quinta-feira, 25 de março de 2021

Desapego - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 2

Não adianta "fecharmos as cortinas da janela da alma" a fim de levarmos uma vida de sonhos - repleta de pensamentos e vazia de experiências -, atenuando ou impedindo os estímulos externos. Isso é um "desapego defensivo", ou resignação neurótica, e não uma virtude genuína.

Denominamos "desapego defensivo" o mecanismo de fuga da realidade, utilizado, de forma inconsciente ou não, por pessoas que possuem um constrangimento autoimposto proveniente do medo de amar, ou mesmo de se perder na sede de amor por objetos, pessoas ou ideias e de serem absorvidas por enorme necessidade de dependência e submissão fora do próprio controle.

Esse "desapego de proteção" tem como base profunda um processo mental ativado tão logo o indivíduo perceba algo ou alguém que tenha grande significado para ele, e que, se o perdesse, seria muito doloroso. Ele adota uma atitude de contenção dos sentimentos e se isola com indiferença e desprezo diante do seu mundo sensível.

Declara-se desinteressado e frio, mantendo por postura íntima o seguinte pensamento: "Eu não me importo", quer dizer, "Não abro as portas do meu sentimento". (Aliás, a palavra 'importar" vem do latim importare - "trazer para dentro" ou "trazer para si"). Assim, ele não se sentirá frustrado ou ameaçado pelos conflitos, porquanto supõe ter atingido um "real desapego", quando, na verdade, apenas utiliza uma desistência da expressão, do anseio, da vontade, da satisfação e da realização pessoal, ou seja, restringe e mutila a vida ativa.

Por outro lado, o "desapego saudável" é uma vivência que leva ao crescimento íntimo e a uma expansão da consciência, enquanto a experiência defensiva conduz a um bloqueio das sensações, fazendo com que as pessoas vivam numa aparente fuga social, exibindo atos e comportamentos fictícios, envolvidas que estão por uma atmosfera de falsa renúncia e altruísmo.

É considerada pelos Espíritos Superiores como "duplo egoísmo" a atitude de certos "homens que vivem na reclusão absoluta para fugir ao contato do mundo"  (1).

Não podemos nos esconder atrás de valores sagrados para camuflar conflitos de caráter afetivo, sexual, profissional, cultural, religioso — isso é escapismo. Enfim, uma deserção da participação social é, na verdade, um fenômeno retardatário do amadurecimento psicológico. Esse tipo de desapego, que parece ter como motivo um imenso desprendimento por bens materiais ou pessoas, comprova, acima de tudo, ser apenas um desejo de fuga ou um receio proveniente do egoísmo.

Uma atitude autoimposta por dúvidas e desconfiança, insegurança e temor, além de nos autoagredir, nos afasta do caminho natural e nos desvia do dinamismo evolutivo da Vida Providencial. Não adianta "fecharmos as cortinas da janela da alma" a fim de levarmos uma vida de sonhos - repleta de pensamentos e vazia de experiências -, atenuando ou impedindo os estímulos externos. Isso é um "desapego defensivo", ou resignação neurótica, e não uma virtude genuína.

As criaturas do mundo estão cheias de fictícios desapegos que, na realidade, reduzem a visão da verdadeira espiritualidade, dificultando as muitas maneiras de despertar as potencialidades da alma.

Diz-se que um indivíduo "apegado" é indeciso e inerte, porque perdeu a conexão consigo mesmo; não sabe mais o que quer para si, não mais navega os mares nem desbrava os continentes de seu reino interior - desviou-se de sua rota existencial.

Disse Jesus: "Em verdade, em verdade, vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto. Quem ama sua vida a perde e quem odeia a sua vida neste mundo guardá-la-á para a vida eterna" (2).

O entendimento das palavras do Mestre pode nos libertar do sofrimento a que nos arremessou o apego.

O "amar a vida" ou "odiar a vida" a que o Cristo se refere é, exatamente, o despertar ou a conscientização de que as coisas vêm e vão na nossa existência, e que é preciso adotar a prática do desapego em relação a elas. O apego é a memória da "dor" ou do "prazer" passado, que carregamos para o futuro. Atrás de cada sofrimento existe um apego.

"Se o grão de trigo que cai na terra não morrer, permanecerá só; mas se morrer, produzirá muito fruto". Eis a excelência da mensagem: tudo em nossa vida terrena é transitório, vai passar; vai mudar e ir além... Os "grãos de trigo" vão tomar uma nova feição - se transformarão num imenso trigal e, mais adiante, se converterão na prodigalidade do alimento generoso.

Apego é a não-aceitação da impermanência das coisas. Na Terra nada se perpetua, somente a alma é imortal.

1. Questão 770 - Que pensar dos homens que vivem na reclusão absoluta para fugir ao contato do mundo? "Duplo egoísmo."

Mas se esse retiro tem por objetivo uma expiação, impondo-se uma privação penosa, não é ele meritório? "Fazer mais de bem do que se faz de mal, é a melhor expiação. Evitando um mal ele cai em outro, visto que esquece a lei de amor e de caridade. "

2. João, 12:24 e 25

quinta-feira, 18 de março de 2021

Alegria - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 1

É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o "tesouro escondido no campo da própria alma", isto é, reconhecer o Si-mesmo, a mais profunda realidade - a "vontade de Deus" , que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato.

Todos nós fomos criados pela Divina Sabedoria do Universo para ser felizes, tanto no plano físico como no astral, e certamente por toda a eternidade. A alegria de viver é um atributo natural de toda criatura humana - herança de sua filiação divina.

Na realidade, a alegria começa quando somos responsavelmente livres para ser nós mesmos; quando tomamos o leme de nossa vida nas próprias mãos e deixamos de ser escravos de algo ou de alguém. A bem da verdade, dizem os Benfeitores Espirituais: " Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus." (1)

Não "há homens que sejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens". Muitas pessoas acreditam que, sentindo e pensando como os outros, serão mais aceitas e amadas. Outras pensam que, comportando-se de forma submissa, débil e servil, evoluirão mais depressa. Elas ignoram que, assim procedendo, estarão perdendo contato com a própria fonte sapiencial, que promove o encontro com a "vontade de Deus". A prova disso é o que Paulo de Tarso escreveu aos romanos: " E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus." (2)

A "vontade de Deus", ou imago Dei, reside nas criaturas e representa um "livro sagrado" a ser desvendado na própria intimidade.

Sustenta Jung que trazemos em nosso íntimo a "imagem de Deus" - a marca do Si-mesmo (o Self inglês). Segundo as teorias junguianas, "o Si-mesmo não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que contém em si tanto o consciente quanto o inconsciente; ele é o centro dessa totalidade, assim como o ego é o centro da consciência". Carl Jung afirmava que o Self preside a todo o governo psíquico, é uma autoridade suprema e é considerado a unificação, a reconciliação, o equilíbrio dinâmico, um fator interno de orientação do mais alto valor.

Ajustando esses conceitos à nossa fé espírita, podemos dizer que o Cristo é o símbolo do Si-mesmo, porque se identificou plenamente com a "vontade de Deus". O Mestre reconheceu em si a imago Dei, visto que integrou sua compreensão do mundo exterior com tudo aquilo que é divino em si mesmo.

A concepção católico-cristã primitiva da imago Dei, assegurada na figura de Jesus, expressa, em verdade, que somente o Mestre retinha a totalidade da natureza divina. Ele é denominado até os dias atuais pela Igreja de Roma de "Filho Unigênito de Deus"- não manchado pelo pecado. Por outro lado, a religião romana afirma que os seres humanos não possuem as mesmas potencialidades celestes que possuía o Mestre, uma vez que a imagem divina do homem foi danificada e corrompida pelo "pecado original", e só será restaurada pela misericórdia do Criador.

Entretanto, os Guias da Humanidade afirmaram a Allan Kardec que os denominados anjos, arcanjos e serafins não formam uma categoria especial de natureza diferente da dos outros Espíritos (3), e que todos nós passamos igualmente por estágios na escala evolutiva, sem nenhuma distinção, prerrogativa ou exclusividade.

Não podemos conferir a um indivíduo uma criação superior ou especial em relação aos demais. Jesus de Nazaré não é filho privilegiado de Deus, mas um ser que desenvolveu suas potencialidades em altíssimo grau, incluindo-se entre os Espíritos que "aceitaram suas missões sem murmurar e chegaram mais depressa" (4). Superou a condição humana por sua elevada evolução espiritual. É um modelo real que todos nós poderemos atingir, se seguirmos seus passos e exemplos existenciais.

O verdadeiro contentamento fundamenta-se no fato de usarmos de forma livre, consciente e sensata a capacidade de ser, pensar, sentir e agir. A alegria de viver está baseada na certeza que experimentamos quando reconhecemos que palpita em nós uma tarefa suprema - o Self ou Si-mesmo -, que é a de manter todo o nosso sistema psíquico unido e reedificado toda vez que ele correr perigo de se fragmentar ou desequilibrar.

Uma vez que está impressa em nós a imago Dei, estamos em contato com essa "totalidade" ou "poder superior" e, portanto, sua presença atrai o ponteiro da "bússola interior", que nos indica o porto seguro da Vida Providencial. Quando seguramos as rédeas da própria existência, assenhoreando-nos dela, vivemos tranquilos e felizes e não mais necessitamos impor, comandar e controlar os outros, nem utilizar compulsoriamente a aprovação e os aplausos alheios para decidir ou agir, porquanto estamos firmados em nosso mais profundo "senso de identidade" com a Consciência Sagrada.

Não é egoísmo abrigar na alma uma sensação de aceitação genuína e profunda de nós mesmos, nutrindo uma autêntica autoestima e uma alegria que resultam num sentimento íntimo de vivacidade e contentamento. Essas ideias podem de início nos incomodar ou surpreender, já que podemos associá-las à vaidade ou ao orgulho. Por sinal, escreveu o apóstolo Mateus: "O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo." (5)

É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o "tesouro escondido no campo da própria alma", isto é, reconhecer o Si-mesmo, a mais profunda realidade - a "vontade de Deus", que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato.

Há muitas formas de escravidão. Não devemos nos escravizar a nada nem a nenhuma pessoa, pois o grau de alegria é proporcional ao grau de liberdade que possuímos.

Dentro de nós existe um universo ilimitado que infelizmente reduzimos ao mundo insignificante de nossos interesses mesquinhos. Quando nos identificarmos com o Criador, a alegria passará a ser presença marcante em toda e qualquer de nossas atitudes.

1. Questão 829 - Há homens que sejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens?

"Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos."

Nota - A lei humana que consagra a escravidão é uma lei antinatural, visto que assemelha o homem ao animal e o degrada moral e fisicamente.

2. Romanos, 12:2

3. Questão 128 de "O Livro dos Espíritos"

4. Questões 129 e 130 de "O Livro dos Espíritos"

5. Mateus , 13:44

terça-feira, 9 de março de 2021

Alegria - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 1

Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e abranda o coração dos homens.

A maioria das pessoas tem uma visão distorcida da alegria, pois a confunde com festas frívolas e divertimentos que provocam sensações intensas, risos exagerados; enfim, satisfações puramente emocionais.

Aliás, não há nada de errado em ser jovial, bem-humorado, festivo e risonho. Sentir as emoções terrenas inclui-se entre as prerrogativas que o Criador destinou a suas criaturas. Vivenciar a normalidade das sensações humanas é um processo natural estabelecido pela Mente Celestial.

Talvez as religiões fundamentalistas tenham mesclado as ideias contidas nas palavras alegria e tentação. Na realidade, o Mestre ensinava a seus seguidores que vivessem com alegria. "Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós", diz Jesus, "e vossa alegria seja plena" (1).

A verdadeira alegria está associada à entrega total da criatura nas mãos da Divindade, ou mesmo à aceitação de que a Inteligência Celestial a tudo provê e socorre.

É a confiança integral em que tudo está justo e certo e a convicção ilimitada nos desígnios infalíveis da Providência Divina.

A palavra aleluia tem origem no hebreu "hallelu-yah" e significa "louvai com júbilo o Senhor". Tem sido usada como cântico de alegria ou de ação de graças pela liturgia de muitas religiões a fim de glorificar a Deus. A designação "sábado de aleluia", utilizada pela Igreja Católica, tem como fundamento a exaltação à alegria, visto que nesse dia se comemora o reaparecimento de Jesus Cristo depois da crucificação.

Viver em estado de alegria é estar plenamente sintonizado com nossa paternidade divina, através das mensagens silenciosas e sábias que a Vida nos endereça.

A "entrega a Deus" é a base de toda a felicidade. No entanto, o problema reside em algumas religiões que recomendam a "entrega" não a Deus, mas a mandatários ou representantes "divinos", ou mesmo a congregações doutrinárias que impõem obediência e subordinação a seus diretores.

Condutas semelhantes acontecem em seitas ou em grupos dissidentes de uma religião, em que há uma entrega incondicional dos adeptos ao líder religioso e que resulta, inicialmente, numa suposta sensação de alegria e satisfação.

Na realidade, quando existe subordinação na nossa "entrega a Deus", ela não pode ser considerada real, pois, mais cedo ou mais tarde, a criatura vai notar que está encarcerada intimamente e que lhe falta a verdadeira comunhão com o Criador.

Viver em "estado de graça" ou em "comunhão com Deus" é estar perfeitamente harmonizados com nossa natureza espiritual. É a alegria de repetir com Jesus Cristo: "Eu estou no Pai e o Pai está em mim" (2).

A felicidade é um trabalho interior que quase nunca depende de forças externas. Deus representa a base da alegria de viver, pois a felicidade provém da habilidade de percebermos as "verdadeiras intenções" da ação divina que habita em nós e do discernimento de que tudo o que existe no Universo tem sua razão de ser.

O homem carrega na sua consciência a lei de Deus (3), afirmam os Espíritos Superiores a Allan Kardec. "A lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer e o que não deve fazer, e ele não é infeliz senão quando se afasta dela" (4).

Alegria como experiência de religiosidade é um valor que não tem preço. Essa sensação da alma, mais do que qualquer outra coisa, contagia e abranda o coração dos homens.

"Ninguém fica feliz por decreto"; sente imensa satisfação apenas quem está iluminado pela chama celeste. Rejubila-se realmente aquele que se identificou com a Divindade e descobriu que "a lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem".

A alegria espontânea realça a beleza e a naturalidade dos comportamentos humanos. Cultivar o reino espiritual em nós facilita-nos a aprendizagem de que a alegria real não é determinada por fatos ou forças externas, mas se encontra no silêncio da própria alma, onde a inspiração divina vibra incessantemente.

1. João, 15:11
2. João, 14:11
3. Questão 621 de "O Livro dos Espíritos"
4. Questão 614 - "Que se deve entender por lei natural?"
“A lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer e o que não deve fazer, e ele não é infeliz senão quando se afasta dela.”

Os Prazeres da Alma - Resenha






"Criatividade é a capacidade de concretizar coisas que existem em estado latente. É um fato indiscutível que tudo, praticamente tudo, já existe em outro nível de consciência, ninguém cria nada novo; na realidade, só desnudamos algo que estava submerso na potencialidade. Não conseguimos conceber nada além do que vivemos até agora e/ou do que estamos vivendo na atualidade. Portanto, esta obra, é um subproduto do que vivenciamos ou percebemos da vida no transcorrer de nossas existências. A proposta deste livro é levar todo coração humano a um estado de maior lucidez interior, a uma conscientização do potencial infinito da vida íntima e a uma habilidade de transitar pela existência terrena transpondo os empecilhos à evolução com maior facilidade."

HAMMED