sexta-feira, 28 de maio de 2021

Afetividade - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 5

Amar não significa esperar que alguém nos satisfaça todos os anseios e necessidades que cabe só a nós satisfazer.

Das formas míticas poderemos retirar a sabedoria dos séculos, porquanto tais histórias promovem encontros com as figuras arquetípicas de nossa alma e com o caminho do desenvolvimento do amor. Da Antiga Grécia nasceu a ideia das metades eternas, que percorreu a vastidão dos tempos.

A mitologia greco-romana nos transmite, por meio de autores da Antiguidade, a seguinte história: "Em uma diferente civilização, os seres possuíam duas cabeças, quatro braços e pernas e dois corpos distintos — masculino e feminino - mas com apenas uma alma... Viviam em pleno amor e harmonia, e justamente esse equilíbrio provocou a inveja e a ira de alguns deuses do Olimpo. Enfurecidos, enviaram àquela civilização uma tormenta repleta de trovões e relâmpagos, que dividiram os corpos, separando a parte feminina da masculina e repartindo a alma ao meio... Diz a lenda que até hoje os seres lutam na busca de sua outra metade, a sua alma gêmea."

Durante séculos, essa crença foi cultivada, e grande parte da humanidade ainda procura ansiosamente encontrar sua "alma afim". No entanto, com a Nova Revelação, vêm os Espíritos superiores esclarecer-nos a respeito do conceito das metades eternas, ensinando-nos que essa expressão é inexata e que não existe união particular e fatal entre duas almas.

Explicam-nos os Benfeitores que não há alianças predestinadas, e sim que, quanto mais iluminadas as almas, mais unidas serão pelos laços do amor real. Em vista disso, podemos entender perfeitamente o significado das palavras de Jesus Cristo: "Haverá um só rebanho, um só pastor." (1)

Um dia todos estaremos juntos, reunidos e plenificados uns com os outros em "um só rebanho".

O Espiritismo vai mais além quando nos explica que a nossa mentalidade sobre as almas gêmeas é exclusivamente alicerçada sobre uma visão romântica de união afetiva; na realidade, antes de sermos homens ou mulheres, somos Espíritos imortais vivendo temporariamente na Terra. Muitos possuem uma compreensão difusa e narcisista sobre o amor, o que faz com que interpretem sua afetividade somente abaixo da cintura, isto é, não conseguem desenvolver seus sentimentos, abandonando-os a um permanente estado embrionário.

"(...) não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes segundo a categoria que ocupam, quer dizer, segundo a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, mais unidos (...)" (2)

Estamos vivenciando inúmeras experiências terrenas com as mais diversas criaturas; conhecendo e, ao mesmo tempo, estreitando elos afetivos com outras tantas através de várias encarnações. Então, por que alimentarmos a ideia da busca ilusória de uma pessoa predeterminada, com a qual fatalmente viveríamos felizes pela eternidade juntamente com os outros tantos milhares de pares eternos que já se teriam encontrado anteriormente? Tudo isso mais se assemelha a um egotismo do amor, contrário à fraternidade cristã, que nos ensina que um dia todos se amarão de forma incondicional.

Os aspectos do amor não podem ser vistos como se nosso "eu" seja o único referencial e que qualquer coisa que não se enquadre em nosso modo de ser seja rotulada de desamor ou de "não ser nossa metade eterna".

Enquanto estivermos pensando dessa maneira, não amaremos verdadeiramente; estaremos, sim, criando uma "idealização amorosa", na ânsia de que os outros jamais ousem discordar de nosso ponto de vista. Em outras palavras, se alguém divergir da nossa opinião, teremos a certeza de que não é nossa "alma gêmea" e, por consequência, nunca poderá nos proporcionar o amor real, o que será um grande equívoco.

Amar não significa esperar que alguém nos satisfaça todos os anseios e necessidades que cabe só a nós satisfazer.

1. João, 10:16

2. Questão 298 - As almas que deverão se unir estão predestinadas a essa união, desde a sua origem e cada um de nós tem, em alguma parte do Universo, sua metade à qual se reunirá fatalmente, um dia?

Não; não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, mas em graus diferentes segundo a categoria que ocupam, quer dizer, segundo a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta felicidade completa."

terça-feira, 18 de maio de 2021

Paciência - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 4

O despertar da religiosidade proporciona a paz de espírito. Paciência é um estado de alma em que a criatura não é atingida pelas inquietações ou irritabilidades, visto que se libertou do desassossego e da agitação do ego.

Quem atingiu a essência do sagrado entendeu que a autêntica religião é, acima de tudo, uma "realidade interna", porque expressa as nossas mais íntimas relações com Deus.

O despertar da religiosidade proporciona a paz de espírito. Paciência é um estado de alma em que a criatura não é atingida pelas inquietações ou irritabilidades, visto que se libertou do desassossego e da agitação do ego.

Carl Gustav Jung desenvolveu uma teoria fascinante, uma análise notável que contribui efetivamente para aperfeiçoar o comportamento e pensamento humanos. 

Desde a infância, ele foi influenciado de forma marcante por questões religiosas e espirituais, porquanto seu pai e vários parentes eram pastores luteranos. Estudou e investigou profundamente a natureza humana, dedicando-se também à análise das filosofias orientais e da mitologia.

Jung é considerado um sábio instrutor; estudou medicina, mas jamais abandonou o compromisso de manter o interesse pelos fenômenos psíquicos e pelas ciências naturais e humanas. Foi um psiquiatra por excelência, um missionário que pesquisou os "distúrbios da personalidade", contribuindo para o entendimento dos diversos aspectos do comportamento humano e colaborando para o crescimento e enriquecimento das criaturas em sua trajetória de iluminação individual.

Dr. Carl Jung, como todo indivíduo que utiliza a lógica, a coerência e a razão, sentiu-se distanciado da devoção religiosa alicerçada no pietismo - afirmação da superioridade da fé sobre a razão. Afastou-se das experiências teológicas e das prescrições litúrgicas de seu pai e de outros parentes, que preconizavam a permanência incondicional pela letra da convenção (1) e foi em busca do Espírito de Deus como uma realidade viva (2).

A religião vai muito além dos limites do intelecto, no entanto não o refuta nem o contesta. A genuína religiosidade não se vincula a nenhuma organização externa; ela nos remete ao despertar íntimo, ao relacionamento com a própria alma.

Da mesma forma, Allan Kardec, como homem de ciência que era, educado em Yverdon, na Escola de Johann Heinrich Pestalozzi - célebre pedagogo suíço e discípulo de Jean-Jacques Rousseau -, asseverou: "(...) não há fé inquebrantável senão aquela que pode encarar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade". "(...) para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que faz hoje o maior número de incrédulos, porque quer se impor e exige a abdicação de uma das mais preciosas prerrogativas do homem: o raciocínio e o livre-arbítrio" (3).

Por isso, o Espiritismo "não tem a pretensão de ter a última palavra sobre todas as coisas, mesmo sobre aquelas que são da sua competência" (4).

Os Guias da Humanidade disseram a Kardec que "(...) não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades (...) graças à chave que nos dá o Espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável" (5).

Para Jung, toda criatura traz uma aptidão para a autotransformação, o que ele chamou de individuação, e definiu-a como um processo de desenvolvimento pessoal em que a criatura se torna uma personalidade unificada, ou seja, um indivíduo, um ser humano indiviso e integrado.

A individuação está inteiramente voltada para o equilíbrio entre o ego (centro da consciência) e o Self (centro da psique) e para o aprimoramento e interação constante e criativa entre eles.

As criaturas ligadas excessivamente ao sistema ilusório do ego são afeitas a um zelo religioso obsessivo que pode levá-las aos extremos da intolerância. Possuem uma fé cega, o hábito de polemizar com exaltação, visto serem impacientes e inquietas. Exageradamente ajustadas a uma vida "impecável", denominam-se "pessoas de hábito". Estão presas a este padrão de pensamento: "Só eu sei como as coisas são ou devem ser feitas."

O fanatismo é filho dileto do ego; é uma adesão cega a uma ideia, sistema ou doutrina. Os fanáticos se irritam facilmente com tudo aquilo que possa ser contrário ao que eles consideram tradicional, imutável e verdadeiro, defendendo um status quo rigoroso quanto à política, à sociedade e à religião.

Religiosos intransigentes, são considerados pessoas dogmáticas. Exigem de si mesmos e dos outros uma vida puritana e de retidão extremada como forma de compensar suas dúvidas indecorosas e seus desejos reprimidos, que eles cultivam, de forma inconsciente ou não, no próprio mundo interior. Baseiam sua maneira de agir em teorias e estudos arcaicos e seguem modelos e padrões obsoletos. São observadores literais de leis consideradas como certas e indiscutíveis, e esperam que as pessoas as aceitem sem qualquer questionamento.

Os indivíduos que estão conectados com o Self vivem as necessidades do presente e respondem a elas através de uma análise criteriosa das pessoas, dos fatos e dos acontecimentos. Utilizam-se do exame paciencioso e da reflexão sapiencial da consciência para elaborar cogitações sobre a vida e sobre si mesmos.

Por estarem mais sintonizados com o Self, conquistaram a fé raciocinada e alicerçada na paz de espírito, na razão e na coerência.

Têm como forma de procedimento respeito aos direitos humanos - de liberdade de expressão, de individualidade, de ir e vir, de intelectualidade, de consciência; enfim, os direitos considerados inerentes ao homem como ser social,  independentemente de raça, país, sexo, idade e religião.

São pensadores versáteis e originais; têm propósitos definidos - buscam alcançar pacienciosamente em seus estudos e reflexões uma síntese racional e lógica a respeito do físico e do espiritual, do real e do imaginário, do indivíduo e da sociedade.

1. II Coríntios, 3:6

2. João, 4:24

3. "O Evangelho Segundo o Espiritismo", capítulo 19, item 7

4. "A Gênese", capítulo 13, item 8

5. Questão 628 - Por que a verdade não foi sempre colocada ao alcance de todo mundo?

"É preciso que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso nos habituar a ela, pouco a pouco, de outra forma ela nos deslumbra.

Jamais ocorreu que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que lhe é dado receber hoje. Havia, como sabeis, na Antiguidade, alguns indivíduos possuidores do que consideravam uma ciência sacra, e da qual faziam mistério aos profanos, segundo eles. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles não recebiam senão algumas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e a maior parte do tempo simbólico. Entretanto, não há para o estudioso, nenhum sistema filosófico antigo, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque tudo contém os germes de grandes verdades que, ainda que pareçam contraditórias umas com as outras, esparsas que estão no meio de acessórios sem fundamentos, são muito fáceis de coordenar, graças à chave que nos dá o Espiritismo para uma multidão de coisas que puderam, até aqui, vos parecer sem razão e da qual, hoje, a realidade vos é demonstrada de maneira irrecusável. Não negligencieis, portanto, de haurir objetos de estudos nesses materiais; eles são muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução."