir e optar entre um e outro.

A Onipresença Divina nos garante Deus em toda parte, como também dentro de cada um de nós, e nos concede missões equivalentes ao nosso degrau evolutivo. Portanto, “Deus em nós” guia-nos sempre de maneira que possamos solucionar dificuldades apropriadas às nossas possibilidades evolutivas. Não devemos utilizar indevidamente a palavra “caridade” como justificativa para continuarmos a fazer aos outros o que eles sabem, podem e são capazes de fazer.

Dessa forma, procuremos não distorcer a mensagem de Jesus Cristo sobre o “amor ao próximo”, visto que o auxílio real entre as criaturas está alicerçado nas trocas benéficas a que todos nós somos convocados a realizar, mas devemos aprender quando não dar e quando não executar tarefas da responsabilidade de outras pessoas, pois isso também faz parte da “Lei do Amor”.

1. Questão 631 – Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para distinguir um do outro.”