quinta-feira, 8 de abril de 2021

Sabedoria - Parte 1

Livro: Os Prazeres da Alma 
Autor Espiritual: Hammed

Capítulo 3

Ter sabedoria consiste em possuir uma "leitura de mundo" voltada para o senso íntimo - capacidade de receber informações sobre as mudanças no meio (externo ou interno) e de a elas interagir, exprimindo atos e atitudes únicos e originais.

O sábio, por ter plena consciência da impossibilidade de possuir o conhecimento absoluto, reconhece com humildade as muitas coisas que ignora, não incorrendo na presunção de tudo saber ou conhecer. Aliás, o orgulho inibe a compreensão de tudo aquilo que se alcança com humildade.

A pessoa sábia não se opõe à ação da Natureza, mas entra em sintonia e atua juntamente com ela. "Todas as leis da Natureza são leis divinas, porque Deus é o Autor de todas as coisas" (1).

Quando desprezamos nossa fonte de sabedoria interior (propriedade inata de todos nós), rejeitamos parte importante de nossa realidade interna, porquanto as leis de Deus estão escritas na consciência (2). A expressão consciência, aqui utilizada pelos Guias da Humanidade, tem a mesma significação de Espírito, pois, se as leis divinas estivessem simplesmente na área consciencial do ego - sensações, percepções, emoções e motivações -, não teríamos maiores dificuldades de compreendê-las ou aplicá-las. Ao ignorarmos o potencial em nossa intimidade, nosso campo de visão existencial fica obscuro e distorcido e não conseguimos nos firmar perante a existência.

O sábio tem plena certeza de que é soberano e escravo do próprio destino; senhor supremo de seus atos e prisioneiro de seus efeitos compulsórios.

Os grandes educadores da humanidade são considerados homens de sabedoria. São eles que caminham à frente no tempo e no espaço, revelando-nos capacidades e habilidades ocultas, que sempre existiram dentro de nós. À custa de muito trabalho e enormes sacrifícios, os "pioneiros sapienciais" utilizavam como eixo principal de suas lições a importância do reino interior, ensinando-nos com notável propriedade que "o mundo a ser desvendado está no âmago da criatura", que o "divino está no humano", uma vez que tudo que há em nós é sagrado. Por essa razão, hoje  entendemos perfeitamente as palavras de Jesus Cristo: "O Reino de Deus está no meio de vós" (3).

A partir disso, compreendemos que o modo de ensinar de todos os grandes mestres baseava-se fundamentalmente na educação como método de percepção e, ao mesmo tempo, de desenvolvimento dos talentos inatos - a vocação peculiar e espontânea existente dentro do próprio homem. O verbo educar vem do latim educare e significa "ação de lançar para fora, colocar à mostra, tirar de dentro".

Educar não é obrigar ou constranger alguém a aprender por meio de força ou pressão moral, mas exprimir e liberar a potencialidade do ser. Também não é imprimir, porém fazer brotar ou emergir os dons subjacentes. Menos ainda seria formar, impondo uma fôrma; ao contrário, seria desentranhar do mais fundo da criatura o seu próprio modo de ser.

A conquista da sabedoria proporciona aos homens flexibilidade suficiente para que não mantenham a mente fechada a novas informações e não vivam dentro de regras e padrões sociais rígidos.

Os sábios entendem que o bom senso, unido a uma consciência reflexiva voltada para o "conhecimento original", deve anteceder a toda decisão, opção ou solução.

Eles não deixam que instruções, classificações e análises acumuladas no decurso dos tempos sufoquem a "sabedoria primitiva" contida na própria alma. A propósito, as regras injustas da sociedade e as religiões fundamentalistas, presas a modelos rigorosos e a severos padrões de pensamento, funcionam como autênticos entraves à sabedoria interior.

Os sábios aprenderam que, muitas vezes, os "procedimentos e hábitos" de uma época repercutem de tal forma sobre as pessoas, que elas passam a vê-los, primeiramente, como "normas ou regras sociais"; depois, ao longo dos séculos, como "valores e condutas morais", chegando, por fim, ao ponto de considerá-los como "leis ou ordens divinas".

O Criador não estabeleceu leis que, em outras épocas, Ele próprio teria proibido. Seria bom lembrarmos que as concepções e ideias sofrem interferência dos fatores tempo e espaço. As pessoas diferem em seus conceitos sobre os costumes - modo de pensar e agir característico de indivíduo, grupo social, povo, nação -, porque eles são constantemente reavaliados e renovados através do tempo e das sociedades humanas.

"Deus não pode se enganar. Os homens é que são obrigados a mudar suas leis, porque são imperfeitas. As leis de Deus são perfeitas. A harmonia que rege o universo material e o universo moral está fundada sobre as leis que Deus estabeleceu para toda a eternidade" (4).

As leis elitistas são transitórias porque foram criadas pelo prestígio de um grupo social ou pelo domínio de um povo ou nação em determinada época. Todavia, são constantes e imutáveis "as leis que Deus estabeleceu para toda a eternidade".

Ter sabedoria consiste em possuir uma "leitura de mundo" voltada para o senso íntimo - capacidade de receber informações sobre as mudanças no meio (externo ou interno) e de a elas interagir, exprimindo atos e atitudes únicos e originais.

Cada indivíduo possui um canal sapiencial que pode entrar em sintonia com a fonte abundante da sabedoria universal. O sábio tem a capacidade de se autogovernar, uma vez que, ao penetrar na essência das coisas, analisa-as e sintetiza-as sem prejulgamentos, utilizando somente a própria coerência e a autenticidade provenientes de seu reino interior.

1. Questão 617 de "O Livro dos Espíritos"

2. Questão 621 de "O Livro dos Espíritos"

3. Lucas, 17:21

4. Questão 616 - Deus prescreveu aos homens, em uma época, o que lhes proibiu em outra?

"Deus não pode se enganar. Os homens é que são obrigados a mudar suas leis, porque são imperfeitas. As leis de Deus são perfeitas. A harmonia que rege o universo material e o universo moral está fundada sobre as leis que Deus estabeleceu para toda a eternidade."

 

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