quinta-feira, 18 de março de 2021

Alegria - Parte 2

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 1

É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o "tesouro escondido no campo da própria alma", isto é, reconhecer o Si-mesmo, a mais profunda realidade - a "vontade de Deus" , que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato.

Todos nós fomos criados pela Divina Sabedoria do Universo para ser felizes, tanto no plano físico como no astral, e certamente por toda a eternidade. A alegria de viver é um atributo natural de toda criatura humana - herança de sua filiação divina.

Na realidade, a alegria começa quando somos responsavelmente livres para ser nós mesmos; quando tomamos o leme de nossa vida nas próprias mãos e deixamos de ser escravos de algo ou de alguém. A bem da verdade, dizem os Benfeitores Espirituais: " Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus." (1)

Não "há homens que sejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens". Muitas pessoas acreditam que, sentindo e pensando como os outros, serão mais aceitas e amadas. Outras pensam que, comportando-se de forma submissa, débil e servil, evoluirão mais depressa. Elas ignoram que, assim procedendo, estarão perdendo contato com a própria fonte sapiencial, que promove o encontro com a "vontade de Deus". A prova disso é o que Paulo de Tarso escreveu aos romanos: " E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando vossa mente, a fim de poderdes discernir qual é a vontade de Deus." (2)

A "vontade de Deus", ou imago Dei, reside nas criaturas e representa um "livro sagrado" a ser desvendado na própria intimidade.

Sustenta Jung que trazemos em nosso íntimo a "imagem de Deus" - a marca do Si-mesmo (o Self inglês). Segundo as teorias junguianas, "o Si-mesmo não é apenas o centro, mas também toda a circunferência que contém em si tanto o consciente quanto o inconsciente; ele é o centro dessa totalidade, assim como o ego é o centro da consciência". Carl Jung afirmava que o Self preside a todo o governo psíquico, é uma autoridade suprema e é considerado a unificação, a reconciliação, o equilíbrio dinâmico, um fator interno de orientação do mais alto valor.

Ajustando esses conceitos à nossa fé espírita, podemos dizer que o Cristo é o símbolo do Si-mesmo, porque se identificou plenamente com a "vontade de Deus". O Mestre reconheceu em si a imago Dei, visto que integrou sua compreensão do mundo exterior com tudo aquilo que é divino em si mesmo.

A concepção católico-cristã primitiva da imago Dei, assegurada na figura de Jesus, expressa, em verdade, que somente o Mestre retinha a totalidade da natureza divina. Ele é denominado até os dias atuais pela Igreja de Roma de "Filho Unigênito de Deus"- não manchado pelo pecado. Por outro lado, a religião romana afirma que os seres humanos não possuem as mesmas potencialidades celestes que possuía o Mestre, uma vez que a imagem divina do homem foi danificada e corrompida pelo "pecado original", e só será restaurada pela misericórdia do Criador.

Entretanto, os Guias da Humanidade afirmaram a Allan Kardec que os denominados anjos, arcanjos e serafins não formam uma categoria especial de natureza diferente da dos outros Espíritos (3), e que todos nós passamos igualmente por estágios na escala evolutiva, sem nenhuma distinção, prerrogativa ou exclusividade.

Não podemos conferir a um indivíduo uma criação superior ou especial em relação aos demais. Jesus de Nazaré não é filho privilegiado de Deus, mas um ser que desenvolveu suas potencialidades em altíssimo grau, incluindo-se entre os Espíritos que "aceitaram suas missões sem murmurar e chegaram mais depressa" (4). Superou a condição humana por sua elevada evolução espiritual. É um modelo real que todos nós poderemos atingir, se seguirmos seus passos e exemplos existenciais.

O verdadeiro contentamento fundamenta-se no fato de usarmos de forma livre, consciente e sensata a capacidade de ser, pensar, sentir e agir. A alegria de viver está baseada na certeza que experimentamos quando reconhecemos que palpita em nós uma tarefa suprema - o Self ou Si-mesmo -, que é a de manter todo o nosso sistema psíquico unido e reedificado toda vez que ele correr perigo de se fragmentar ou desequilibrar.

Uma vez que está impressa em nós a imago Dei, estamos em contato com essa "totalidade" ou "poder superior" e, portanto, sua presença atrai o ponteiro da "bússola interior", que nos indica o porto seguro da Vida Providencial. Quando seguramos as rédeas da própria existência, assenhoreando-nos dela, vivemos tranquilos e felizes e não mais necessitamos impor, comandar e controlar os outros, nem utilizar compulsoriamente a aprovação e os aplausos alheios para decidir ou agir, porquanto estamos firmados em nosso mais profundo "senso de identidade" com a Consciência Sagrada.

Não é egoísmo abrigar na alma uma sensação de aceitação genuína e profunda de nós mesmos, nutrindo uma autêntica autoestima e uma alegria que resultam num sentimento íntimo de vivacidade e contentamento. Essas ideias podem de início nos incomodar ou surpreender, já que podemos associá-las à vaidade ou ao orgulho. Por sinal, escreveu o apóstolo Mateus: "O Reino dos Céus é semelhante a um tesouro escondido no campo; um homem o acha e torna a esconder e, na sua alegria, vai, vende tudo o que possui e compra aquele campo." (5)

É muito bom vivenciar a alegria de encontrar o "tesouro escondido no campo da própria alma", isto é, reconhecer o Si-mesmo, a mais profunda realidade - a "vontade de Deus", que sustenta, resguarda e inspira o ser humano a progredir de modo natural e sensato.

Há muitas formas de escravidão. Não devemos nos escravizar a nada nem a nenhuma pessoa, pois o grau de alegria é proporcional ao grau de liberdade que possuímos.

Dentro de nós existe um universo ilimitado que infelizmente reduzimos ao mundo insignificante de nossos interesses mesquinhos. Quando nos identificarmos com o Criador, a alegria passará a ser presença marcante em toda e qualquer de nossas atitudes.

1. Questão 829 - Há homens que sejam, por natureza, destinados a ser propriedade de outros homens?

"Toda sujeição absoluta de um homem a outro homem é contrária à lei de Deus. A escravidão é um abuso da força e desaparecerá com o progresso, como desaparecerão, pouco a pouco, todos os abusos."

Nota - A lei humana que consagra a escravidão é uma lei antinatural, visto que assemelha o homem ao animal e o degrada moral e fisicamente.

2. Romanos, 12:2

3. Questão 128 de "O Livro dos Espíritos"

4. Questões 129 e 130 de "O Livro dos Espíritos"

5. Mateus , 13:44

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