segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Liberdade - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 8

A liberdade, como todas as demais conquistas da alma, só será alcançada verdadeiramente se for compartilhada com os outros.

François Marie Arouet, dito Voltaire, poeta e escritor francês do século XVIII, escreveu: "O prazer pela liberdade aumenta à medida que dela se desfruta". O Criador, que nos concedeu a vida, deu-nos ao mesmo tempo a liberdade. O que levou Paulo de Tarso a proclamar: "É para a liberdade que Cristo nos libertou. Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao jugo da escravidão." (1)

A rigidez mental é uma das formas mais corriqueiras de atrair o sofrimento. Mudança é um mecanismo espiritual através do qual Deus assegura a evolução. Quem não evolui fica paralisado, desenvolvendo um verdadeiro entorpecimento interior.

Para transformarmos a vida para melhor, temos que começar a nos mudar por dentro. E, para tanto, precisamos inicialmente desfazer os diversos conceitos equivocados que nos foram transmitidos de forma não-intencional pelos nossos pais, avós, amigos, professores, ou até mesmo pela literatura de diversas correntes de pensamento - científico, filosófico e religioso. Talvez estejamos tão rijos intimamente que sentiremos dificuldade em dar os primeiros passos rumo à liberdade, mas, com determinação e com o passar do tempo, tomaremos consciência cada vez mais de como é agradável e realizadora a mudança interior; aí tudo se tornará mais fácil.

Quando nos desfazemos das crenças inadequadas, morre em nós tudo aquilo que é velho, e passamos a reformular ou remodelar novos caminhos, dinamizando a casa mental e ampliando o universo pessoal.

Quer aceitemos ou não, o mundo está progredindo. A Natureza está em constante evolução, por isso temos necessidade de fazer uma constante auto-observação dos nossos valores, ideias e crenças.

Existem muitas pessoas que dizem: "Meus pais sempre pensaram e agiram dessa forma, portanto eu também penso e ajo igualmente". Outros afirmam: "Minha família sempre abraçou esses conceitos; ora, por que eu haveria de trocá-los?"

É óbvio que nós não estamos aqui querendo induzir as criaturas a desprezar as memórias, os ensinos ou as experiências familiares, mas é preciso que entendamos que o mundo progride e, em decorrência disso, muitas coisas se modificam em nossa existência. Queiramos ou não, a mudança gera sempre um desafio existencial.

Mesmo que optemos por ficar estagnados à margem da estrada, isso de nada nos adianta, porque a vida está em constante movimentação, nos impulsionando de maneira natural e invariável. Ainda que não vejamos o avanço e o  desenvolvimento fluírem no momento presente, ainda assim estaremos todos marchando sob o influxo da divina lei do progresso.

Kardec, o sistematizador dos ensinos espíritas, questiona as Entidades Benevolentes: "Não há homens que entravam o progresso de boa-fé, crendo favorecê-lo porque o veem do seu ponto de vista e, frequentemente, onde ele não está?" E os Benfeitores, sob a direção do Espírito de Verdade, respondem: "Pequena pedra colocada sob a roda de uma grande viatura e que não a impede de avançar." (2)

O professor Rivail comenta na questão 781 de O Livro dos Espíritos que: "O progresso, sendo uma condição da natureza humana, não está ao alcance de ninguém a ele se opor. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas não sufocar".

Lutar contra o curso da evolução é como querer segurar com as mãos as ondas do mar. A paralisação existencial dificulta a liberdade e gera tristeza. A rotina produz angústia e depressão, por isso todos somos convidados a nos reformular emocionalmente e a procurar novos conhecimentos filosóficos, religiosos e científicos, para que possamos manter nosso equilíbrio existencial.

Será que o que nós temos como verdade é a verdade mesmo? Estamos nos sentindo bem? Estamos realmente animados e felizes? De repente podemos estar presos a determinados contextos e ainda não nos apercebemos de que precisamos modificar nosso modo de ver a vida. Necessitamos livrar-nos de hábitos antigos e indesejáveis, que são a causa principal do desconforto em que vivemos.

A lei do progresso é universal, mas age de forma individual em cada um de nós. Se alguns progridem mais rapidamente do que outros é porque estão desfrutando uma nova visão, estão desenvolvendo uma imagem positiva de si mesmos e das demais pessoas. Com isso, conseguem desatar as algemas que os deixam chumbados ao "solo da mesmice".

A vida é um processo maravilhosamente ilimitado; entretanto, ainda há — e não são poucos - os que enxergam a existência de forma afunilada, como se estivessem vivendo na época de Moisés ou na Idade Média. É preciso que nos ajustemos às descobertas da ciência, pois ela está inteiramente interligada com a religião. Tudo vem de Deus, inclusive o mundo científico.

Liberdade é um direito natural, faz parte de nossa herança divina, e, para crescermos, devemos usá-la sempre que necessário. Eis algumas perguntas que podemos fazer a nós mesmos para identificarmos nossas crenças e valores, positivos ou não, e como eles afetam a nossa vida diária:

• Qual o grau de influência da opinião alheia sobre meus atos e atitudes?

• Quais crenças cooperam para meu bem-estar interior?

• O que me dificulta ter suficiente autonomia para tomar minhas próprias decisões? 

• O que me impede de desfrutar uma vida plena?

• Por que costumo fingir para agradar aos outros?

• Qual a razão de manter minha reputação alicerçada em um modelo exemplar?

• Meus conceitos facilitam autoconfiança?

Na realidade, o livre-arbítrio - liberdade de agir e de pensar - nos concede o poder de mudar nossas ideias, nossos modelos, concepções ou pensamentos, e de optar por crenças mais apropriadas ou favoráveis ao desenvolvimento de uma nova concepção do universo interior e exterior.

A liberdade, como todas as demais conquistas da alma, só será alcançada verdadeiramente se for compartilhada com os outros.

1. Gálatas, 5:1

2. Questão 782 - Não há homens que entravam o progresso de boa-fé, crendo favorecê-lo porque o veem do seu ponto de vista e, frequentemente, onde ele não está?

"Pequena pedra colocada sob a roda de uma grande viatura e que não a impede de avançar."

quinta-feira, 5 de agosto de 2021

Respeito - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 7

Num futuro breve, quando a mulher se legitimar pelo que é e por onde quer chegar, adquirirá o respeito - dos outros e de si mesma.

A medida que a criança cresce e se desenvolve no convívio familiar, ela reproduz ou copia tudo o que vê, ouve e observa. Os adultos servem de padrões, quer dizer, são modelos e exemplos. Por meio da identificação com os pais, tios, avós ou irmãos mais velhos, ou mesmo da imitação de seus atos e atitudes, a criança, de forma consciente ou inconsciente, modela-se firmemente no ambiente doméstico.

Socialização é o processo de adaptação do indivíduo ao grupo social; é o desenvolvimento das relações na vida grupal, caracterizado pelo espírito de coletividade e pelo sentimento de cooperação e solidariedade.

Particularmente na criança, a socialização se inicia a partir do momento em que o recém-nascido é conduzido para casa pelos pais. No entanto, não devemos esquecer que, desde a sua concepção, a alma, já ligada ao diminuto embrião humano, sofre forte influência do ambiente em que vive.

De acordo com Jean Piaget, cada criança, na fase da "socialização doméstica", assimila e modela tudo o que a sensibiliza de acordo com sua individualidade — utilizando sua personalidade única e peculiar, o que irá distingui-la de todas as outras pessoas. Acontecimentos caseiros, atos e opiniões dos adultos, considerações sobre ética, religião, costumes, moral e filosofia, proibições e preconceitos, permissões e intolerâncias, tudo vai-se modelando na "argila plástica", que é a mentalidade infantil, e delineando a criança dentro de preceitos, regras de conduta e de princípios que variam culturalmente, de família para família, e interiormente, de criança para criança. Mesmo nos gêmeos idênticos, o desenvolvimento psicossocial ocorrerá de forma diferenciada devido à bagagem espiritual que cada alma traz consigo - produto de suas vidas sucessivas.

Consulta Kardec a Espiritualidade Maior, na terceira parte, capítulo IX, de O Livro dos Espíritos: "De onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países?" E os Obreiros do Bem respondem: "Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito." (1)

A formação machista que as crianças recebem na infância as influencia durante toda a vida. Homens são treinados para ser fortes, corajosos, agressivos, seguros, bem-sucedidos e autossuficientes. Para os estudiosos do comportamento humano, o "estereótipo do macho" iniciou-se nas eras pré-históricas, quando os nossos antepassados do sexo masculino tiveram que abandonar o medo e disputar a comida com os animais.

Machismo é um conjunto de normas, costumes, leis e atitudes baseado em regras socioculturais do homem, que tem por finalidade explícita e/ou implícita criar e manter a submissão da mulher em todos os níveis: afetivo, sexual, procriativo, profissional.

Quando a mulher, nos seus mais diversos relacionamentos, romper com essa visão de que deve ser submissa, reclusa, frágil e dependente do homem, ela recuperará toda a estrutura de poder e o senso de iniciativa.

A "guerra dos sexos", na maioria das vezes, tenta impor, com ou sem armas, a supremacia do homem sobre a mulher por meio da violência, clara ou dissimulada, salvaguardando interesses falocratas de mentalidades medievais.

O machista atua como tal, sem poder explicar seus atos ou perceber suas atitudes externas, porque não se dá conta das estruturas preconceituosas que internalizou nesta ou em outras existências. Ele se limita apenas a reproduzir ou pôr em prática tudo aquilo que viveu culturalmente no lar, na escola, no templo religioso, na cidade, no país, enfim em qualquer lugar ou situação que o tenha influenciado.

Muitas mulheres, de forma inconsciente, compartilham do machismo na medida em que não notam as estruturas psicológicas de "hegemonia masculina" que regulam suas relações afetivas e sociais. E podem reproduzi-las, sem perceber, na educação dos filhos, sejam eles homens ou mulheres, contribuindo dessa forma para que a ideia machista se perpetue automaticamente.

São muitos os provérbios humilhantes e os insultos irônicos endereçados às mulheres, estes acompanhados de risos sarcásticos e depreciativos. O "sexismo" - atitude de discriminação fundamentada no sexo - leva mulheres ingênuas, inseguras e dependentes a aceitar essas críticas mordazes como naturais, porquanto o modelo de educação em que organizaram seu mundo íntimo baseou-se nesses valores e crenças distorcidos.

A mulher precisa descobrir que não depende de ninguém para viver a própria existência, pois tem dentro de si uma extraordinária capacidade de fazer mudanças positivas. Ela, como o homem, tem um mundo diante de si, e todos podem crescer até onde permite sua capacidade, seu dom, seu talento nato. Todos nós estamos em constante mutação e nos transformamos todo o tempo nos aspectos físico, mental, emocional e espiritual. Nada na Natureza permanece estático; tudo flui através dos processos da vida, dentro e em torno de nós.

Em muitas ocasiões, a mulher, em vez de reverter a situação desgostosa em que vive, tenta mudar de forma superficial, apenas substituindo o cônjuge por outro, mas sem renovar seu modo de sentir, pensar e agir. Como não se preocupa em erradicar os velhos padrões ou crenças inadequados de seu mundo interior, corre o risco de atrair outro parceiro igual ou muito parecido com o que acaba de deixar. A lei de atração perpetua tanto alegria como tristeza para nossas vidas.

Não devemos jamais deixar que uma empresa, associação ou ligação afetiva, profissional ou de amizade, venha eclipsar nossa vida a ponto de desrespeitarmos quem somos.

Neste novo milênio, cabe à mulher recuperar sua dignidade e o respeito por si mesma. Descobrir, verdadeiramente, que o respeito anda de mãos dadas com a autoestima e o bem-estar. Deve iniciar o processo - que muitas já o fizeram - de valorizar suas forças individuais e únicas, usando a energia interior para descobrir capacidades inatas e novos talentos adormecidos.

Constituições modernas já estabeleceram, há muito tempo, leis e direitos que firmam a igualdade entre os sexos. No entanto, essas leis e direitos só terão valor e significado quando forem totalmente assimilados e colocados em prática por todos aqueles que os validaram.

É possível que determinadas pessoas discordem e não aceitem nossas ponderações, mas nem por isso tudo está perdido. A diversidade de opinião e a forma de olhar o mundo dependem da singularidade evolutiva de cada criatura.

O equilíbrio vai sendo pouco a pouco atingido. A visão machista gradativamente se desfaz, nascendo em seu lugar a amizade, o respeito e a cooperação entre seres humanos. Na estrutura social do porvir, pouco importará o sexo do indivíduo, pois todos serão igualmente valorizados e jamais oprimidos.

Num futuro breve, quando a mulher se legitimar pelo que é e por onde quer chegar, adquirirá o respeito - dos outros e de si mesma. Acreditar que alguém exista só para nos servir é uma visão egocêntrica e degradante da atual humanidade. Enquadrar pessoas em papéis sexuais nitidamente definidos - subserviência, inferioridade, subordinação -, usando-as como objetos que podem ser controlados e descartados, é imensamente cruel e impiedoso. O amor cristão não considera os papéis sexuais, e sim encoraja todos os seres a exprimir a liberdade, o respeito e o amor uns pelos outros.

1. Questão 818 - De onde se origina a inferioridade moral da mulher em certos países?

"Do império injusto e cruel que o homem tomou sobre ela. É um resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre os homens pouco avançados, do ponto de vista moral, a força faz o direito."