quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Crueldade - Parte 2

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 1

Cada ato de agressividade que ocorre neste mundo tem como origem básica uma criatura que ainda não aprendeu a amar.

A crueldade, como pena de morte, já se achava estabelecida em quase todos os povos da Antiguidade. Em Atenas, dava-se ao sentenciado à morte opções de escolha: o estrangulamento, que era considerado por todos humilhante; o corte de cabeça através do cutelo, o que era muito doloroso; e o envenenamento, o preferido pela maioria dos condenados.

Na Roma Antiga, em época anterior a Júlio César, o enforcamento e a decapitação eram as sentenças mais generalizadas. Porém, ao homicida de pais e irmãos era aplicada uma pena invulgar: ser cozido vivo e depois atirado ao mar. A condenação dos incendiários eram as chamas da fogueira. Os hebreus preferiam o apedrejamento, ou a decapitação, pois atribuíam estar na cabeça a localização dos delitos. Na China, havia um processo de deixar cair gotas d'água na testa do condenado, sempre no mesmo lugar, até conduzi-lo à completa loucura. No Japão, os sentenciados à morte tinham a permissão dos juízes para rasgar o próprio ventre com o sabre.

Impossível descrever aqui, nestas rápidas reflexões, os atos terríveis de personalidades da história da humanidade, ou analisar sua natureza primitiva e rudimentar, inata nas almas em seus primeiros passos de ascensão espiritual. Nomearemos apenas algumas criaturas que tiveram comportamentos degenerados; como Nero, Calígula, Caracala, Gengis Khan, Ivã – o Terrível, Tamerlão, e outras, sem nos determos nas atitudes dessas figuras do passado ou do presente, nem nas incontáveis condutas cruéis de homens que passaram anonimamente pela Terra. Todavia, não poderíamos deixar de registrar o fanatismo e o autoritarismo da “Santa Inquisição” — também conhecida como o “Santo Ofício”, criada em 1233 pelo papa Gregório IX —, que entrou para a História como uma das mais brutais demonstrações de ferocidade e violência contra os direitos humanos.

Não saberemos avaliar com precisão quais os atos mais perversos e sanguinários: os realizados pelos executores, ou os praticados pelos executados. Aliás, pessoas lutam e matam até hoje “em nome de Deus”, para justificar e proteger suas crenças religiosas.

A atrocidade, o sadismo, a perversidade e a desumanidade são características provenientes da insensibilidade ou enrijecimento da psique humana, em processo inicial de desenvolvimento espiritual.

A Espiritualidade, na terceira parte, capítulo VI, de “O Livro dos Espíritos”, expõe: “(...) o senso moral existe, como princípio, em todos os homens (...) dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos (...)” (1)

As faculdades do homem estão em estado latente, “como o princípio do perfume no germe da flor, que ainda não desabrochou”, assim, também, em essência somos todos unos com a Perfeição Divina que habita em nós.

Todo processo de aprendizagem resulta em uma expansão da consciência, o que nos possibilita, gradativamente, abandonar os gestos bárbaros. Quando a criatura integrar na sua mentalidade o senso moral, que nela reside em estado embrionário, converterá os atos agressivos em atitudes sensatas e humanas.

Um traço comum em toda a Natureza é a evolução. Evoluir é o grande objetivo da Vida, pois, quanto mais progredirmos, mais resolveremos nossos problemas com harmonia e sensatez. A maioria dos indivíduos se comporta como se os problemas existissem por “si sós” e exige que o mundo exterior os resolva. Mas as dificuldades não existem fora, e sim dentro de nós mesmos. Nesse caso, quanto mais percebemos essa realidade, mais aprenderemos como solucioná-los sem brutalidade.

Cada ato de agressividade que ocorre neste mundo tem como origem básica uma criatura que ainda não aprendeu a amar. Naturalmente, todos nós ficamos indignados com a rudeza ou a maldade, mas devemos entender que isso é um processo natural da humanidade em amadurecimento e crescimento espirituais.

Por trás de todo ato de crueldade, sempre existe um pedido de socorro. Precisamos escutar esse apelo inarticulado e dissolver a violência com nossos gestos de amor.

Os atos e a vida do Cristo apresentam, sob muitos aspectos, sempre algo de novo a ser interpretado em seu significado mais profundo. A História da humanidade nunca registrou nem registrará fato tão cruel e violento na vida de um ser humano como aquele ocorrido há quase dois mil anos.

Os judeus tinham, nas redondezas de Jerusalém, uma colina que se destinava à execução dos condenados da época.

Era um terreno de acentuado declive, aspecto pesado e sombrio, onde crucificavam assassinos e ladrões. Os gregos deram-lhe o nome de Gólgota, do hebraico “gulgoleth” (“crânio”), os romanos chamavam de Calvário, do latim “calvarium” (“lugar das caveiras”). Esse sítio tinha uma formação rochosa que se assemelhava a uma caveira, além de nele se encontrarem, por todos os lados, crânios em decomposição, expostos ao tempo.

Nesse tétrico lugar, um ser extraordinário, que queria simplesmente despertar nos homens sua “dimensão esquecida”, ou religar esse “elo perdido” ao Poder da Vida, foi crucificado penosamente.

“E, quando chegaram a um lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram, juntamente com dois malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Mesmo diante do sofrimento, Jesus dizia: Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem.” (2)

O grande número de pessoas ali presentes representava a violência humana; para elas não havia sequer um laivo de maldade em suas ações, e se ofenderiam, certamente, se fossem acusadas de perversas. Jesus, no entanto, as entendia em sua infância espiritual.

Todos nós, na atualidade, preocupados em saber como lidar com a violência que explode de tempos em tempos no seio da sociedade terrena, devemos sempre fazer uma busca interior para compreender integralmente o significado majestoso dessa atitude de entendimento, perdão e amor que Jesus Cristo legou para toda a humanidade.


1. Questão 754 – A crueldade não derivará da carência de senso moral?
“Dize – da falta de desenvolvimento do senso moral; não digas da carência, porquanto o senso moral existe, como princípio, em todos os homens. É esse senso moral que dos seres cruéis fará mais tarde seres bons e humanos. Ele, pois, existe no selvagem, mas como o princípio do perfume no gérmen da flor que ainda não desabrochou.”
Nota – Em estado rudimentar ou latente, todas as faculdades existem no homem. Desenvolvem-se, conforme lhes sejam mais ou menos favoráveis as circunstâncias. O desenvolvimento excessivo de umas detém ou neutraliza o das outras. A sobreexcitação dos instintos materiais abafa, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece pouco a pouco as faculdades puramente animais.

2. Lucas 23:33 e 34

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Crueldade - Parte 1

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 1


A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões.

De todas as violências que padecemos, as que fazemos contra nós mesmos são as que mais nos fazem sofrer. Nessa crueldade, não se derrama sangue, somente se constroem cercas e cercas, que passam a nos sufocar e a nos afligir por dentro.

Montaigne, célebre filósofo francês do século XVI, escreveu: “A covardia é mãe da crueldade”. Realmente, é assim que se inicia nossa auto-agressão. Em razão de nossa fragilidade interior e de nossos sentimentos de inferioridade, aparece o temor, que nos impede de expressar nossas mais íntimas convicções, dificultando-nos falar, pensar e agir com espontaneidade ou descontração.

A autocrueldade é, sem dúvida, a mais dissimulada de todas as opressões. Além de vir adornada de fictícias virtudes (aparente mansidão, paciência e serenidade), recebe também os aplausos e as considerações de muitas pessoas, mas, mesmo assim, continua delimitando e esmagando brutalmente. Essa atmosfera virtuosa que envolve os que buscam ser sempre admirados e aceitos deve-se ao papel que representam incessantemente de satisfazer e de contentar a todos, em quaisquer circunstâncias. Buscam contínuos elogios, colecionando reverências e sorrisos forçados, mas pagam por isso um preço muito alto: vivem distantes de si mesmos.

A causa básica do “autotormento” consiste em algo muito simples: viver a própria vida nos termos estabelecidos pela aprovação alheia.

A timidez pode ser considerada uma autocrueldade. O acanhado vigia-se e, ao mesmo tempo, vigia os outros, vivendo numa autoprisão. Em razão de ser aceito por todos, ele não defende sua vontade, mas sim a vontade das pessoas. Pensa que há algo de errado com ele, não desenvolve a autoconfiança e, continuamente, se esconde por inibição.

Pensar e agir, defendendo nosso íntimo e nossos direitos inatos e, definindo nossas perspectivas pessoais, sem subtrair os direitos dos outros, é a imunização contra a autocrueldade.

Para vivermos bem com nós mesmos, é preciso estabelecermos padrões de auto-respeito, aprendendo a dizer “não sei”, “não compreendo”, “não concordo” e “não me importo”.

As criaturas que procuram bajulação e exaltação martirizam-se para não cometer erros, pois a censura, a depreciação e a desestima é o que mais as atemorizam. Esquecem-se de que os erros são significativas formas de aprendizagem das coisas. É muito compreensível faltarmos à lógica numa tomada de decisão, ou mudamos de ideia no meio do caminho; no entanto, quando errarmos, será preciso que assumamos a responsabilidade pelos nossos desencontros e desacertos e apreendamos o ensinamento da lição vivenciada.

Quem busca consenso, crédito e popularidade não julga seus comportamentos por si mesmo, mas procura, ansiosamente, as palmas dos outros, oferecendo inúmeras razões para que suas atitudes sejam totalmente consideradas.

Vivendo e seguindo seus próprios passos, poderá inicialmente encontrar dificuldades momentâneas, mas, com o tempo, será recompensado com um enorme bem-estar e uma integral segurança de alma.

Estar alheio ou sair de si mesmo, na ânsia de ser amado por todos aqueles que considera modelos importantes, será uma meta alienada e inatingível. O único modo de alcançar a felicidade é viver, particularmente, a própria vida.

A fixação que temos de olhar o que os outros acham ou acreditam, sem possuirmos a real consciência do que queremos, podemos, sentimos, pensamos e almejamos, é o que promove a destruição em nossa vida interior, ou seja, o esfacelamento da própria unidade como seres humanos e, por consequência, nossa unidade com a vida que está em tudo e em todos.

Consulta Kardec os Obreiros do Bem: “A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?” E eles responderam: “De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza.” (1)

“Pertencer-se a si mesmo”, conforme nos asseveram os Espíritos, é exercer a liberdade de não precisar conciliar as opiniões dos homens e de livrar-se das amarras da tirania social, da escravidão do convencionalismo religioso, das vulgaridades do consumismo, da constrição de ser dependente, enfim, do medo do que dirão os outros.

A solução para a autocrueldade será a nossa tomada de consciência de que temos a liberdade por “direito que vem da Natureza”. Contudo, de quase nada nos servirá a liberdade exterior, se não cultivarmos uma autonomia interior, porque quem está internamente entre grilhões e amarras jamais poderá pensar e agir livremente.


1. Questão 827 – A obrigação de respeitar os direitos alheios tira ao homem o de pertencer-se a si mesmo?
“De modo algum, porquanto este é um direito que lhe vem da Natureza.”

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

As Dores da Alma - Introdução

Livro: As Dores da Alma
Autor Espiritual: Hammed




Nas celebrações da publicação do primeiro livro da Codificação Kardequiana, quando a Seara Espírita completa 141 anos de iluminação e libertação das consciências, entregamos aos leitores o resultado de nossos estudos e meditações sobre os ensinamentos superiores de “O Livro dos Espíritos”.

Desde muito, aspirávamos realizar comentários em tomo da imensa riqueza que existe nessa obra basilar. Nela encontramos verdadeiros tratados de sociologia, de psicoterapia, de pedagogia, de saúde mental e outras tantas ciências, que são valiosos recursos para desenvolvermos a capacidade de pensar, de escolher, de tomar decisões e para nos tomarmos cada vez mais conscientes em todas as circunstâncias da vida.

Inspirando-nos em suas preciosas “questões e respostas” (1), fizemos nossas modestas anotações, cujas páginas (2), em sua totalidade, reunimos neste volume. Não temos a pretensão de inovar as diretrizes espíritas, mas sim o propósito sincero de reafirmar-lhes os sublimes conceitos que, em realidade, são os grandes estimuladores da mente humana à sementeira de uma vida nova Para tanto, utilizamo-nos de um sumário de termos retirados dos materiais de pesquisa e do pensamento de notáveis estudiosos do comportamento humano.

Estamos cientes de que integramos falange de espíritos ainda em evolução nas atmosferas intelectuais da Terra, tão sujeitos a enganos como qualquer outro. Temos também consciência de que somos uma alma que leva ao alto o archote iluminado que Jesus Cristo, por compaixão, nos concedeu a graça de carregar, para que iluminássemos a nós mesmos, em primeiro lugar, a fim de que conhecêssemos as nossas faltas e, ao superá-las, realizássemos serviço do autodescobrimento.

Nada traz de incomum e extraordinário nossa contribuição. Estes simples textos, em que desenvolvemos um raciocínio, um mais entre os diversos estudos das questões e dos conflitos humano, representam o somatório de nossas meditações nos ensinamento superiores. Apuramos dados atuais, examinamos conquista modernas, observamos conceitos recentes, tentando resumir dessa forma nossas conclusões, que ora entregamos nesta editoração.

Em nossos apontamentos, denominamos os “sete pecados capitais” como as “dores da alma”. São eles: o orgulho, a preguiça, raiva, a inveja, a gula, a luxúria e a avareza. Na atualidade, graças a valioso concurso das doutrinas psíquicas, de modo geral, e da psicologia espírita, especificamente, esses “pecados” são considerados ma como desajustes, neuroses ou desequilíbrios íntimos. Em verdade os “pecadores” precisam mais de auto-análise, reparação e tratamento do que de condenação, repressão ou castigo.

Quem tem hoje um mínimo de clareza íntima procura discernir esses processos psicológicos em desalinho da psique humana não levá-los a um sacerdote para que os absolva; ou, simplesmente apontá-los como faltas ou erros provocados pela ação dos espíritos infelizes, sem assumir nenhuma responsabilidade.

Entendemos que as “dores da alma” são fases naturais da evolução terrena, nas quais estagiam todos os seres em crescimento espiritual, aprendendo a usar, convenientemente, seus impulsos inato ou forças interiores.

A moralidade medieval, em seu ardoroso empenho de regulamentar uma linha de conduta, instituiu os “sete pecados capitais”, que supomos ter sido uma tentativa de impedir que as criaturas enveredassem pelos imaginários caminhos do mal, com o temor de serem levadas a uma completa ruína por toda a eternidade.

Na atualidade, as religiões austeras ou intransigentes proclamam ainda o pecado em “altas vozes”, julgando as atitudes e as ações com um radicalismo irracional e posicionando-se com uma certeza absoluta sobre o que é bom ou mal, certo ou errado.

No entanto, quem compreendeu as divinas intenções do Poder da Vida sabe que, na nossa existência, nada pode estar acontecendo de errado, pois a obra da Natureza tem a maravilhosa capacidade de sempre estar promovendo a todos, mesmo quando tudo nos pareça perda ou destruição.

Ao entregarmos o nosso livro, temos a intenção de despertar os interessados para a conquista do auto-aperfeiçoamento, através do estudo da vida inconsciente, “o além-mar” de nossa existência de espíritos imortais, fazendo conexões entre os mecanismos e métodos da psicologia e diversas questões do “Livro-luz”.

Essas interligações entre a Nova Revelação e estudos das atividades psicológicas permitiram novos ângulos de compreensão, contribuindo para que aceitemos, valorizemos e apreciemos tanto as nossas experiências como as dos outros e avaliemos tudo aquilo que elas representam, naquele exato momento evolutivo, sem lançarmos mão de críticas, perseguições ou imposições.

Possibilitam, do mesmo modo, que nos limitemos unicamente a olhar e observar os vários níveis da experiência humana, sem contestarmos ou indagarmos se poderiam ou não ser de outra forma. Assim, apreciamos somente as diferentes ações e formas de aprendizagem com que os bens fundamentais da Divina Providência agem e promovem a evolução da humanidade. “Nenhuma pessoa se queixa das pedras por serem duras, nem tampouco da cachoeira por ser úmida”. É dessa forma que devemos ponderar e analisar as atitudes heterogêneas na natureza humana, se quisermos facilitar e cooperar adequadamente com o processo educativo da Vida Maior em nós e nos outros.

O mau hábito de fixarmo-nos em prejulgamentos criar-nos-á dores e dificuldades no amanhã, quando tivermos que arrancar essas raízes de inflexibilidade. Por isso, entendemos que “melhor é ser planta que germina de galho”.

A dor emocional, diferentemente da lesão material, implica uma angústia no corpo todo; porém, a impressão física parece real. As “dores da alma” provocam um aperto no peito, uma dificuldade de respirar, uma sensação de que o coração vai se partir. “Enquanto eu chorava, doía muito mesmo no fundo do coração”, assim muitos se expressam diante dos pesares e aflições da vida.

As pessoas, entretanto, tendem a condenar e punir, olvidando-se de que todos somos alunos, não malfeitores, na escola da vida; que as “dores da alma” são as educadoras ou instrutoras particulares que a Harmonia da Vida nos concedeu, para vencermos bloqueios e obstáculos íntimos.

Esquecem também de que a Doutrina Espírita reconhece, não exclusivamente, a religião, mas de forma igual a ciência e a filosofia como processos de aprendizagem; em outras palavras, métodos de ensino importantes que utilizamos para conhecer a nós mesmos, as outras criaturas e demais criações do Universo. O Espiritismo sintetiza esses três métodos para que os indivíduos percebam a unidade ou totalidade do conhecimento pleno, e não a dualidade, que nos aprisiona ao mundo conflitante dos opostos.

Com esta singela obra, sentimo-nos desde já recompensados, pois oferecemos a instrumentalidade de nossa vida aos princípios do amor e da educação, tentando cooperar, de certo modo, com os nossos semelhantes. Portanto, se as páginas aqui reunidas puderem constituir para algum deles explicação, solução, reflexão ou renovação, ensejando-lhe alívio para suas “dores da alma”, ficaremos duplamente gratificados pela realização deste trabalho.

Catanduva, 8 de junho de 1998.

Hammed


1. Tivemos a atenção de transcrever; ao término de cada mensagem, as questões em estudo de “O Livro dos Espíritos” (Edição da FEB, tradução de Guillon Ribeiro), a fim de facilitar as observações e os estudos dos leitores.
2. Algumas mensagens psicografadas que figuram nesta obra foram, inicialmente, publicadas pela Boa Nova Editora e Distribuidora de Livros Espíritas de Catanduva, de forma avulsa. Aparecem agora revisadas e adaptadas, para uma melhor apresentação e ordenação do conjunto. (Notas do autor espiritual)

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

A Busca do Melhor

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 54

“Pedi e se vos dará; buscai e achareis; batei à porta e se vos abrirá; porque todo aquele que pede recebe, quem procura acha, e se abrirá àquele que bater à porta...”

“... mas Deus lhe deu, a mais do que ao animal, o desejo incessante do melhor, e é este desejo do melhor que o impele à procura dos meios de melhorar sua posição...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 25 - Itens 1 e 2

“Nenhum ser humano deseja ser infeliz intencionalmente”, pois nenhuma criatura ousa fazer alguma coisa de propósito, a fim de que venha a sofrer ou a se tornar derrotada.

Quando agimos erroneamente, é porque optamos pelo que nos parecia o “melhor”, conforme nossa visão, visto que todos os nossos comportamentos estão alicerçados em nossa própria maneira de perceber a vida.

Sócrates afirmava que “ninguém que saiba ou acredite que haja coisas melhores do que as que faz, ou que estão a seu alcance, continua a fazê-las quando conhece a possibilidade de outras melhores”.

A compreensão do “melhor” depende do desenvolvimento de um raciocínio lógico para cada situação, e se dá na criatura através de uma sequência progressiva, onde se leva em conta a maturidade espiritual adquirida em experiências evolutivas no decorrer dos tempos.

Todos nós acumulamos informações, instruções, noções em nossas multifárias vivências anteriores. A princípio, passamos a vivenciá-las superficialmente. Aos poucos, vamos analisando-as e assimilando-as, entre processos de reelaboração, para só depois passar a integrá-las em definitivo em nós mesmos, isto é, incorporá-las por inteiro.

Em “fazer nosso melhor” esta contido o quanto de amadurecimento conseguimos recolher nas experiências da vida e também como usamos e inter-relacionamos essas mesmas experiências quando deparamos com fatos e situações no decorrer dos caminhos.

Fundamentalmente, somos agora o que de melhor poderíamos ser, já que estamos fazendo conforme nossas possibilidades de interpretação, junto aos outros e perante a vida, porque sempre optamos de acordo com nossa “gradação evolutiva”.

Perguntamo-nos, porém, quanto aos indivíduos que matam, mentem, caluniam e fingem: porventura, um ladrão que assalta alguém não saberá o certo, ou o justo? Desconhece o que está fazendo?

Instrução é conhecer com o intelecto e, portanto, não é a mesma coisa que “saber com todo o nosso ser”; isto é, só integraremos o “saber” de alguma coisa quando ela se encontrar completamente “contida” em nós próprios. Aí, de fato poderemos dizer que aprendemos e assimilamos totalmente.

Assim analisando, apenas o que sentimos em profundidade, ou experimentamos vivenciando, é que é considerado o nosso “melhor”. Não o que lemos, não o que escutamos, não o que os outros ensinam, ou mesmo o que tentam nos mostrar. Estar na “cabeça” não é o mesmo que “estar na alma inteira”.

Aparentemente, podemos julgar um ato como negativo, mas, quando atingirmos o âmago da criatura e observarmos como ela foi educada, quais valores recebeu na infância, o meio social em que cresceu, aí entenderemos o que a motivou a agir daquela forma e o porquê daquele seu padrão comportamental.

Obviamente que o nosso melhor de hoje sofrerá amanhã profundas alterações. Aliás, a própria evolução é um processo que nos incita sempre ao melhor, pois é propósito do Universo fazer-nos progredir cada vez mais para nos aproximar da sabedoria plena.

A natureza humana tende sempre a compensar suas faltas e insuficiências. Consta cientificamente que todo organismo está sempre buscando se atualizar, ou se suprir, pois quando gasta energia tem sempre a necessidade de recompor essa carência energética, expressando-se em algumas ocasiões com a sensação da fome ou da sede. Notamos que essa força que busca melhorar-nos, ou mesmo contrabalancear-nos, é como se fosse uma “alavanca poderosa” que tende sempre a atualizar-nos, mantendo-nos sempre no melhor equilíbrio possível. Quando um pulmão adoece e deixa de funcionar, o outro pulmão faz a função de ambos; assim também pode ocorrer com nosso rim. Em outros casos, essa força interna tenta reparar os deficientes visuais e auditivos, compensando-os com maior percepção, sensibilidade e tato. Estruturas ósseas fraturadas se recompõem e se solidificam mais fortalecidas no local exato onde houve a lesão.

Além disso, verifica-se que nosso sistema imunológico, que é essa mesma força em ação, exerce grande influência sobre o organismo para mantê-lo no seu melhor desempenho, conservando a própria subsistência orgânica através de mecanismos de autodefesa, com que elimina todos e quaisquer elementos estranhos que possam vir a comprometê-lo.

Por definição, “processo de atualização” é a capacidade de adaptação às novas necessidades, ou mesmo a modificação de comportamento íntimo para melhores posturas, a fim de que se conserve a individualidade integralizada.

Ao analisarmos as estruturas físicas, sistemas e órgãos da constituição corpórea, veremos que funcionam por meio de uma atividade perfeita de compensação, e que sempre impulsionam a criatura a manter-se fisicamente melhor. Também sob o aspecto psicológico, esse fenômeno ocorre para que todos nós possamos ajustar-nos diante da vida, de acordo com o nosso “melhor”. Todo nosso propósito íntimo é fundamentalmente bom, porque ninguém consegue agir de modo diferente do que assimilou como certo ou favorável.

A intenção dos seres humanos se baseia no cabedal de capacidades e habilidades próprias, porém os meios de execução pelos quais eles atuam são sempre questionáveis, pois outros indivíduos, nas mesmas situações, tomariam medidas diferentes, baseados em seu “estágio evolutivo”.

Ainda examinando essa questão, é imperativo dizer que, quando estamos fazendo o nosso “melhor”, agimos de acordo com o que sabemos nesse exato momento e, dessa forma, a Providência Divina estará nos protegendo. Porém, quando propositadamente não correspondemos com atos e atitudes ao nosso grau de justiça e conhecimento, passamos a não mais receber “condescendência espiritual”, visto que transgredimos os limites das leis naturais que nos amparam e sustentam.

Escreveu o apóstolo Pedro que “Deus julga a cada um de acordo com suas obras” (1). Tais palavras poderão ser interpretadas como a certeza de sermos avaliados pelo “Poder Divino” segundo nossa capacidade de escolha, ou seja, levando-se em conta nosso conjunto de funções mentais e espirituais, bem como nossa aptidão racional de fazer, decidir, analisar e tomar direções.

As nossas “obras”, as quais são referenciadas no texto evangélico, não são edifícios de alvenaria, perecíveis e passageiros; são nossas construções íntimas - o “maior potencial” que já conquistamos ou conseguimos atingir, em todos os sentidos da vida.

Isso equivale a dizer que o nosso “melhor” será sempre o ponto-chave na apreciação e no cálculo da “Contabilidade Divina”, ao registrar se os “céus nos ajudarão”, se “acharemos o que buscamos”, se “as portas se abrirão” ou se “permanecerão fechadas”.

1. I Pedro 1:17

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

Ligar-se a Deus

Livro: Renovando Atitudes
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 53

“... A forma não é nada, o pensamento é tudo. Orai, cada um, segundo as vossas convicções e o modo que mais vos toca; um bom pensamento vale mais que numerosas palavras estranhas ao coração...”

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 28 - Item 1

No passado buscávamos Deus entre os holocaustos, oferendas, incensos, cultos e cantos. Era necessária uma representação semimaterial, apropriada ao nosso estado de adiantamento e à nossa capacidade de entendimento espiritual. Desde os velhos tempos do monoteísmo do grande Amenhotep IV ou Akhnaton e o do iluminado Moisés até as numerosas e antigas religiões politeístas, como a dos hindus, egípcios, babilônios, germanos, gregos e romanos, a criatura humana atravessou uma longa fase de amadurecimento espiritual.

Atualmente, as nossas relações com a Divindade têm caráter introspectivo. Se antes a nossa busca se concretizava na exterioridade das coisas, hoje, porém, a fazemos em “espírito e em verdade” (1), ou seja, na essência - imo de nós mesmos.

A introspecção - processo pelo qual prestamos atenção a nossos próprios estados e atividades internas - conduz as criaturas a se identificar com a maior de todas as fontes de poder do Universo: Deus - manifestação onipresente em todas as suas criações.

Voltar-se para dentro de si mesmo talvez não seja uma atitude constante, espontânea e natural na maioria dos seres humanos, por possuírem o hábito de ocupar mais seus sentidos com as impressões externas do que com as realidades interiores das coisas.

Muitos indivíduos vivem dentro de um círculo vicioso, na ânsia desmedida de estímulos aparentes, mantendo-se constantemente ocupados com as impressões de fora e nutrindo-se energeticamente só desses estímulos físicos. Contudo, não podemos ignorar ou desvalorizar as fases evolutivas do homem, pois viver para fora é ainda uma necessidade existencial de muitos na atualidade; e é dessa forma que farão pontes ou conexões entre o mundo interno e o externo, entendendo gradativamente que a vida exterior é um reflexo da vida interior.

A busca às fontes de crescimento e renovação espiritual inicia-se vivendo para fora, e aos poucos tomando consciência da vida em si mesmo; portanto, tudo está perfeito na criação universal - viver exteriormente não exclui viver interiormente. São etapas interligadas de um longo processo de aprendizagem evolucional.

Perceber, no entanto, a verdadeira realidade do mundo que nos rodeia é fator imprescindível para vivermos bem na intimidade de nós mesmos.

Nossa vida mais lúcida, mais íntegra, mais prazerosa, mais criativa e indissolúvel se desenvolve dentro de nós mesmos, nas atividades recônditas dos pensamentos, dos sentimentos, da imaginação produtiva e da consciência profunda.

Interiorizar-nos na oração, vivendo cada vez mais a plenitude da vida por dentro, faculta-nos observar o que somos, quem somos e o que realmente está acontecendo em nossas vidas. Facilita também nossa percepção entre o “real” e o “imaginário”, diminuindo as possibilidades de iludir-nos ou fantasiarmos fatos e ocorrências.

“Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (2)

Tomar contato com “Deus em nós” possibilita trazer à nossa visão atual uma translúcida consciência, que nos permite reavaliá-la convenientemente. Faculta igualmente localizar os enganos e reformular percepções, para que possamos identificar a realidade tal qual é, pois viver ignorando o significado de nossos atos e impulsos é desvalorizar o nosso processo evolutivo, passando pela vida na inconsciência.

Cultivar o reino espiritual em nós facilita-nos escutar a verdade que Deus reservou para cada uma de suas criaturas. Também no cultivo desse reino aprendemos que a felicidade não é determinada por eventos ou forças externas, mas no silêncio da alma, onde a inspiração divina vibra intensamente.

Paulo de Tarso escreve aos Efésios: “... Que Ele ilumine os olhos dos vossos corações, para saberdes qual é a esperança que o Seu chamado encerra...” (3)

Buscar a Deus com os “olhos do coração” - na expressão paulina - é reconhecer que somente olhando para dentro de nós mesmos, descobrindo o que Deus escreveu em todos os corações, é que conseguiremos alcançar a plenitude da vida abundante. E entregarmo-nos a partir daí à Sua Orientação e Sabedoria, sem restringir-nos a “resultados esperados”. Essa a forma mais consciente de orar.

O mais alto sistema de intercâmbio com a Vida em nós e fora de nós é a oração - escutar a Deus no âmago da própria alma.

1. João 4:23
2. I Coríntios 3:16
3. Efésios 1:18