sexta-feira, 14 de agosto de 2020

Egoísmo - Parte 2

Livro: As Dores da Alma

Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 12

A mesquinhez pode manifestar-se ou não com a acumulação de posses materiais, como também pode aparecer como um “refreamento de sentimentos” ou um “autodistanciamento do mundo.”


Kardec, o sistematizador dos ensinos espíritas na Terra, comenta: “... a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado quanto o de trabalhar e de viver.” E as Vozes do Céu, sob a direção do Espírito de Verdade, afirmam: “Não disse Deus: 'Não roubarás?' E Jesus não disse: 'Dai a César o que é de César?” ¹

A avareza não deve ser entendida apenas como um “defeito” ou uma “falha” humana a ser corrigida de modo compulsório, mas precisa, naturalmente, ser compreendida em sua origem mais profunda.

A falta de generosidade e a insensibilidade em relação às necessidades dos outros têm raízes numa defesa psicológica que desencadeia nos indivíduos uma ruptura na conexão entre o seu conteúdo emocional e o seu conteúdo intelectual.

A criatura sovina isola-se em si mesma. Nada tem importância para ela, a não ser a contenção doentia e generalizada em relação à sua própria vida interior, e não só em relação aos outros, como se pensa habitualmente. A mesquinhez pode manifestar-se ou não com a acumulação de posses materiais, como também pode aparecer como um “refreamento de sentimentos” ou um “autodistanciamento do mundo”. Como a matriz interior se fundamenta numa necessidade reprimida da pessoa que não consegue se relacionar com outras, nem mesmo delas se aproximar para permuta de experiências e afetividade, ela se sente solitária e, assim, compensa-se, acumulando bens. Constrói torres e muralhas imensas para se proteger do empobrecimento que ela mesma vivencia, inconscientemente, há muito tempo — a escassez e a inibição da aproximação social e afetiva.

Cria toda uma atmosfera de autonomia por possuir valiosos objetos exteriores destinados a suprir a sensação de vulnerabilidade que sente ao lidar com as pessoas.

Na atualidade, tenta-se resgatar essa sensação do vácuo interior, existente na intimidade da alma humana, com uma reivindicação do desejo, cada vez maior, de possuir bens materiais. O grande fluxo de indivíduos que buscam os consultórios de psiquiatria e as clínicas das mais diversas especialidades médicas se deve a esse clima de insatisfação e de vazio existencial, que nada mais é que a colheita dos frutos do egoísmo — incapacidade de se relacionar, repressão dos sentimentos de amor e de fraternidade e a inconsciência de uma vida interna e eterna.

A indiferença e a frieza emocional, a apatia e o apego patológico, bem como o distanciamento das privações dos outros, são características marcantes das criaturas que alimentam uma paixão egoística pelos bens materiais. São conhecidas como sovinas, mesquinhas ou usurárias.

O trabalho interior sempre melhora a qualidade de nossa vida, pois passamos a conhecer a nós mesmos e o Universo como um todo, visto que somos levados também por um propósito precípuo cuja função é a de aprender a amar incondicionalmente.

Procuremos então viver, não como proprietários definitivos de nossas posses, mas apenas como usufrutuários delas.

A técnica para aprendermos a amar, usando de generosidade e desprendimento, é empregarmos nossos sentimentos e emoções com equanimidade, o que quer dizer, dar-lhes igual importância ou utilizá-los com imparcialidade. A seguir, faremos breves anotações, cuja observação acurada poderá nos fornecer dados importantes para comportamo-nos com racionalidade:

— caridade sem salvacionismo;

— humildade sem baixa estima;

— determinação sem atrevimento;

— obediência sem submissão;

— bondade sem anulação da personalidade;

— compaixão sem sentimentalismo;

— segurança sem impulsividade;

— perseverança sem obstinação.

A avareza é o produto de uma necessidade que se encontra na intimidade da psique humana. Ela tenta enfeitar ou distrair o conflito com a busca de bens perecíveis, mas nunca consegue suprir a sensação de carência íntima.

Em síntese, o altruísmo é o amor desinteressado, resultado do “enriquecimento da vida interior”, enquanto a avareza é filha da “pobreza do mundo interior”, acarretando uma desumanização e uma obstrução da capacidade de amar.


1. Questão 882 – Tem o homem o direito de defender os bens que haja conseguido juntar pelo seu trabalho?

“Não disse Deus: 'Não roubarás?' E Jesus não disse: Dai a César o que é de César?”

Nota – O que, por meio do trabalho honesto, o homem junta constitui legítima propriedade sua, que ele tem o direito de defender, porque a propriedade que resulta do trabalho é um direito natural, tão sagrado quanto o de trabalhar e de viver.

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